Tuesday, January 29, 2008

BANCO DE RESERVAS

“Não existe um homem totalmente inútil; em último caso, serve como mau exemplo.” Wilson Sanches

Para muitos responsáveis do nível táctico, este seria o melhor Governo no Mundo se disponibilizasse, para cada unidade orgânica, os efectivos de que ela necessita para dar conta da sua missão mais 50% para o banco de reservas.
Todo mundo grita que tem falta de pessoal. Quando o Governo, vencido pelo cansaço, atende ao choro birrento, abrindo excepções ao congelamento das admissões ditadas pela Lei do Orçamento, lá vem o homem (ou a mulher) dizer que não tem mobiliário para acomodar os agentes recrutados na fenda aberta na muralha do congelamento das admissões. Fornecido o mobiliário, lá volta o nosso bebé chorão apelando por fundos para fazer as OBRAS necessárias para depositar o MOBILIÁRIO adquirido e albergar os AGENTES recrutados na sequência do descongelamento.
E assim vai a gestão dos efectivos da Administração Pública, dos materiais e do património do Estado neste país em vias de desenvolvimento, enquanto Cristina Fontes e sua equipa se esfalfam para conferir alguma coerência à organização e ao funcionamento do Estado e da Administração Pública.
Aqui a questão é clara: ou se dá espaço e tempo para a Reforma do Estado e da Administração Pública (e, enquanto isso, os chorões sejam açaimados) ou segue-se dando de mamar a quantos choram (com evidente e negativa repercussão no processo de reforma).
Mas uma coisa tem ficar desde logo esclarecida: onze no campo e cinco no banco de reservas, só no futebol. Não se pode aceitar que ninguém – não importa o peso que tenha no partido do Governo – queira ter os efectivos de que precisa mais um banco de suplentes, com a função de suprir os espaços deixados pelos titulares quando vão de férias, adoecem, vão para uma acção de formação ou estejam, de alguma forma, impedidos.
Nas empresas e nos serviços públicos NORMAIS há um quadro de pessoal que é incentivado a dar o seu melhor em prol da eficácia e da efectividade da organização. Quando alguém adoece, vai de férias, está em formação ou sob qualquer impedimento legal, aqueles que ficam se desdobram, cobrindo a eventual lacuna deixada pela ausência do colega. Já que parece que é o futebol que faz alguma confusão à mente desses «gestores» de plantel, porque não observar a mesma modalidade quando as equipas já estão em campo e, por um pequeno momento ou para o resto do jogo, ficam reduzidas a dez, nove ou oito jogadores? Se se perde um central (ou se o central, por qualquer razão não puder estar no seu lugar durante um ataque adversário) o que acontece? Um lateral, um trinco ou mesmo o Lizandro Lopez ou o Liedson, avança e tapa o buraco. Idem aspas na falta de um lateral, de um ponta-de-lança, de um extremo, etc. A solução é sempre nesse sentido: os jogadores deslocam-se, desdobram-se e continuam opondo-se ao adversário, defendendo o resultado (se este for satisfatório) ou buscando a vitória, com unhas e dentes.
Na União Europeia (e no Resto do Mundo, também) é assim que as coisas se processam. E se vamos convergir, técnica e normativamente com Bruxelas, o jeito é aprendermos a jogar o nosso jogo sem o banco de reservas. Ademais, qual seria o papel dos reservistas a maior parte do tempo? Olha que se diz por aí que o ÓCIO é a mãe de todos os vícios.
Em defesa da remoção do banco de suplentes dos corredores das Repartições públicas, ainda se pode alegar que há muitos serviços que têm picos e «baixios» sazonais de demandas e que o gozo do grosso das férias pode muito bem ser planeado para os períodos ditos «baixos».
É claro que estou aqui apontando o dedo a quantos sofram de crónica e imaginária falta de pessoal: dirigentes que têm gente suficiente, mas a quem falta um banco de reservas; ou que têm pessoal suficiente, mas onde coabitam agentes sobrecarregados de trabalho e agentes que passam a vida se coçando. É que pode muito bem dar-se o caso de haver, efectivamente, unidades com pessoal insuficiente para as necessidades da organização.
Para o caso dos dirigentes que acham que só conseguem resultados com efectivos suficientes mais um banco de reservas só há duas saídas: (1) ou deixam o cargo (2) ou aprendem a dirigir uma equipa em campo, com os onze jogadores permitidos, sem direito a substituições (como, aliás, acontecia no futebol de 11, num passado recente), só se admitindo a reposição de agentes que se tenham desligado voluntária e definitivamente, se tenham aposentado ou tenham sido desvinculados em consequência de pena expulsiva).
Para o caso dos dirigentes com pessoal suficiente, mas onde há uns sobrecarregados e outros nada fazendo (adornando doiradas prateleiras), sugere-se que se debruce sobre a situação anómala que se vive nas unidades em questão. Pode-se optar por começar por uma aturada análise da distribuição do trabalho na unidade (identificando as tarefas individuais e agrupando as tarefas semelhantes em actividades ou serviços), podendo-se chegar até à montagem de um Quadro de Distribuição do Trabalho (QDT). É claro que, seguindo um tal roteiro, não se deverá descurar a análise do QDT, orientando-se pelos aspectos (quais pontos cardeais) tempo, capacidade profissional, equilíbrio no volume de trabalho e condições exteriores de mudança. O recurso a um especialista seria recomendável.
Para o caso dos que, efectivamente, tenham pessoal insuficiente, a saída será, de facto o recrutamento (que pode ser feito interna ou externamente). Se a via for, de facto, no sentido da convergência com as boas práticas da UE, sugere-se que se identifique correctamente as posições a preencher (quantitativa e qualitativamente), se defina, de forma clara e exaustiva, o perfil dos profissionais a recrutar, se proceda a criteriosa selecção (trazendo para a organização indivíduos muito bons ou com muito bom potencial) e se aposte na integração e no desenvolvimento dos seleccionados, de forma a transformar os tais indivíduos muito bons ou com muito bom potencial em fulanos de desempenho excelente. As organizações não precisam de nada menos que excelente. É que os privados quando demandam a Administração (ou com ela dirimem conflitos), recorrem sempre ao melhor profissional existente no mercado (hoje, cada vez mais global). E se o outro lado do «guichet» não corresponder com um funcionário profissionalmente maduro (alguém com elevada competência técnica e elevada motivação e disponibilidade)… temos o Estado decaindo, decaindo, decaindo…
A parceria especial criou-nos a obrigação de nos esforçarmos denodadamente no sentido de uma convergência técnica e administrativa com a UE. E se temos de convergir, porque não começar pela racionalização das estruturas e pelo redimensionamento do pessoal da Administração Pública? Vamos lá deixar de funcionar atrelados a gente que já experimentou (e gostou) que quanto mais chora mais leite lhe dão? Vamos dizer não aos bancos de reservas? E às prateleiras doiradas… TAMBÉM?

