Tuesday, July 22, 2008

2011

2011
“A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.”

Martin Luther King Jr.


Desde a revisão pontual da Constituição que ditou a queda do artigo 4º (o tal que consagrava o PAI como a força política dirigente da Sociedade e do Estado) que as eleições têm sido pratos cheios para todos: políticos, jornalistas, comentadores e analistas, ardinas, coladores de cartazes, proprietários de carrinhas, motos, aparelhagem sonora, gráficas etc., etc.. Cada um com os seus motivos.
Na minha óptica, o mais interessante têm sido os páreos que se estabelecem na luta pelo poder.
Em 1991 assistimos a três palpitantes embates eleitorais. O primeiro, em Janeiro, opondo Pires a Veiga. Pires, representando, a um tempo, o passado e a renovação (por ter liderado o processo de abertura política); Veiga representava o futuro, a esperança e a… competência (termo arrastado para a liça, no afã de mobilizar apoios). Veiga vence de goleada. Algumas semanas mais tarde assistimos ao embate Aristides Pereira/Mascarenhas Monteiro. Foi, como se diz na gíria futebolística, um jogo para cumprir o calendário da prova. Nada de novo. Nenhuma surpresa no resultado. E vimos Veiga jogando praticamente sozinho. Em Dezembro do mesmo ano, desta feita para as primeiras eleições locais, estiveram frente a frente Carlos Veiga e Aristides Lima. Nova goleada. O «team» que Lima herdara de Pires apresentou-se francamente desfalcado, sem entrosamento, sem soluções. Falhou nas marcações e, como consequência, sofreu golos de «bola parada», absolutamente inaceitáveis.
Em 1995 (17 de Dezembro) tivemos mais um Veiga/Lima. Foi uma reedição da partida Pires/Veiga de 91. Nova, e surpreendente, goleada. O «team» de Lima, sem veteranos, foi cilindrado. Algumas semanas depois (já em 1996), aconteciam as autárquicas. Foi mais um Veiga/Lima. Mas sem estórias para contar. As eleições presidenciais de 1996 tiveram ainda menos interesse político: Mascarenhas Monteiro submeteu-se a um referendo popular. Veiga e Lima ficaram a descansar.
2000. As coisas voltaram a mexer. Ganharam um renovado interesse. Assistiu-se a um Veiga/Pires super interessante. Veiga, a braços com uma terrível crise interna (no partido, obviamente), fica sem grandes opções para as eleições autárquicas. A maior baixa foi, sem sombras para dúvidas, o ponta-de-lança Jacinto Santos. Deixara cair já (1993) os médios Jorge Fonseca e Eurico Monteiro. A equipa adversária reaparece sob o comando de Pedro Pires que substitui os veteranos por jovens saídos do viveiro do partido (Alcochete?): José Maria Neves, Felisberto Vieira, Basílio Ramos, Júlio Correia, Orlando Sanches, Arnaldo Andrade. Só não cilindra o adversário porque Andrade falhou um golo certo, com a baliza aberta e o guarda-redes batido (diz-se que a bola foi resgatada já dentro da baliza, para lá da linha de golo, e que o árbitro viu tudo, mas fez vista grossa) e Nelson Atanázio meteu a mão à bola, dentro da área, fazendo a equipa ser sancionada com uma grande penalidade. Caso para dizer que o árbitro e os rapazes da Boavista salvaram a equipa de Veiga de uma derrota pesada.
Com a equipa renovada, Pires entrega o comando do grupo ao seu ponta-de-lança José Maria Neves e partiu para um novo campeonato. Veiga faz sensivelmente o mesmo: entregou a equipa a Gualberto do Rosário e inscreveu-se no mesmo concurso que Pires. Do jeito que em 2001 o embate foi entre Gualberto e Zé Maria. Ganha Zé Maria. Sem comentários. Semanas depois, dá-se o embate entre Veiga e Pires. Veiga ganha na primeira parte (primeira volta das presidenciais), mas perde o jogo nos derradeiros 12 (doze) segundos da segunda parte. Alega que o golo de Pires foi marcado com a mão, mas o árbitro, ainda assim, valida o tento. Tento validado, tento contando. Que nem os célebres golos de Maradona (Argentina) e de Vata (Benfica). Mas foi um jogo com história e muitas estórias. Gualberto não está isento de culpas, por se ter precipitado a entregar a organização do jogo a Zé Maria (que vai a eleições a 14/01, conhece os resultados finais a 19/01 e a 01/02 já está empossado, a tempo de organizar a eleição presidencial). Ponto para Zema; falhanço de Tuta; vitória de Pires; derrota de Veiga; eis a história das presidenciais de 2001.
