Wednesday, April 27, 2011

ARNALDO CARLOS DE VASCONCELOS FRANÇA

"Arnaldo França é o primeiro nome em que se pensa quando se quer garantias de conhecimento, de cientificidade e de seriedade."


Corsino António Fortes


Aduaneiro, poeta, ensaísta, professor e Administrador (vejo-o, enquanto Secretário de Estado das Finanças e Ministro das Finanças, mais como administrador do que verdadeiramente político) ARNALDO CARLOS DE VASCONCELOS FRANÇA é uma das figuras mais respeitadas de Cabo Verde. E não só. Por isso, não espanta a casa cheia, ontem, na Biblioteca Nacional.

Apesar de o horário coincidir com o da primeira-mão de uma das duas meias-finais da Liga dos Campeões – neste país que se verga diante do Desporto-Rei – o Salão da Biblioteca Nacional foi pequena para albergar quantos queriam prestar homenagem ao Dr. Arnaldo França.

Emoção às catadupas. Ninguém conseguiria ficar indiferente às palavras do Professor Doutor José Alberto Carvalho, do Poeta-Maior Corsino Fortes ou do Ministro (ainda consciente da transitoriedade dos cargos) Mário Lúcio. E as declamações de Fátima Bettencourt?! Meu Deus…
Homenagem para ninguém botar defeito: prestada EM VIDA (que é quando as homenagens são realmente válidas); genuína e sentida; e bem representativa.

O toque mágico aconteceu praticamente no fim da sessão: o Dr. Arnaldo França «se confessou» ADUANEIRO. Aclamei, de pé. As Alfândegas atravessam, hoje em dia, a rua da amargura, mas é, de todo em todo, injusto, não sublinhar as figuras ilustres que elas têm dado a Cabo Verde.

ARNALDO «DICO» FRANÇA galgou todos os degraus da carreira do Pessoal Técnico-Aduaneiro e foi o primeiro Director-Geral das Alfândegas do Cabo Verde independente. Não fosse ele próprio ter-se «confessado» aduaneiro, as gerações mais novas ficariam por saber dessa sua vivência e que pode muito bem justificar a excelência das demais valências deste grande Homem.

Um dos maiores poetas cabo-verdianos, de sempre, JORGE Vera Cruz BARBOSA, foi aduaneiro até passar à reforma. Mas ninguém se lembra disso quando se fala dele.

Na instalação da primeira administração do Cabo Verde independente, a participação dos aduaneiros foi, no mínimo, interessante: António OMAR LIMA, no Ministério dos Transportes; Rosendo PIRES FERREIRA, no Ministério da Defesa; NELSON Atanázio SANTOS, no Ministério do Interior; e ERMITÃO BARROS, no Ministério da Coordenação Económica.

Mas mesmo antes da independência nacional, vários foram os aduaneiros que se notabilizaram e foram chamados a emprestar a sua capacidade ao Governo da Província: Arnaldo França (sempre Ele); os irmãos Tomás e Honorato Benrós; Pedro de Sousa Lobo, Luís Barbosa Matos.

A lembrança desses grandes aduaneiros, despertada pela bonita homenagem prestada ao Dr. Arnaldo França - meu professor de Organização Política e Administrativa da Nação (OPAN), meu chefe na Alfª da Praia e na Direcção-Geral das Alfândegas, meu Ministro e, sobretudo, meu ilustre amigo e referência – acabou por, paradoxalmente, me deixar com um travo amargo na boca. É que, salvo eu próprio, nenhum outro aduaneiro, no activo, esteve presente na homenagem. É lamentável. Conquanto acredite que, para o homenageado, os aduaneiros presentes - António Benrós, Rosendo Pires Ferreira, António Sérgio Carvalho, Vicente Andrade e eu próprio – representavam toda uma classe. No activo e na reforma.

QUE DEUS CONTINUE ABENÇOANDO TÃO ILUSTRE CABO-VERDIANO!

Friday, April 15, 2011

OS JOVENS ESCOLHEM DEUS

“A confiança é um valor que precisa ser resgatado. É que não há estabilidade duradoira, não há suficiente engajamento da sociedade civil, nada está garantido, quando falta confiança.”

