Monday, July 14, 2008

CRISIS

CRISIS
“Quando escrito em chinês a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade.”
John Fitzgerald Kennedy
A crise, das bravas, está aí. De tanto falar nela, agora, ei-la. Já dizia o outro que o pensamento atrai. Agora que ela está aí, o jeito é aprender a conviver com ela.
Não adianta protestar. Não há como resolver. Tecnicamente, nem é um problema. Diz quem sabe que um problema tem sempre uma solução; não havendo uma solução, ou não estando a solução ao nosso alcance, não se está perante um problema; está-se ante um factor restritivo contingencial. E se não dá para resolver, nem remover, o jeito é mesmo aprender a conviver com.
Mas conviver com a crise, como? Como, se a saca de arroz (do mais barato da praça) que era vendida a 1.000$00 é agora vendida a 1.500$00? Como, se a lata de 1,8Kg de leite em pó integral (do mais barato) custa agora 1.227$00? Como se o esparguete que o retalhista oferecia a 65$00 o pacote, é agora debitado a 100$00? Como, se o litro de óleo FULA que era vendido a 90$00, é agora vendido a 230$00? Feitas as contas, o preço do arroz aumentou 50%; o preço do leite estoirou; o esparguete (base da refeição dos menos abonados) aumentou mais de 50%; o óleo mais do que duplicou. Isso para não falar no pão de 6$00 que já vinha minguando e que agora parece que vai desaparecer de vez; do azeite de tempero e do azeite de oliveira, cujos preços tiveram uma apreciação próxima da do arroz. E sente-se que isto é só e apenas o começo. Como conviver então com esta mangra que fez (e segue fazendo) encolher o nosso poder de compra?
Como fazer se dantes, um cabaz com 02 litros de óleo, 01 litro de azeite de tempero, 01 litro de azeite de oliveira, uma saca de arroz, 02 latas de leite e 05 pacotes de esparguete, custava 3.325$00 e agora custa 5.560$00? Um aumento brutal, da ordem dos 67%!!!! Como fazer, se os preços estão aí dobrando a curva da duplicação e os recursos não têm por onde expandir-se?
Se imaginarmos que, por absurdo (embora não seja tão absurdo quanto isso), o cabaz de compras utilizado para calcular a inflação fosse à base dos óleos gordos, do arroz, do leite e do esparguete, estaríamos hoje, NO INÍCIO DA CRISE, com uma inflação de 67%!!! Volta a questão, que fazer diante de uma tal situação?
É impensável que os salários acompanhem esta louca aceleração dos preços; não temos qualquer poder de intervenção sobre as varáveis que compõem os preços; temos que continuar a nos alimentarmos para podermos seguir produzindo (e para não perecermos, também); há que pagar a renda e/ou as prestações ao banco; é preciso manter os miúdos na escola; não há como dispensar os medicamentos (hoje que o ramédi di terra custa mais do que a droga do laboratório); há que continuar a ir e a vir (em carro próprio ou em transporte público); há que continuar a ajudar os progenitores ou a prole (ainda sem auto-suficiência), conforme os casos; da nudez estão cuidando os chineses, mas até quando? Há um mundo de certezas e um mar de inquietações. E a certeza número um é a de que a vida continua. Precisa continuar. Mas que fazer?
DIVAIR CHRIST (divair_christ@hotmail.com) desenhou uma planilha (PLANEJAMENTO FINANCEIRO) que pode ajudar nesta crise. Mas atenção: só ajudará, verdadeiramente, quem tem recursos e os esteve a administrar sem planeamento. Que para quem já estava seguindo as coisas na ponta do lápis…
A planilha oferece uma maneira simples, prática e poderosa de administrar um orçamento. O controlo de ganhos e despesas permite que, para além de se organizar as finanças, se possa também administrar os limites de gastos e ver para onde estão indo as economias, através de gráficos e de um relatório sintético. Ela é destinada a quantos tenham um objectivo a alcançar e pretendam planear e administrar a sua vida financeira. Pode conseguir-se o ficheiro com o autor, a título gracioso. Querendo, eu posso também repassar o ficheiro. É só pedir para ludgero.correia@govcv.gov.cv . Será um prazer poder contribuir, ainda que minimamente, na luta para debelar a crise.
