Monday, August 20, 2007

SAPATOS DE DEFUNTO - obra a ser apresentada por CLÁUDIA CORREIA, no próximo dia 30 de Agosto, pelas 18H15, na Biblioteca Nacional

SAPATOS DE DEFUNTO*
De «Sapatos de Defunto» se pode dizer que era uma obra que se pretendia despretensiosa, mas que acabou assumindo uma dinâmica andragógica que não estava, nem de perto, nem de longe, na intenção do autor.
Organizando estórias recentes de herdeiros que, a breve trecho, se viram na mais chocante miséria, e de «filhos de funcos» que se tornaram «senhores de sobrados», acabou o autor sendo arrastado para uma abordagem que, sem rebuço, se pode catalogar como educativa.
Mas o mais interessante nisso tudo, é o facto de a obra, não contente com a interpelação dos herdeiros, questiona, de forma incisiva, também as fontes das heranças e legados – pais, avós, benfeitores.
Na verdade, depois de SAPATOS DE DEFUNTO, a questão do sucesso das gerações vindouras já não será aquilatada tanto pela condição financeira dos pais, mas, e principalmente, pelo investimento que estes – pobres ou ricos, já não interessa – façam na educação dos seus filhos e na forma como os dotam dos ferramentais necessários para enfrentarem os desafios da vida.
Filho pobre já não será, necessariamente, aquele cujos pais tinham parcos recursos, mas também aquele cujos pais acumularam fortunas, mas se eximiram da responsabilidade de, antes de mais, o prepararem para a vida. Que deixar um bom património, por maior que seja, a uma «troupe» de analfabetos financeiros é como atirar pérolas a porcos. Deixa-se «casa-grande», sobrados, fortunas, que acabam sendo simplesmente delapidados.
Filho rico também já não pode ser identificado à luz dos preceitos de antanho: não é, necessariamente, aquele cujos progenitores tinham recursos avultados, por vezes incomensuráveis, mas todo aquele cujos pais, não importando o tamanho do pecúlio, investiram na sua educação e na sua preparação para a vida. São, regra geral, pessoas treinadas para fazer muito com pouco, gente que não confunde ACTIVO com PASSIVO, «herdeiros de funcos» que, logo logo, se transformam em «senhores de sobrados».
Conhecemos uns e outros, muito bem. Os que fizeram arder as heranças e aqueles que fizeram render o que construíram com o suor do seu rosto. Depois de «SAPATOS DE DEFUNTO» os pais vão sentir-se obrigados a escolher o que querem fazer pela sua prole: deixar-lhes a papinha feita ou dar-lhes as ferramentas para construírem o seu futuro?

Pobre, porque filho de pobre? Não. Pobre, porque educado para ser mero espectador/consumidor.
Rico, porque filho de rico? Não. Rico, porque educado e treinado para ser empreendedor.

* Pelo autor António Ludgero Correia

Tuesday, August 14, 2007

O NOSSO EUSÉBIO

O NOSSO EUSÉBIO
Eu já vi muitos e bons jogadores de futebol. A preto-e-branco no VISOR que antecedia a projecção dos filmes no Cine-Teatro Municipal, nos bons tempos do John Mello; ao vivo nos subúrbios e na Várzea; ao vivo e a cores em Portugal e no Brasil; e a cores, com direito a repetição dos lances e possibilidade de registo para a posteridade, com o advento da TV a cores, do vídeo-cassete, da parabólica.
Pelé, Eusébio, Maradona e Luís Bastos são dos melhores que eu vi.
É inesquecível o duelo Pelé/Faccheti; são inesquecíveis os slalons de Eusébio, coroados, quase sempre, com um golaço, e as humilhações ao bom do Carvalho; o golo de Maradona na copa do Mundo (agora repetido pelo pequeno argentino do Barça); e Nazolino alguma vez se esquecerá da «chupeta» que Luís lhe aplicou no campo do «Braga», quando jogava ele pelo «Chile» e o Luís por «Portugal»?