ADRIANO MOREIRA

Em todas as sociedades humanas coexistem heróis e vilãos. Cabe aos educadores (pais, professores, tutores, líderes, chefes) identificarem uns e outros e apontarem aos espíritos em formação (estudantes e trabalhadores, jovens e menos jovens) os heróis, que é como quem diz, as referências a ter no seu processo de desenvolvimento pessoal, profissional e social. Poder-se-á justificar o desnorte e os problemas de engajamento da juventude com a ausência de firmes referências nacionais? Porque, se excepcionarmos Cabral, sobra muito pouco ou mesmo nada? E poder-se-á assumir um tal quadro como uma fatalidade? Não haverá nada a fazer? Acredito que a sociedade cabo-verdiana não tenha produzido heróis em quantidade e qualidade suficientes para emular a nossa juventude, servir-lhes de referência nas opções de vida e de farol nas encruzilhadas da vida. Mas isso não pode servir de desculpa aos educadores: QUANDO INEXISTE UM BOM EXEMPLO A SER SEGUIDO, SEMPRE SE PODE IDENTIFICAR E APONTAR O «MAU EXEMPLO» A SER ESCONJURADO. Não seria tão positivo como seria de desejar, nem ofereceria caminhos a singrar, mas seria, ainda assim, uma boa maneira de ficar sabendo o que não deve ser feito, o que é condenável e condenado, a partir de exemplos que não devem ser seguidos. Diria, com Wilson Sanches, NÃO EXISTE UM HOMEM TOTALMENTE INÚTIL; EM ÚLTIMO CASO, SERVE COMO MAU EXEMPLO. Se não há heróis a emular, sempre temos «maus exemplos» a não seguir. Mas isso seria solução de último recurso. Porque antes de ter heróis, t(iv)emos Deus: um ser espiritual e infinitamente bom. Omnipotente e omnipresente, por quem todas as coisas foram feitas. Segundo a Sagrada Escritura, nós próprios fomos criados por Ele (à sua imagem e semelhança). Mesmo que não se subscreva integralmente o que se nos ensina na catequese, ainda que se acredite nas teses evolucionistas, ainda assim, resta a certeza de um ente regulador, imparcial, super-protector, sem contudo se imiscuir no nosso livre arbítrio. Porque não escolhê-lo como guia, referência e refúgio quando confrontados com situações adversas da vida? Porque os educadores não O apontam aos jovens como âncora? Na década de 60, dos anos 1900, a Igreja Católica apostou forte em um amplo movimento juvenil sob o slogan OS JOVENS ESCOLHEM DEUS. Pelo menos em Cabo Verde, nunca mais se viu nada parecido: uma ampla movimentação de jovens vestidos de azul e branco (calças e saias em azul marinho e camisas e blusas em branco) assumindo Deus como ponto de partida, companheiro de jornada e ponto de chegada, das suas buscas pessoais. O engajamento dos jovens e educadores, sacerdotes e leigos, era tão grande, que nem o falecimento de sua Santidade o Papa João XXIII, ocorrido por alturas do culminar dos eventos, fez suspender o programa. Estudantes do Seminário de S. José e do Liceu Nacional de Adriano Moreira. Das diversas associações juvenis da Acção Católica (JAC e JEC). De jovens que, embora não estivessem engajados com nenhuma associação juvenil, aderiram, ainda assim, ao movimento e passaram a integrar as organizações preexistentes. Eu próprio - ainda menino de calções, sem idade, portanto, para integrar o movimento - consegui que minha mãe me arranjasse umas calças compridas em azul escuro e uma camisa branca e, pasmem-se!, participei do último desfile. Foi o máximo! Os dias que correm, com a nossa jovem democracia estacada perante uma encruzilhada, com os nossos dirigentes políticos persistindo em dar ora no cravo, ora na ferradura, parecem-me ser o momento azado para que a nossa juventude abrace Deus (o ente regulador da vida no Universo e sempre pronto a premiar o bem que se faz, não importa a quem). Ousaria sugerir aos Bispos (D. Arlindo Furtado e D. Ildo Fortes), ao Superintendente da Igreja do Nazareno, à hierarquia superior das demais Igrejas Cristãs, aos professores e educadores cristãos (associados ou não) uma entente virada para pôr na estrada um amplo movimento de jovens em busca do Deus dos nossos pais e avós. Que OS JOVENS ESCOLHAM DEUS, o alfa e o ômega, o princípio e o fim, a Verdade e a Vida, o Tal que garante que quem n’Ele crê não perece, antes ganha direito à vida eterna. Uma pastoral das duas Dioceses nacionais; uma Declaração/Conclamação das Igrejas Cristãs de Cabo Verde; uma actuação dos Professores Cristãos, suportada pelas Igrejas e pelos poderes públicos (a laicidade do Estado não pode servir de desculpas para a não participação); o importante é focalizar os jovens para uma opção de vida que sempre esteve disponível e que por razões que a própria razão desconhece não é apontada aos jovens com a necessária convicção. Com tantos movimentos por aí, com as redes sociais e meios de comunicação como nunca se teve, porque não catalisar a curiosidade dos jovens para a busca de Deus? Ainda que cada jovem venha a descobrir o «seu» Deus particular e Este venha a ser diferente do Deus dos catequistas, ainda assim, valerá a pena. O Movimento em si; o espírito de grupo; o guia espiritual (necessariamente bom e justo); o culto da verdade e das virtudes; o repúdio dos vícios e da mentira; a consciência de algo universal e intangível, mas, ainda assim, poderoso; a noção de prémio e castigo, com base em regras claras; a forte possibilidade de vida em dimensões ainda por desvendar; enfim, o aprendizado que se consegue com uma experiência dessas justifica todos os investimentos que se mostrarem necessários. Aliás, o equilíbrio da nossa juventude (mens sana, in corpore sano, a máxima de Juvenal) não tem preço. Por isso, meu Bispo, abrace esta ideia. JOVENS, ESCOLHAM DEUS! Garanto-vos que uma tal opção não envolve o risco de se verem discriminados em peixe-fresco/peixe-podre, filhos-de-dentro/filhos-de-fora, macaronésios/africanos, ou confrontados com as truculências, os excessos e as decepções, com que os nossos dirigentes políticos nos brindam amiúde. É uma opção de vida em que a nossa confiança não é nunca, jamais e em tempo algum, traída e que vale a pena experimentar. Em todas as sociedades humanas coexistem heróis e vilãos. Cabe aos educadores (pais, professores, tutores, líderes, chefes) identificarem uns e outros e apontarem aos espíritos em formação (estudantes e trabalhadores, jovens e menos jovens) os heróis, que é como quem diz, as referências a ter no seu processo de desenvolvimento pessoal, profissional e social. Poder-se-á justificar o desnorte e os problemas de engajamento da juventude com a ausência de firmes referências nacionais? Porque, se excepcionarmos Cabral, sobra muito pouco ou mesmo nada? E poder-se-á assumir um tal quadro como uma fatalidade? Não haverá nada a fazer?