Poderá ser doloroso passar do arroz topo de gama para o arroz comum, mas essa poderá ser uma das vias. Aliás, diz quem sabe, não há bom e mau arroz; há bom e mau cozinheiro. A utilização dos óleos gordos poderá passar a obedecer a outros critérios: não usar o azeite de oliveira lá onde o óleo ou o azeite de tempero possam ser usados sem afectar a saúde. Etc.. Aliás, as palavras-chaves, no momento, devem ser CRITÉRIO e EQUILÍBRIO: CRITÉRIO nas decisões; EQUILÍBRIO na administração dos recursos.
Mas, como dizia atrás, o PLANEJAMENTO FINANCEIRO de Divair Christ pouco ou nada ajudará a quem já andava tendo aulas com as cabras, aprendendo a comer pedras para não perecer. Essas pessoas, esses deserdados da sorte, têm de ser socorridas. Alguém tem de ir em seu socorro. O Estado? Certamente. As grandes e médias empresas? Seria um novo destino para a canalização de parte dos seus ganhos. Estariam assumindo a sua responsabilidade social e estariam se vacinando contra o surgimento de novos Capitães Ambrósios (hoje, certamente, mais decididos, mais sofisticados e, eventualmente, graduados a Coronel). Todos nós? Muito possivelmente. A solidariedade vai ter de voltar a funcionar: que ninguém se vai sentir bem (a não ser que seja um monstro), sentindo-se farto caldêron bafado e sabendo-se rodeado de gente que teve que fazer os filhos irem para a cama com a barriga roncando de fome.
Como operacionalisar a solidariedade? Cada um de nós, no momento certo, saberá o que lhe compete fazer. Dará ou fará o que pode. Que quem dá o que pode, a mais não é obrigado, lá diz o ditado. As empresas, pela sua vocação, conhecem bem o terreno que pisam. Saberão encontrar interlocutores que os ajudarão a dar o melhor encaminhamento para os recursos que puderem disponibilizar. O Estado…
O Estado, como cada um de nós, tem de fazer uma criteriosa gestão dos recursos: sabe que tem de melhorar a qualidade das suas despesas, que tem de investir correctamente e adentro de um plano e tem consciência de que tem de libertar recursos para socorrer os mais carenciados. Terá de ser, como todos nós, muito criativo. Terá de inovar no que à gestão das ajudas alimentares diz respeito. Uma intervenção pela via da fiscalidade não resolveria a questão, tendo em vista que a carga fiscal que onera os géneros de primeiríssima necessidade não é de molde a que se possa conseguir alguma coisa agindo sobre ela. Ademais, uma tal solução atingiria a todos, indiscriminadamente, e não é esse o objectivo que se persegue. As soluções terão de ser mais radicais e visando alvos bem identificados: os cidadãos de baixa renda. Senhas-de-consumo, cheque-alimentação, cestas básicas, que sei eu? O que eu espero (e os mais desfavorecidos anelam) é que os cidadãos de baixa renda mantenham o acesso às fontes de proteínas, de gordura e de hidratos de carbono, absolutamente indispensáveis a uma qualidade de vida minimamente suportável, que é como quem diz, que os mantenha longe das urgências hospitalares.
Crise é crise. E nessas horas é preciso ir fundo e em tempo oportuno. Que se a situação ainda exibe uma máscara de normalidade (está-se, porventura, colhendo os frutos dos equilíbrios conquistados, a duras penas, nos primeiros anos deste século) vem aí o novo ano com o seu cortejo de problemas, novos e renovados. Fevereiro pode ser o mês em que a crise nos explodirá nas mãos, se nada for feito AGORA.
Que cada um faça a sua parte. E quem saiba rezar que ore ao seu Deus para que dê ao mundo boas safras de cereais; para que aconselhe os americanos a começarem a usar o seu stock de reserva de combustíveis fósseis; para que elimine os riscos decorrentes da utilização da energia atómica; para que faça os capitalistas deixarem os cientistas ultimarem as pesquisas sobre a «água pesada»; para que acalme a gula e a sofreguidão dos especuladores; e para que ilumine e oriente as decisões dos nossos políticos.

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