Cada um deles aproveitou as oportunidades da vida como soube ou pôde:

- Pelé: um dos donos das famosas CASAS BAÍA, com interesses em vários negócios, embaixador da UNESCO, etc.. Mau grado as alegadas ligações à ditadura, que lhe valeram condenações mais ou menos públicas, chegou a ser Ministro da República (ainda que fantoche, como diz a moçada);

- Maradona: ganhou rios de dinheiro. Reduziu uma boa parte delas a pó, mas ainda lhe sobrará muito, conquanto lhe falte saúde. Mas mantém o mais importante nesses casos: o amor da torcida e o respeito dos praticantes da modalidade no seu país;

- Eusébio: basta lembrar a romaria ao Hospital onde esteve recentemente internado. Do Presidente da República ao mais humilde português, todos passaram pelo hospital para saber como ia o maior futebolista português de todos os tempos. Já viram alguma caravana importante do Benfica sem Eusébio? Está em todas e não é ele quem impõe a sua presença. É o «DESEJADO». Junto do Benfica e junto da Selecção das Quinas;

- Luís Bastos: Luís da Silva Bastos, de seu nome completo, pode ser encontrado a qualquer momento num dos dois lugares seguintes – as cercanias do Cyber-Café SOFIA ou numa cama de hospital. Um dia desses, talvez mude de poiso. Para o Campo Santo da Várzea. Doente, em estado de extrema debilidade física, «desgobedjando» com uma pensão de pouco mais de quatro mil escudos e com quatro filhos menores para criar. Não tem interesses em nenhum negócio (até o da vida lhe vai escapando por entre os dedos); não é «DESEJADO» nem das duas equipas do seu coração (o Sporting Club da Praia e a Associação Académica da Praia), nem da Selecção de Cabo Verde; não recebe qualquer tributo moral (mormente financeiro) enquanto expoente máximo da modalidade a que se dedicou de corpo e alma; não recebe visitas quando cai doente.

É triste a forma como votamos ao abandono os nossos ídolos! Pudera! Se nem prestamos tributo a Amílcar Cabral que já se finou! E cá, num País onde o finado é sempre «BONITO E BOM RAPAZ».

Ao Luís resta esperar pela homenagem que lhe está prometida para quando deixar o mundo dos vivos e for engrossar as fileiras do «team» do Campo Santo, aí a dois passos do estádio que já teve o seu nome… mas já não tem! Cortejo fúnebre saindo da casa mortuária; urna (das mais caras) fornecida pela Federação Cabo-verdiana de Futebol; jovens com camisolas do Sporting Club da Praia, da Associação Académica da Praia, da Selecção Nacional, do «Portugal» do Paiol e do «Uruguai» de Ponta Belém; presença do Ministro do Desporto (que, por sinal, é também o Primeiro ministro da República); discursos do Presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol, do Secretário de Estado dos Desportos e, quiçá, do Director-Geral dos Desportos (ele que também foi um exímio praticante de futebol), de dirigentes do SCP, da Micá, etc., etc.. Bandeiras, muitos automóveis, muita gente. Chorando o grande futebolista, O NOSSO EUSÉBIO, que se foi. Uma semana depois, um torneio de futebol em homenagem àquele que foi o melhor praticante de futebol de Cabo Verde de todos os tempos, com receitas revertendo a favor dos quatro órfãos. Não sei se será isso que mantém Tio Luís de pé ou se é isso que está acelerando a inexorável marcha rumo ao reino dos pés juntos.

Caramba, gente! Vamos lá contabilizar as despesas que pensamos fazer para o funeral do velho Luís e entregar-lhe esse dinheiro em mãos. Enquanto precisa. Enquanto possamos ser-lhe úteis. Enquanto possamos ajudá-lo a mandar os meninos para a escola com os cadernos, lápis e livros necessários. Enquanto ELE nos possa dizer MUITO OBRIGADO.