Acredito que a sociedade cabo-verdiana não tenha produzido heróis em quantidade e qualidade suficientes para emular a nossa juventude, servir-lhes de referência nas opções de vida e de farol nas encruzilhadas da vida. Mas isso não pode servir de desculpa aos educadores: QUANDO INEXISTE UM BOM EXEMPLO A SER SEGUIDO, SEMPRE SE PODE IDENTIFICAR E APONTAR O «MAU EXEMPLO» A SER ESCONJURADO. Não seria tão positivo como seria de desejar, nem ofereceria caminhos a singrar, mas seria, ainda assim, uma boa maneira de ficar sabendo o que não deve ser feito, o que é condenável e condenado, a partir de exemplos que não devem ser seguidos. Diria, com Wilson Sanches, NÃO EXISTE UM HOMEM TOTALMENTE INÚTIL; EM ÚLTIMO CASO, SERVE COMO MAU EXEMPLO.

Se não há heróis a emular, sempre temos «maus exemplos» a não seguir. Mas isso seria solução de último recurso. Porque antes de ter heróis, t(iv)emos Deus: um ser espiritual e infinitamente bom. Omnipotente e omnipresente, por quem todas as coisas foram feitas. Segundo a Sagrada Escritura, nós próprios fomos criados por Ele (à sua imagem e semelhança). Mesmo que não se subscreva integralmente o que se nos ensina na catequese, ainda que se acredite nas teses evolucionistas, ainda assim, resta a certeza de um ente regulador, imparcial, super-protector, sem contudo se imiscuir no nosso livre arbítrio. Porque não escolhê-lo como guia, referência e refúgio quando confrontados com situações adversas da vida? Porque os educadores não O apontam aos jovens como âncora?