Friday, January 18, 2008

O BOM PASTOR

“Para que o mal triunfe, basta que as pessoas de bem não façam nada.”
Edmund Burke

Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.
Quem conhecer o Novo Testamento já terá identificado este pequeno extracto. É isso mesmo: João 10:11-15.
Apelei para a Sagrada Escritura porque é chegada a hora de os bons pastores se perfilarem para tomar conta do rebanho que Deus depositou neste aprisco reduzido que é o nosso Cabo Verde.
Quando o mercenário não dá conta do recado, pelo menos sozinho, é chegada a vez do pastor. Do bom pastor.
Eu sou do tempo em que o pastor não deixava o seu rebanho entregue unicamente ao mercenário. Tenho excelentes lembranças dos grandes movimentos que foram a JAC (Juventude Agrária Católica), a JEC (Juventude Estudantil Católica), a JOC (Juventude Operária Católica) e a JUVENTUDE NAZARENA.
Reuniões, retiros, passeios, acampamentos e festas onde se falava de Jesus, do próximo e do futuro. Verdadeiras escolas de vida, estufas de espiritualismo, de onde se saía sempre de alma lavada.
Por onde andam os pastores de então? Porque não lhes seguem as pegadas os pastores de hoje? Logo HOJE que as ameaças ao rebanho são bem maiores? Porque deixar os cordeiros entregues exclusivamente ao mercenário? E olhe que é previsível que o mercenário fuja, exactamente porque é mercenário. E está provado que não cuida das ovelhas tão bem quanto o pastor.
Correndo embora o risco de parecer saudosista, não posso deixar de me lambuzar nas lembranças das lições na Escola Paroquial de D. Páscoa (primeiro na Fazenda, depois no Bairro Craveiro Lopes), das reuniões na casa da Carlota de Nho Donnai Vieira e no Salão Paroquial, dos passeios em São Jorge dos Órgãos, dos retiros no Seminário de São José, dos encontros da Acção Católica em São Lourenço dos Órgãos, da grande movimentação juvenil que foi «OS JOVENS ESCOLHEM DEUS» e que coincidiu com o falecimento do Papa João XXIII, dos primeiros namoricos, da primeira comunhão, da comunhão solene… enfim, com a lembrança dos tempos dos pastores que cuidavam das suas ovelhas.
Lembro-me com saudade dos cultos, a que nunca faltava, na Casa de Nhô Tchina Cardoso, perto do local onde foi encaixada a ponte “velha” da Vila Nova, e das intrigas que sofria por parte de um coleguinha que me denunciava junto de Dª Páscoa (da escola paroquiana que frequentava); do acordeão afinado que animava os cultos; dos brindes que recebia; do casal irlandês que liderava a Igreja dos Nazarenos (Senhor Eads e Dona Jess, era como nos referíamos a eles); dos cânticos (transbordando, transbordando…); que sei eu!? Saudades.
Lembro-me, com tristeza, da lamentável cena entre o pároco de S. Nicolau Tolentino e um grupo de Nazarenos que queriam levar os cultos para São Domingos, e onde entrou a famigerada «ganhoma». Lamentável, mas faz parte da nossa história. Não há que escamotear. Antes pelo contrário.
Outro dia, deram-me conta do Reverendo Adérito Ferreira (da Igreja do Nazareno) com um pastor da Igreja dos Adventistas do Sétimo Dia e um sacerdote Católico, vindo da Cidade Velha dentro de uma mesma viatura, em amena cavaqueira. Não é bonito isso?