Vá lá MARUCA. Sabiam que o Mário Semedo e o José Maria Neves foram colegas de turma no liceu? O que os impede de se encontrarem para recordarem os velhos tempos e para combinarem uma pensão que possa permitir que Luís Bastos viva os seus últimos dias com alguma dignidade?
E você, BALA? Lembras-te ainda do Luís nos nossos pelados? O colírio para os olhos que era ver Luís jogar? As fintas, a rapidez, os remates, o fair-play? Alguém alguma vez viu Luís Bastos pontapear um adversário? Onde? Quando? Alguma vez alguém viu Luís respondendo às inúmeras agressões a que os seus adversários se viam obrigados a recorrer para o poderem travar? Quem? Onde? Quando?

Negócio fechado? Mario Semedo? Inácio Carvalho? José Maria Neves? Não questiono o Secretário de Estado dos Desportos porque não sei se ele chegou a ver Luís Bastos passeando a sua classe pelos nossos campos de futebol. O Mário e o Bala sei que viram e sei que apreciam. O JMN? Se não viu, que pergunte ao Maruca.
E que não me venham com aquela velha treta de que se dermos uma pensão ao Luís vamos ter que dar a todos. Não cola. Antes de mais, porque Luís está precisando meeesssmo, aqui e agora; depois, porque como Luís, há só um e mais nenhum; sem contar que já se fez isso antes com pérolas de outras áreas do saber e do saber-fazer.

Vamos acudir ao tio Luís enquanto ainda nos pode agradecer de viva voz? E lembrem-se da máxima: QUEM DÁ A QUEM PRECISA ESTÁ EMPRESTANDO A DEUS. E Deus paga sempre!
Ludgero Correia

Friday, August 10, 2007

REFLEXÃO ENCAMINHADA A UM SEMANÁRIO DA PRAÇA HÁ EXACTAMENTE 11 MESES

Diante da situação periclitante que se vive na Capital em matéria de acesso à energia eléctrica, trago para o cyberespaço esta reflexão produzida há 11 meses e que por vicissitudes diversas nunca chegou a ser publicada, apesar de ter sido encaminhada para a redacção de um semanário local, não me lembrando bem agora se terá sido o A SEMANA ou o HORIZONTE. É que, mau grado as garantias dadas peo exmo. Presidente da Comissão Executiva da empresa, que ainda detém o monopólio, este Verão não está a ser muito diferente do dos três últimos anos. E talvez a questão não tenha a ver apenas com a falência da rede de distribuição.
E mantém-se a inquietante dúvida: PORQUE CONTINUA A COMISSÃO EXECUTIVA EM SANVICENTE, SE O MAIOR CENTRO DE CONSUMO (E DE PROBLEMAS POR RESOLVER, TAMBÉM) É SANTIAGO E A CAPITAL DO PAÍS?
Chegado ao ponto a que as coisas chegaram na Capital, o senhor Ministro da Energia, responsável também pelo crescimento e competitividade da economia, (ou o senhor Primeiro Ministro por ELE), enquanto responsável político por tal estado de coisas, tem que tomar uma atitude: ou muda a Comissão Executiva para a Praia ou cria uma UNIDADE DE CRISE, com poderes executivos, para acompanhar, equacionar e resolver, em tempo real, os problemas de energia da Cidade da Praia, que é, queira-se ou não, a Capital da República de Cabo Verde. E que fique bem claro uma coisa: estou-me nas tintas quem manda (ou desmanda) na Electra, ou onde fica a sede da empresa; o que se quer (e já vão sendo horas de se exigir, meeesmo) é que a Capital tenha um núcleo executivo com poderes de decisão à altura dos problemas e constragimentos existentes.
E cá vai com um atraso de onze meses, mas com muita actualidade, a reflexão produzida em 10.09.06. Boa leitura.
A ELECTRA E A CIDADE DA PRAIA: UMA NOVA ERA
“As consequências de não dizer nada são sempre maiores e piores do que as consequências de dizer alguma coisa.”
Marianne M. Jennings
O novo acordo de accionistas da ELECTRA, SARL, celebrado no passado dia 31 de Agosto, abre novíssimas perspectivas à empresa de electricidade e água e à cidade da Praia e que não podem ser defraudadas, sob que pretexto for.
Desde logo porque o sector é vital para o desenvolvimento; depois porque o consumidor já se conscientizou de que o contrato que tem com a empresa lhe confere o direito a ter, no seu local de consumo, energia e água 24 sobre 24 horas e com boa qualidade e que a interrupção do fornecimento só seria aceite por pequeno período e se for por razões de força maior. E deixou já bem claro que a interrupção de fornecimento baseada no facto de a empresa não ter suficiente potência instalada (entendida como a potência necessária para cobrir as necessidades diárias + uma reserva para situações fortuitas) não é caso de força maior. É incúria, é imprevidência. E como tal, justificação ilegítima e, por isso mesmo, inaceitável.
Para esconjurar de vez a situação a que se chegou neste tristemente célebre Verão de 2006, há, no que concerne à energia eléctrica, três ordens de medidas que devem ser adoptadas, e que têm a ver com:
1. Produção
2. Distribuição
3. Gestão