Na década de 60, dos anos 1900, a Igreja Católica apostou forte em um amplo movimento juvenil sob o slogan OS JOVENS ESCOLHEM DEUS. Pelo menos em Cabo Verde, nunca mais se viu nada parecido: uma ampla movimentação de jovens vestidos de azul e branco (calças e saias em azul marinho e camisas e blusas em branco) assumindo Deus como ponto de partida, companheiro de jornada e ponto de chegada, das suas buscas pessoais. O engajamento dos jovens e educadores, sacerdotes e leigos, era tão grande, que nem o falecimento de sua Santidade o Papa João XXIII, ocorrido por alturas do culminar dos eventos, fez suspender o programa. Estudantes do Seminário de S. José e do Liceu Nacional de Adriano Moreira. Das diversas associações juvenis da Acção Católica (JAC e JEC). De jovens que, embora não estivessem engajados com nenhuma associação juvenil, aderiram, ainda assim, ao movimento e passaram a integrar as organizações preexistentes. Eu próprio - ainda menino de calções, sem idade, portanto, para integrar o movimento - consegui que minha mãe me arranjasse umas calças compridas em azul escuro e uma camisa branca e, pasmem-se!, participei do último desfile. Foi o máximo!

Os dias que correm, com a nossa jovem democracia estacada perante uma encruzilhada, com os nossos dirigentes políticos persistindo em dar ora no cravo, ora na ferradura, parecem-me ser o momento azado para que a nossa juventude abrace Deus (o ente regulador da vida no Universo e sempre pronto a premiar o bem que se faz, não importa a quem). Ousaria sugerir aos Bispos (D. Arlindo Furtado e D. Ildo Fortes), ao Superintendente da Igreja do Nazareno, à hierarquia superior das demais Igrejas Cristãs, aos professores e educadores cristãos (associados ou não) uma entente virada para pôr na estrada um amplo movimento de jovens em busca do Deus dos nossos pais e avós. Que OS JOVENS ESCOLHAM DEUS, o alfa e o ômega, o princípio e o fim, a Verdade e a Vida, o Tal que garante que quem n’Ele crê não perece, antes ganha direito à vida eterna. Uma pastoral das duas Dioceses nacionais; uma Declaração/Conclamação das Igrejas Cristãs de Cabo Verde; uma actuação dos Professores Cristãos, suportada pelas Igrejas e pelos poderes públicos (a laicidade do Estado não pode servir de desculpas para a não participação); o importante é focalizar os jovens para uma opção de vida que sempre esteve disponível e que por razões que a própria razão desconhece não é apontada aos jovens com a necessária convicção.

Com tantos movimentos por aí, com as redes sociais e meios de comunicação como nunca se teve, porque não catalisar a curiosidade dos jovens para a busca de Deus? Ainda que cada jovem venha a descobrir o «seu» Deus particular e Este venha a ser diferente do Deus dos catequistas, ainda assim, valerá a pena. O Movimento em si; o espírito de grupo; o guia espiritual (necessariamente bom e justo); o culto da verdade e das virtudes; o repúdio dos vícios e da mentira; a consciência de algo universal e intangível, mas, ainda assim, poderoso; a noção de prémio e castigo, com base em regras claras; a forte possibilidade de vida em dimensões ainda por desvendar; enfim, o aprendizado que se consegue com uma experiência dessas justifica todos os investimentos que se mostrarem necessários. Aliás, o equilíbrio da nossa juventude (mens sana, in corpore sano, a máxima de Juvenal) não tem preço. Por isso, meu Bispo, abrace esta ideia.

JOVENS, ESCOLHAM DEUS!

Garanto-vos que uma tal opção não envolve o risco de se verem discriminados em peixe-fresco/peixe-podre, filhos-de-dentro/filhos-de-fora, macaronésios/africanos, ou confrontados com as truculências, os excessos e as decepções, com que os nossos dirigentes políticos nos brindam amiúde. É uma opção de vida em que a nossa confiança não é nunca, jamais e em tempo algum, traída e que vale a pena experimentar.

Friday, April 8, 2011

EMPREGABILIDADE E… EMPREGO

“Se todos os homens recebessem exactamente o que merecem, ia sobrar muito dinheiro no mundo.”