Mas pode se tornar muito mais bonito que isso, se se juntarem e arquitectarem uma estratégia URGENTE para a salvação do rebanho cabo-verdiano. Principalmente dos cordeiros de Deus confinados neste aprisco do Atlântico. Que nós outros (carneiros velhos e ovelhas de casco duro) cá nos arranjamos. Entendemo-nos com os mercenários ou nos safamos se eles fugirem. Mas os nossos cordeiros são presa fácil neste atoleiro global. É a hora dos bons pastores. E temo-los bons. Conheço o Adérito e o Padre Ima desde sempre; conheci o Padre Ildo no Fórum «A Semana» em São Vicente (e ele me deixou maravilhado); tenho assistido às missas de Sábado rezadas pelo Reverendo João Baptista, se não me falha a memória (e tenho-me deliciado com a sua maneira de comunicar); falaram-me das maravilhas do jovem padre do Tarrafal; e garantiram-me que o Padre Angelino, da paróquia de Nossa Senhora da Graça, afinal, tem muito para dar. E quantos jovens padres e diáconos receberam o Sacramento da Ordem nos últimos 05 anos? E a ideia de Dom Arlindo a respeito dos Diáconos casados? Maravilha!!!
Com um Bispo tão jovem como Dom Arlindo, com o rejuvenescimento do quadro dos sacerdotes e pastores, com o recurso a diáconos «laicos», as Igrejas estão em condições de virem em ajuda dos respectivos rebanhos. Que estão precisando mais do que nunca dos seus pastores. E ou muito me engano ou a Igreja é a única salvação com que os nossos jovens podem contar.
Eu sempre defendi que as Igrejas se devem interessar pelo que se passa no país, que devem ajudar os seus fiéis a evitar que sejam levados na curva pelos mercadores de promessas, que não devem se alhear da política. Mas entendo, também, que não devem tomar partido, que não devem participar da luta pelo poder, que não devem mancomunar-se com a situação, nem fazer oposição política. O posicionamento incondicional ao lado do rebanho, a busca de soluções para o rebanho, a superação espiritual e cultural do rebanho e a própria salvação do rebanho, pelo tempo que consomem, deixam os pastores com a água pelas barbas. Duvido que lhes sobrasse tempo para a luta pelo poder político. A não ser que descurassem o rebanho…
Eu desejo (e conheço um monte de gente com o mesmo desejo) que os pastores se voltem para o seu rebanho. Eu rogo ao rebanho que se esqueça dos deslizes de um passado recente em que alguns pastores, no afã de libertarem as suas ovelhas, se meteram em campanhas políticas (passou, acabou… finito). Eu imploro aos jovens pastores (não importa que credo professem) que se unam no projecto de recuperação e salvação dos cordeiros do seu rebanho. «Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor» (João 10:16) – é como nós, integrantes desta sociedade, gostaríamos que pensassem os pastores das diversas confissões religiosas.
A sociedade não pode continuar dividida como está. Há demasiados problemas cuja solução clama pela união dos cidadãos e que ficam adiados ad aeternum, porque a camisa de força dos partidos políticos impede que os militantes enverguem, vez por outra, a camisola da cidadania. As drogas, as DST, o álcool e as quadrilhas mantêm a nossa juventude sitiada, com péssimas perspectivas de futuro. Os pais - trabalhando ambos fora de casa, para garantirem o pão e a escola dos filhos - vêem-se impotentes diante da força dos sitiantes. Diante disso tudo, o sinal de esperança por que se espera é o som da trombeta anunciando a carga da cavalaria dos pastores do rebanho de Deus, vindo em salvação dos cordeiros de Deus. Que se nos aniquilarem hoje os cordeiros… de onde virão os carneiros e as ovelhas de amanhã? Quem governará este país? Recorreremos, novamente, aos portugueses? Ou será a algum canadiano?
Pela reunião do rebanho e pela salvação dos cordeiros, Pastores de todo o país, UNI-VOS! Velhos, novos e renovados pastores, acendei a candeia e alumiai o vosso rebanho.
Mexam-se, enquanto é tempo. Mas mexam-se. Se não for por nós, que seja pelo claro aviso do SENHOR:
«Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho! A espada cairá sobre o seu braço e sobre o seu olho direito; e o seu braço completamente se secará, e o seu olho direito completamente se escurecerá.» Zacarias (11:17)