2004. Depois da chicotada psicológica a Gualberto do Rosário, aparece Agostinho Lopes a orientar a (eterna) equipa de Carlos Veiga. No primeiro embate Neves versus Lopes, ganha Lopes. Neves invoca empate técnico, mas o placard desmente-o (Arnaldo Andrade, também). E a vitória de Agostinho só não foi mais folgada porque este não soube negociar o reforço da sua equipa com jogadores que tinham deixado a equipa, mas que estavam desejosos de voltar à alta competição.
2006. Neves versus Lopes. Ganha Neves, desta feita. E numa prova bem mais importante que a outra. Lopes não reforçou a equipa e, pior de tudo, optou pela marcação homem-a-homem, quando a situação requeria a marcação por zona e uma estratégia de equipa. Falhou. Os golos de Neves fizeram-nos recordar os despiques Liedson/Luisão (com o Levezinho fazendo gato-sapato do Gigante). Mas 2006 era (como 2001) ano de duplo embate. Haveria, pois, mais um Neves/Lopes, por detrás de mais um Pires/Veiga. E Neves voltaria a desfeitear Lopes. E Pires voltaria a ganhar de Veiga (este consegue mobilizar os reforços com que Lopes não pôde contar nem em 2004, nem no primeiro embate do ano) mas ainda assim perde. Veiga recorre à Secretaria, mas… sem sucesso. Não houve mão (o árbitro teria que ser parcial para voltar a validar novo golo feito com a mão).
2008. Jorge Santos sucede a Agostinho Lopes. Entrando com toda a força, ganha a José Maria Neves no primeiro embate. Vitória clara. E corolário do reforço operado na equipa (com os tais que estavam ávidos de voltar às luzes da ribalta, mas com quem Agostinho não conseguira chegar a acordo).
2011. Um novo «take» José Maria Neves / Jorge Santos? Quem venceria? Repetir-se-iam os resultados da sequência 2004/2006 ou apenas o resultado de 2008? Ou será um Manuel Inocêncio Sousa / Jorge Santos? E no outro campeonato? Veiga/Neves ou Veiga/Hopffer?
Pelos cenários que se desenham, 2011 será um ano decisivo na história das ilhas e na carreira de alguns políticos.
Por exemplo, se Veiga voltar a perder (seja para Neves, seja para Hopffer) o mais certo é vê-lo arrumando as chuteiras (com o hábito instalado de deixar os PR fazerem dois mandatos, então!)
Outro que poderá ter de tirar o cavalinho da chuva pode ser o Hopffer, se não for, em 2011, o candidato da esquerda. Nessa eventualidade, tanto Veiga como José Maria Neves teriam condições propícias para fazerem dois mandatos, à semelhança de Pires e Mascarenhas. E depois… seria demasiado tarde para Hopffer (para além de que outros valores se terão perfilado).
Outro grande teste tem a ver com a forma como se posicionará o eleitorado de Santiago diante de um Jorge Santos versus Manuel Inocêncio. Os dois candidatos nunca esconderam a relação difícil que mantêm com Santiago. Conseguirão convencer o eleitorado do Santiago profundo? Jorge Santos conseguirá fazer esquecer alguns discursos e posicionamentos do passado (a questão da deslocação da cooperação luxemburguesa para Santa Catarina e o escarcéu que promoveu, por exemplo)? E Inocêncio? Convencerá os santiaguenses a votar por um Governo com Dias como Ministro das Infra-estruturas e Figueiredo Ramos e Cláudio Duarte como principais conselheiros? Pessoalmente, e se se verificasse um tal cenário, votaria em branco (tal qual os maiorais do PAI, residentes na Praia, nas últimas autárquicas).
E vocês? Bela Aguiar? Jorge Querido? Como votariam?

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