MILLÔR FERNANDES

Fui abordado, outro dia, por uma senhora que me falou do seu desespero diante do facto de seu filho se ter licenciado em Sociologia, vai para mais de ano, e ainda não ter encontrado um emprego. Confessou que o que mais a deprimia era a forma como o filho se está definhando, sentado a um canto, cansado de distribuir currículos e de coleccionar «deixa que depois entramos em contacto contigo», e continuando a depender dela para tudo: cineminha, programinha com a namorada, prendinha para a namorada no Dia dos Namorados, dinheiro para o autocarro, enfim, para tudo. Já com os olhos rasos de água, a senhora me confrontou com o facto de eu saber muito bem como foi difícil a vida dela, como lutou desde muito nova, fazendo das tripas coração para investir na educação do filho. E para quê? - questionou em novo assomo de desespero. Foi então que reconheci na senhora de faces sulcadas por acentuadas rugas a jovem Graciete que fornecia bolinhos secos em muitas repartições públicas. Lembrei-me dela, ainda menina e moça, distribuindo bolos da patroa e, mais tarde, confeccionando os próprios bolos que vendia. Estava irreconhecível. Tive pena dela e disse-lhe que o que o filho tinha de fazer era continuar a enviar currículos e a insistir na resposta dos potenciais empregadores e que não devia ficar à espera dos telefonemas prometidos, pois esses nunca viriam. É tanta gente correndo atrás do mesmo que, em surgindo uma vaga, o mais certo é ela ser para quem se mostrar mais persistente. Que devia acompanhar o caderno de classificados do jornal A SEMANA e insistir, insistir, sempre; e que se até Junho não encontrasse nada, que preste atenção a eventual concurso para preenchimento de vagas de professores do ensino secundário. E foi aí que ela me perguntou se, de facto, o recém-criado Ministério da Juventude, EMPREGO e Desenvolvimento de Recursos Humanos vinha, de facto, resolver os problemas de jovens na mesma situação que o filho dela. Respondi-lhe que não e tentei justificar a minha resposta. Ela ficou desconsolada, mas tinha de lhe dizer o que pensava do papel de um tal Ministério. Na verdade, o Ministério da jovem Janira é mais um Ministério para (MELHORAR) a Empregabilidade dos jovens e dos cabo-verdianos em geral, do que um Ministério (PARA A CRIAÇÃO) de Emprego para quem quer que seja. O que o Ministério vai fazer é, presumivelmente, investir forte na qualificação dos jovens e demais recursos humanos nacionais. Vai melhorar a empregabilidade dos nossos jovens, vai dar-lhes ferramentas para enfrentarem, com algum sucesso, o mercado de trabalho. Mas não garantirá emprego a ninguém. É uma boa estratégia, mas que precisa ser complementada com o que é de facto estrategicamente relevante no momento - A CRIAÇÃO DE POSTOS (MUITOS POSTOS) DE TRABALHO. E a criação de postos de trabalho não é, certamente, vocação do MJEDRH. Em uma sociedade onde haja postos de trabalho disponíveis, o Ministério poderia ajudar a encontrar um lugar ao Sol mercê das intervenções que, certamente, vai ter em matéria de promoção de acções de formação profissionalizantes, capazes de dotar os nossos jovens de habilidades específicas, que é o que, hoje em dia, abre as portas para o emprego. É que em havendo empregos disponíveis, os jovens que tiverem as devidas qualificações (habilidades conquistadas com a formação profissional de base ou com a formação profissionalizante em complemento ao que se aprendeu na faculdade) estariam na pole position para ganhar a concorrência e garantir seu ganha-pão. Mas em não havendo postos de trabalho disponíveis (como é o caso) os verdadeiros Ministérios do Emprego são o Ministério do Turismo, Indústria (Comércio) e Energia e o das Finanças e do Planeamento. É que para garantir emprego aos jovens (e não só) é preciso, antes de mais, fomentar o surgimento de postos (muitos postos) de trabalho. E se algum departamento governamental pode fazer isso acontecer, esse departamento é o do Humberto Brito, com a colaboração, indispensável, do Ministério da Cristina Duarte. O MJEDRH, neste capítulo, só seria verdadeiramente um Ministério para o Emprego se tivesse funções de coordenação/articulação em relação ao MTIE e ao MFP, a