A verdade, MEU BOM PASTOR, é que nós estamos precisando dos pastores - a quem, um dia, nos confiastes - como do pão para a boca. ALELUIA!

Tuesday, January 15, 2008

DESAFIOS

“Os dias prósperos não vêm ao acaso; são granjeados,como as searas, com muita fadiga e com muitos intervalos de desalento.” Camilo Castelo Branco

País de rendimento médio ou não, os maiores desafios de uma economia moderna são o aumento da produção e da produtividade, a redução dos desperdícios e a conquista de mercados. E, claro, um Governo que governe e pugne pela ética na gestão da coisa pública.


Produzir mais por cada unidade de tempo, produzir mais com menos, produzir soluções e não meros produtos. E cultivar a qualidade total, claro.
Produtos, qualquer um pode disponibilizar para os mercados. O problema é que hoje o cliente não se contenta com um mero produto. Quer é soluções para o problema que o apoquenta. E se se quer manter o cliente satisfeito, a saída é manter-se atento e facultar-lhe a solução do seu «problema», com qualidade e em tempo oportuno. E atenção: a qualidade não se injecta ao produto acabado que se vai disponibilizar. Ela tem que nortear o pensamento do produtor, desde a concepção até à embalagem. «Satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta» vai ter de deixar de ser mero slogan para passar a ser o princípio norteador dos mercadores de soluções.