PRODUÇÃO
Em matéria de produção deve-se assumir como princípio básico (e urgente) o seguinte:
1. Instalação da potência necessária para dar conta da necessidade da cidade da Praia e de uma potência de reserva com capacidade para cobrir, no mínimo e em um primeiro momento, 50% das necessidades da cidade;
2. Alteração da situação de grande variedade de marcas de grupos geradores, pela via da substituição gradual dos mesmos por equipamentos de uma mesma marca (eleita em função da mais valia que puder trazer ao nosso parque de geradores);
3. Rotação no funcionamento dos grupos geradores instalados, de forma a garantir que a dita potência de reserva esteja sempre operacional e não constitua peso morto para a empresa, nem encargos adicionais para o consumidor.

DISTRIBUIÇÃO
No que à distribuição diz respeito, há que adoptar, de entre outros, os compromissos seguintes:
1. Upgrade da rede de distribuição de energia, com estratégias claras em matéria de localização de PT e produção de planta (ou plantas) localizando a malha dos circuitos no tecido da cidade;
2. Vigilância permanente da rede com vista a obstar as ineficiências tradicionais da empresa e permitindo:
a) Combate cerrado ao furto de energia na rede de distribuição;
b) Redução das perdas fortuitas de potência durante o transporte;
c) Evitar acidentes que possam perigar a segurança de utentes e transeuntes;
d) Salvaguardar a integridade de equipamentos eléctricos e electrónicos instalados nos locais de consumo.
GESTÃO
No concernente à gestão, esta terá que ser encarada com o máximo de profissionalismo, ética e muito respeito para com os consumidores que são, ao cabo e ao resto, a razão de ser da existência de qualquer fornecedor de bem ou serviço.
Ousaríamos avançar algumas recomendações:
1. Contratação de uma equipa capaz, com provas dadas e com conhecimento do sector;
2. Autonomização da gestão das centrais de Santiago ou a deslocalização da sede da empresa para a capital do país, enquanto pólo mais problemático e maior consumidor do país;
3. Definição de políticas coerentes de aquisição de Grupos Geradores e de Gestão de Stocks de peças de reposição;
4. Adopção de uma política laboral e de RH que permita:
a) A motivação dos agentes;
b) A redução dos conflitos laborais;
c) O recrutamento baseado no mérito e no potencial do candidato;
d) A célere desvinculação dos elementos perniciosos;
e) A fixação dos bons profissionais;

Neste momento ímpar nas relações da empresa com a banca, esta minha primeira intervenção não poderia deixar de chamar a atenção dos responsáveis para a necessidade de as novas dívidas a serem contraídas, venham a ser dívidas inteligentes, que é como quem diz, não para pagamento de salários ou outras operações de tesouraria, mas, e sobretudo, para investimentos.

POR UMA PRAIA (E UM CABO VERDE) MELHOR, SEMPRE!
10.09.06 António Ludgero Correia