modos de garantir que as intervenções destes Ministérios mantivessem o foco na criação de postos de trabalho. Mas não tem tal vocação, nem é pressuposto que venha a tê-la. E a não ser que esteja na forja a ideia de exportação de mão-de-obra qualificada (para Luanda, Malabo…) o Ministério da Janira tem mais a ver com a melhoria das condições de EMPREGABILIDADE da nossa mão-de-obra do que, verdadeiramente, com a oferta de EMPREGO. Não se vá pedir à jovem Ministra que dê o que, decididamente, não tem. A resolução da problemática do desemprego passa, essencialmente, pelo aumento da oferta de postos de trabalho. E os postos de trabalho só surgem em ambientes em que os negócios dos empregadores se expandem, gerando a necessidade de novos recrutamentos; ou onde surgem novas e pujantes empresas, com grande oferta de postos de trabalho. E uma coisa e outra só acontecem se forem criadas condições óptimas para que as empresas se instalem, cresçam e floresçam. E é assim: se as condições (laborais, fiscais e outras) dos empregadores, hoje presentes no país, melhorarem, seus negócios crescerem, abre-se espaço para o surgimento de novos postos de trabalho; se essas condições se optimizarem e interessarem a novos empreendedores, estes podem optar por investir aqui, gerando postos de trabalho para os nossos jovens e não só. Mas há o reverso da medalha: se as condições se deteriorassem (as mesmas de sempre, somadas a uma eventual baixa de poder de compra nacional), os negócios dos empregadores piorariam e seriam compelidos a reduzir a oferta de postos de trabalho (o que se traduziria em aumento do desemprego); e nenhum novo empreendedor se interessaria pela sorte dos trabalhadores destas ilhas, continuando com a sua prospecção até encontrar um lugar bom para investir, agudizando a crise que se abateu sobre a nossa juventude (uma vez que a esperança de conseguir um emprego diminuiria drasticamente). E nesse particular, o nosso Ministério do Emprego pouco ou nada poderia fazer. Para que os filhos das Gracietes destas ilhas vejam aumentadas as suas chances de emprego aqui nas ilhas, necessário será que, a um tempo, o Ministério da Juventude, EMPREGO e Desenvolvimento de Recursos Humanos se revele capaz de melhorar a empregabilidade da nossa mão-de-obra; o Ministério do Turismo, Indústria (Comércio) e Energia leve a sério o seu papel de atracção de investidores, faça com que haja importantes meios auxiliares de produção a preços competitivos (água, energia, telecomunicações) e crie um ambiente propício ao florescimento de negócios; que o Ministério das Finanças e do Planeamento planeje as coisas com ciência e arte e esgrima a fiscalidade com verdadeira maestria (pode ser decisivo); que o Ministério das Infra-estruturas continue equipando o país com as infra-estruturas económicas necessárias à atracção de investimentos avultados; que o Ministério do Trabalho reveja as leis laborais a modos de participar no esforço de atracção de investidores e de empresas (às vezes, quando pensamos que estamos a ajudar os nossos trabalhadores, estamos, de facto, a barrar o surgimento de novos postos de trabalho). Enfim… manter os actuais postos de trabalho e fomentar o surgimento de novos, é um verdadeiro trabalho de Hércules. E não se pode esperar que o novel MJEDRH faça tudo isso. Tivesse nas suas atribuições a condução das políticas públicas que conduzem a um ambiente gerador de postos de trabalho ou se se situasse na esfera directa da Chefia Política do Governo… Mas não tem tais atribuições, nem está com o Chefe do Governo. E assim sendo, a Janira só tem de se esforçar por ser uma óptima Ministra da Empregabilidade (e do Trabalho, também, já que é importante estar a par das novas tendências para poder competir). À Graciete (e demais mães) só resta pedir ao senhor Primeiro-ministro que indigite, de forma clara e inequívoca, um chefe para a equipa económica do Governo, com metas claras em matéria de COMPETITIVIDADE, CRESCIMENTO e GERAÇÃO DE EMPREGOS. Ah! E dizer-lhe que isso não implica em mais efectivos para a equipa governamental, já de si bastante gorda. Tal papel poderia ser assumido, sem problemas de maior, por ele ou pela Dra. Cristina Duarte.