Produzir com qualidade e disponibilizar a solução no prazo negociado e a preço competitivo é um desafio e peras. Implica tolerância ZERO em relação aos desperdícios. De tempo, de material, de dinheiro, de credibilidade. E aqui desperdício é toda a actividade que consome recursos e não gera valor. O retrabalho e a iteração, a deficiente utilização dos materiais, as aquisições fora de portas de materiais e equipamentos que existem localmente, são ineficiências que redundam em desperdícios de tempo, material, dinheiro. E que dizer das encomendas atendidas e que depois nos batem à porta como devoluções, por não terem satisfeito as especificações do cliente? Desperdícios. Desbaratou-se, para além de outras coisas, sobretudo credibilidade.
Produzir com qualidade implica ter administradores e gerentes de primeiro nível; mão-de-obra qualificada; tecnologias de ponta; relações laborais saudáveis; materiais e instruções disponibilizados em tempo oportuno; correcta administração de tempos e ritmos.
Administradores que sabem o que querem e para onde vão e que sejam capazes de administrar os estímulos certos, em cada momento, para a motivação dos seus operários.
Mão-de-obra qualificada, comungando da linguagem dos encarregados, supervisores e gerentes e, sobretudo, com completa noção do que seja desperdício e do como evitá-lo. O engajamento com os objectivos e com os compromissos da organização é condição essencial ao sucesso. O administrador, gerente ou encarregado que perder isso de vista está cometendo um pecado capital em matéria de cumprimento de prazos e da qualidade total.
A existência de organizações sindicais que representem condignamente os trabalhadores, mas que não percam de vista que não podem sufocar o empregador, sob pena de este (mais os empregos) desaparecer. Ao cabo e ao resto, neste mundo competitivo, patrões e empregados devem assumir-se como parceiros na luta por um lugar ao sol para o produto que garante a subsistência do trabalhador e paga os luxos do patrão.
Entre nós, o Conselho de Concertação Social tem de deixar de ser um mero espaço para discussão de salários para passar a ser um verdadeiro espaço de concertação, onde podem ser gerados pactos fundamentais para a motivação dos trabalhadores e para a sobrevivência dos empregadores. Durante muito tempo (demasiado tempo) o empenho do trabalhador foi estimulado pelo chicote. Passado esse tempo de má memória, os patrões recorreram a esquemas científicos para cálculo de salários «justos» e puseram de pé interessantes sistemas de benefícios e incentivos. Nos dias que correm, diante do excesso da procura de emprego em relação à oferta de postos de trabalho, na vigência de legislação que flexibiliza as relações de trabalho e perante a má influência que foi a deserção do Estado de Bem-estar Social, a tendência é o estabelecimento de, no mínimo, iníquas relações laborais. Em tal cenário, a recuperação do Conselho de Concertação Social como espaço para negociação de pactos para a melhoria da produção, da produtividade e da qualidade, com ganhos reais para ambas as partes, seria uma atitude inteligente.


A conquista de mercados é uma exigência incontornável. O mercado interno é diminuto, os investimentos, seja para a indústria, seja para a prestação de serviços com qualidade, são avultados. A saída para a rentabilização dos investimentos e para a sobrevivência da empresa passa, necessariamente, pela conquista de outros mercados. Mercados onde outros fornecedores já estão instalados, os quais, por isso, têm melhor conhecimento dos desejos e das exigências dos consumidores. Como ganhar espaço nesses mercados? Como competir, por vezes, com produtores locais?
Salta à vista que a nossa opção terá de ser por conquistar mercados onde poderemos contar com vantagens à partida. E nesse lote podem ser incluídos os países que nos dão facilidades no quadro do SGP (Sistema Generalizado de Preferências), a União Europeia (no quadro do Acordo de Cotonou), os Estados Unidos da América no quadro da AGOA (African Grouth and Opportunity Act), os países da CEDEAO/ECOWAS (Comunidade dos Estados da África do Oeste) e o que se puder conseguir no seio da CPLP (Comunidade doa Países de Língua Portuguesa), que neste particular, não chove nem molha.
Temos explorado as vantagens comerciais desses espaços «abertos»? Não tenho dados que permitam tecer comentários. Mas, assim, de forma empírica, parece-me que esses nichos ainda estão por explorar. Um pouco a contracorrente do pensamento nacional, boto muita fé na CEDEAO. Com uma liderança efectiva e estruturada a preceito, é um vasto mercado a considerar. Um mercado onde os recursos financeiros, que não abundam, podem ser, de certa forma, contrabalançados por um grau menor de exigências.


Aumento da produção e da produtividade, redução dos desperdícios e maior efectividade (que a Administração não pode segmentar o mercado) são desafios que também se põem à nossa AP, mormente agora que há o compromisso de convergência em normas, práticas e políticas com o primeiro Mundo, representado pela União Europeia.
Em matéria de governar estamos conversados. Como dizem as velhas raposas da política mineira, governar se resume a quatro coisas: nomear, demitir, prender e soltar. Só com isso – feito em tempo oportuno – o governante vai longe.
No que à ética diz respeito, e para fechar, cito Lúcia Hipólito, cientista política brasileira, autora de «POR DENTRO DO GOVERNO LULA»: ACREDITAR QUE SÓ UM POUQUINHO DE CORRUPÇÃO NÃO TEM IMPORTÂNCIA ÉH ACREDITAR NA EXISTÊNCIA DE SÓ UM POUQUINHO DE GRAVIDEZ.

Monday, January 7, 2008

001: LICENÇA PARA SER MÃE

Comprou um carro e quer sair por aí a exibir a máquina? Tem, antes, de obter a competente licença de conduzir. Carta de condução entre nós e «permis de conduire» na língua de Victor Hugo.
Quer construir uma casa? Já tem terreno, projecto de arquitectura e cálculo de estabilidade aprovados, dinheiro para os materiais e para a mão-de-obra? Não tem licença para construir!? Bom… Vai ter que obter licença para construir. Senão, nada feito.
Tem um cão e quere-lo circulando livremente na via pública? Tem de ter uma licença.
Quer organizar uma manifestação? Criar uma associação ou um partido político? Pôr de pé um sindicato? Apesar de a lei garantir a liberdade de associação e reunião, vai precisar de uma licença.
Quer ser importador? Exportador? Abrir uma lojeca? Tem de, antes, obter uma licença.
Quer enterrar um familiar falecido? Tem de obter uma licença.
Mesmo James Bond, o famoso agente secreto ao serviço de Sua Majestade a Rainha da Inglaterra, precisou de uma licença especial para dar cabal conta das suas missões. A famosa 007 – Licença para matar.
Quer ser mãe? Vá lá! Copula, menina! Se fores fértil, nove meses depois estás mãe. Não precisas de licença de ninguém.
Entendo perfeitamente que um fulano não possa sair por aí ao volante de uma possante bomba sem estar devidamente habilitado. Tem de demonstrar que conhece as regras do trânsito, que compreende o essencial dos fenómenos que se manifestam no seu veículo e na estrada, e que é responsável, antes de receber a devida permissão ou licença de conduzir.
Compreendo também que um fulano, lá por ter dinheiro, não pode sair por aí plantando imóveis. Tem de submeter-se aos planos e às regras e obter a competente licença.
Respeito a norma que obriga a que os donos dos cães, para os terem a circular livremente na via pública, devam obter a licença exigida pela postura municipal.
Dá para perceber que algumas autoridades ainda pensem que - apesar das liberdades garantidas pela Constituição e por disposições contidas em leis ordinárias - os cidadãos precisam obter licença das autoridades administrativas. Querem ter mão nas manifestações sóciais.
A actividade de importação de bens e serviços, mormente em um país onde o Estado decidiu que é Ele que deve angariar divisas para o pagamento das importações, não pode surpreender as autoridades que gerem o comércio externo. Compreende-se, por isso, que seja preciso licenciar e cadastrar os operadores.
Nem mesmo o cemitério pode ficar por aí aberto a receber cadáveres ao bel-prazer de cada um. Seria muito fácil aos matadores fazerem desaparecer o corpo de delito.
Licença para ser mãe???? Deve estar doido! Diante de uma equação tão simples (H/M+9=BB) para quê uma licença? Fêmea fértil (nem precisa ser saudável, maior de idade ou responsável) e macho funcional (não importa se portador de doenças sexualmente transmissíveis, se educado ou responsável) copulam e mandam ver. Deus que permitiu mais uma boca, dará mais um bocado de comida, parece ser o lema dos reprodutores irresponsáveis.