Friday, April 1, 2011

MEIA MISSA

“Estranha é a química do corpo humano: você põe uma coroa na cabeça de um homem e ele fica logo com o rei na barriga.”

MILLÔR FERNANDES

Fico incomodado e, invariavelmente, com a pulga atrás da orelha, quando alguém me aborda ou me manda recados, dizendo que não sei da missa metade, a propósito de um qualquer tema polémico. E se esse alguém for um político, vinca-se-me a convicção de que a outra metade da missa que, presumivelmente, me quer explicar, será uma versão conveniente para o filantropo, meu protector, que me quer brindar com a missa inteira. Vamos e venhamos, ninguém, mormente políticos, tem assim tanto altruísmo, tanta boa vontade, para perder seu rico tempo a explicar, a quem quer que seja, como é que as coisas são, de facto. A não ser que se queira condicionar a opinião do “escolhido”. A maior parte do tempo estão pretendendo tecer e implantar ninhos atrás de incautas orelhas. Adentro do princípio de que onde há fumaça há, ou houve, fogo, quando vêm a público fortes indícios de uma situação dita irregular ou simplesmente esquisita, é porque aí há coisa. E quando os implicados, bonzinhos, se esforçam por convencer os outros que não sabem da missa metade e deixam escorrer, por vezes subliminarmente, o conteúdo da outra metade da missa, é porque têm culpas no Cartório. E, por coerência, sempre que ocorrem situações do género, prefiro arriscar e preencher as eventuais lacunas de informação com recurso a fontes próprias, à dedução e mesmo a inferências, a aceitar a oferta de esclarecimento que se me oferece. É mais seguro. Mormente quando se tem a pretensão de estar a ajudar outras pessoas a formarem a sua própria opinião. É que se me deixar manipular, estarei permitindo, indirectamente, a manipulação de muito boa gente. E isso não posso eu permitir. A coerência e a lealdade são a minha fonte de legitimidade enquanto cronista. A primeira faz-me, por vezes, incompreendido, principalmente por gente que entende que se se vai «uma vez a Caiscais», já não se pode banhar em outras águas. Por exemplo se declaro o voto em um partido, ou registo a minha confiança em um político, tomam-me como registado nesse partido, seguidor acrítico deste político, e cai o Carmo e a Trindade, porque mantenho atitude, postura e comportamento independente. Que por aqui ainda se confunde lealdade com fidelidade. A lealdade pressupõe adesão voluntária e algum grau de reciprocidade; já a fidelidade (mormente a canina, vigente em ambientes fanatizantes) é de sentido único e pressupõe uma certa ausência de senso crítico. Ora para mim a segunda não serve e a primeira implica seriedade e respeito. À malta jovem que se está iniciando na crónica, no métier de opinionmaker, sugiro que se mantenha atenta. Vão chocar com vigários que acham que só eles sabem rezar o Pai-Nosso; vão se encontrar com senhores da Verdade que acham que lhe devem fornecer a (sua versão da) metade da missa que dizem que os outros desconhecem; vão se confrontar com coladores de rótulos que, em função das tomadas de posição que tiverem, colarão rótulos de conveniência, para confundir a opinião pública. Estejam em paz com a vossa consciência e não se prendam a retornos, a reconhecimentos, que mais não buscam do que condicionar a vossa liberdade de expressão. Pessoalmente, há muito que me vacinei contra o constrangimento que é a necessidade de reconhecimento. O reconhecimento há muito que deixou de ser um barómetro fidedigno. Pelo menos desde que começou a ser manipulado da forma que se faz com a cenoura para fazer o asinino correr. O que me faz correr?! Corro para ficar em posição de fazer com que os meus filhos se sintam orgulhosos de mim. Corro para ser lembrado – quando partir deste vale de lágrimas – ser lembrado como um bom pai. Tudo quanto faço é aferido por esta pretensão megalómana. Estar em paz com a minha consciência; não dobrar a espinha diante dos poderosos; educar e apoiar sempre a minha prole; exercer os meus direitos e cumprir os meus deveres de cidadão; insurgir-me contra abusos de poder; colocar-me ao lado dos mais fracos; e, sobretudo, honrar meu pai e minha mãe (e os Legítimos Superiores, como manda o Decálogo); são a minha medida de felicidade, o caminho que espero me faça ser honrado pelos meus filhos e recordado como um bom pai. Quando soar a minha hora, não vou querer honrarias. Mas partiria feliz sabendo que na minha campa se gravou AQUI JAZ UM BOM PAI.