E a criança que vem ao mundo, 40 semanas depois da cópula? Quem assume a sua educação? Quem cuidará da sua saúde (física e mental)? Quem lhe mostrará os valores para uma integração plena na sociedade? Quem a protegerá do assédio do traficante, na sua sanha de aliciar mais um consumidor para o seu negócio? Quem a orientará quando o seu corpo começar a ter sensações novas, avassaladoras e que ela não compreende? Quem consultará quando sentir necessidade de entabular uma relação mais apertada com o sexo oposto? Quem a velará naquelas noites de obstipação, febre, gripe, sarampo, varicela, cachumba? Esses cuidados todos não sugerem a necessidade de aprovação em um cursinho específico para quem quisesse ser mãe? (Poderia referir-me também aos progenitores masculinos. Mas esses não me preocupam tanto. Está mais que provado que uma casa onde impera uma boa mãe é, com certeza, um LAR; e que sem Ela é um grande NADA).
Ser mãe deve ser a função mais complexa com que os seres humanos alguma vez se depararam. Para comandar um exército, o Comandante-em-Chefe conta com todo um estado-maior; para governar um país, o Chefe do Governo conta com um bom corpo de ministros e toda a administração pública, mais o controlo da oposição; para gerir uma empresa, o CEO conta com todo o Conselho de Administração, Directores, Gerentes intermédios e o controlo dos accionistas; para dirigir uma SAD, o presidente conta com toda uma estrutura que vem de trás e que o apoia. E para ser mãe? Principalmente, sendo marinheira de primeira viagem, quando, nove meses depois da prazerosa noite, lhe cai no regaço, uma criaturinha absolutamente dependente dela para tudo e, ainda por cima, portadora de um código de comunicação absolutamente estranho à menina feita mulher? Que os bebés têm uma forma sui generis de dizer que têm fome, que querem fazer côcô, que têm xixi, que querem arrotar. E a menininha feito mãe tem de se pôr a adivinhar até que comece a matar as charadas. Depois, é a fase da afirmação (do «não porque não» e do «é meu, é meu») e a pré-adolescência. O menino tem de ir à escola e afastar-se do controlo presencial da mamãe. E chegam a puberdade, as tentações, as amizades (com amigos que a mãe nem conhece), os apetites. Tanta coisa e coisas tão complexas. E, pior de tudo, cada caso sendo um caso especial.
Não se exigirá que se monte um curso de graduação, nem uma pós, para uma miúda que queira ser mãe. Mas que as candidatas à maternidade (sejam elas teenagers ou mulheres feitas) precisam saber onde se metem, que devem assumir um compromisso com o filho que vão gerar, que precisam de um feed-back (algo, alguém, autoridade – espiritual ou temporal) ou mesmo de uma aprovação (pourquoi pas?) antes de trazerem mais uma criança para este mundo louco e cheio de perigos, isso precisam.
Preparar as mães cabo-verdianas seria a nossa forma de controlo qualitativo da natalidade. Os chineses fazem o controlo quantitativo (que acaba influenciando positivamente a qualidade); nós podemos nos aventurarmos no controlo da qualidade, que é como quem diz, investir no cabo-verdiano ainda antes da sua concepção. Mães competentes (o ideal seria ter ambos os progenitores preparados para os desafios; mas, fortemente contagiado pelo sucesso das heroínas que são as cabo-verdianas-chefes-de-família-bem-sucedidas, dou-me por satisfeito com uma boa mãe) seriam uma boa base para famílias menos problemáticas, com crianças mais resistentes ao assédio dos traficantes e ao apelo dos gangs, e para uma Nação com futuro.
001 – LICENÇA PARA SER MÃE deve ser o codename das nossas agentes com ORDEM PARA GERAR VIDA. Vão dar de dez a zero aos nossos 009 de trazer por casa. Que esses – os traficantezinhos de merda, que medram nas esquinas dos liceus e à entrada dos estabelecimentos de diversão nocturna – ainda que sem ORDEM PARA MATAR, apostam no ANIQUILAMENTO da nossa juventude, não cuidando sequer da possibilidade de poderem estar prejudicando os próprios filhos, sobrinhos, vizinhos e parentes.
Para a salvaguarda do futuro da nossa sociedade - e se pretendemos mesmo reduzir esses 009 da nossa desgraça à mais ínfima expressão - pode bem ser necessário termos que estabelecer regras para a emissão de licenças 001, LICENÇAS PARA SER MÃE. Que a grande verdade é que aqueles que tiverem o azar de chegar a este vale de lágrimas pela mão de uma fêmea qualquer, sem os mínimos para ser uma boa mãe, (por mais bonita e gostosa que seja) acabam sendo carne para o canhão dos mercadores da morte: suas cobaias, seus clientes, seus lacaios.