Monday, February 25, 2008

INDEPENDÊNCIA versus NEUTRALIDADE

INDEPENDENTE é (1) aquele que não está submetido a qualquer dependência ou sujeição; (2) aquele que se governa por leis ou estatutos próprios; (3) que é livre; (4) que é autónomo.
Já NEUTRO é (1) aquele que é indiferente; que tem falta de entusiasmo, de curiosidade, de paixão, de interesse; (2) é aquele cujo estado mental não encerra dor nem prazer, nem mistura de uma e outro; (3) é aquele que é estranho a toda a preocupação de ordem política, moral ou religiosa; (4) insensível; (5) apático; (6) frio; desprendido; (7) MEDICINA – enfermo de doença grave que revela inconsciência de quanto o rodeia.
As colocações acima são retiradas, ipsis verbis, de um dicionário da Língua Portuguesa, como, aliás, já tinham adivinhado.
Qual a intenção desta abertura? É com a melhor das intenções que apresento este menu aos leitores, pedindo-lhes que verifiquem onde se sentem legitimamente integrados. Se se sentem independentes ou se acham que são neutros. É um exercício como outro qualquer, mas que, vez por outra, merece ser feito. Até porque ajuda a mergulhar na proposta de reflexão que vem abaixo.

Em uma sociedade com forte tendência para a bipolarização política, qual a posição mais fácil de adoptar? Ser militante, ser independente ou ser neutro? Pode haver, de facto, independentes? E neutros?
É claro que ser militante é, sem sombras para dúvidas, a posição mais cómoda. O fulano não precisa pensar muito, não tem de ter um discurso próprio, sabe que tem uma retaguarda política para o proteger. Não tem necessidade de pensar muito, porque o partido pensa por ele; não precisa de ter um discurso próprio, porque, havendo um discurso oficial do partido, a disciplina partidária não lhe permite um discurso público divergente; e pode fazer os disparates que lhe aprouver porque sabe que pode contar com a solidariedade e a protecção dos correligionários. Pode até dormir descansado, já que, estando o seu partido no poder, tem acesso garantido a cargos públicos, tem garantias de avenças sem conta, pode-se transformar num dos fornecedores oficiais de bens e serviços ao Estado, enfim, pode ficar como o diabo gosta. Mas a situação tem também os seus riscos, claro. Mormente se o dito cujo não tiver competências e habilidades reconhecidas. Aí… a porca pode torcer o rabo. Pode parecer uma boa opção. E até é… para quem goste e tenha o bichinho da política. Mas tem os seus custos. E a factura vem junto. Perde-se – e muito – em termos de independência.
Ser independente já é mais complicado. Desde logo, porque em um quadro bipolarizado, de dependências muitas (que vão até aos ditos laços comestíveis) e de uma cultura de delegação (durante séculos, poderes e pessoas poderosas decidiram por nós). Sobrevive-se à própria custa. Quando um independente critica (ou vaia) um dos lados, sobe na avaliação do adversário do criticado e desce no conceito deste; quando elogia (ou aplaude) um dos lados, dá-se o inverso. O independente tem de ter discurso e crenças próprias. Imagine-se o coitado diante do exercício autista anual, feito no Parlamento, que se dá pelo nome de «Estado da Nação». Tendo consciência que não habita o PAÍS DAS MARIVILHAS que é pintado pela situação; sabendo, de ciência certa, que não vive no INFERNO DE DANTE borrado pela oposição; o que lhe restará senão fazer a sua própria avaliação, socializá-la com seus concidadãos e criticar (e vaiar) uma e outra pelo show de cinismo dado numa casa onde o respeito pela Nação devia imperar? Em um quadro destes, a regra é criticar o que é criticável, elogiar o que é elogiável, e mandar às favas todas as pretensões de condicionamento mental, de intimidação canhestra, de reduzir tudo a um clássico Sporting x Benfica. Há muito mais entre o céu e a terra do que admite a vã filosofia dos políticos profissionais e de seus esbirros.
Ser neutro já é doença. Em um quadro de galopante bipolarização social (a bipolarização política tem esse efeito nefasto sobre a sociedade civil) ser-se neutro é entregar o ouro ao bandido. Estar-se perante um processo de escolha dos titulares dos poderes, local ou central, e dar de ombros é atitude de alienado mental.
Mas é preciso não confundir independência (um quadro claro de não dependência de qualquer controlo externo e de não sujeição a interesses estranhos; de auto-governo, por normas ou princípios próprios; de livre arbítrio e de liberdade de escolha; e de ampla autonomia decisória) com neutralidade política (um quadro de indiferença, de tanto se me dá, como se me deu; do deixa andar e dêxa bai; de falta de entusiasmo, curiosidade, paixão, e interesse; estranho a toda a preocupação de ordem política; insensível, apático e desprendido em relação a quem vai ser entregue a gestão da res publica). Ser independente é não pertencer a nenhum rebanho, é a negação do estatuto de carneiro e a afirmação de cidadania. Significa alinhar com os bons circunstanciais e condenar os circunstancialmente maus, ainda que os maus de hoje tenham sido os bonzinhos de ontem e vice-versa. Ser neutro é votar sistematicamente em branco ou onde nos mandam; é bater palmas porque todos estão batendo palmas, ainda que não se compreenda a razão dos aplausos; é vaiar porque todos estão vaiando; é abdicar-se do direito de participação política (não confundir com partidária) e cívica; é embarcar com a carneirada; é a coisificação do indivíduo.
Agora, haverá indivíduos neutros na nossa sociedade? Estou em crer que não. Bem andam aqueles (professores ou alunos) que postulam que neutralidade política é coisa que não existe. Haverá independentes? Acredito que heverá montes deles. E errado está quem (aluno ou professor) postule o contrário.
Em um sistema em que os partidos admitem, sem rebuço, serem mais partidos de eleitores do que partidos de militantes, se admitirmos que não existem “cidadãos neutros”, é de crer que o grosso do pessoal seja independente. Não no sentido do independente acrítico (desejado pelos partidos), mas, seguramente, do independente apartidário (aquele que não lê pela cartilha dos partidos; que, tendo embora as suas simpatias políticas, são coerentes e exigentes quando a questão é a escolha daqueles em cujas mãos se vai entregar o destino da cidade, da ilha, do país). Os votantes MpD em Janeiro de 91 e Dezembro de 95 eram todos militantes? Para onde foram, então, que não apareceram a votar MpD em 2001 e 2006? Os eleitores que ditaram o regresso do PAI nas eleições de Janeiro de 2001 e a sua reconfirmação em Janeiro de 2006, eram todos militantes do PAI? Se sim, por onde andaram nas eleições autárquicas de 2004? Lembram-se daquele condutor de HIACE que (a seguir ao conhecimento do resultado das eleições legislativas de 2001 e em plena festa de Santo Amaro Abade) registou para as câmaras da televisão nacional que não era militante mas que votara PAI, porque era preciso mudar o estado das coisas. De um tal cidadão se pode dizer que foi independente. Foi autónomo. Fez o que achava certo na ocasião. Nada que o impedisse de, em outra eleição, voltar a votar MpD. E é bem capaz de o ter feito nas autárquicas de 2004. E, nessa base, se formos ver o número de votantes nas últimas legislativas, por exemplo, e o formos confrontar com o somatório do número de militantes do PAI + MpD, e subtrairmos o segundo do primeiro, teremos um número muito grande de não militantes. E se fixarmos que neutros não existem por aqui…
E neutros não existem. Nem devem existir. Nem se pode estimular o seu surgimento. E digo mais: é nosso dever e a salvação desta sociedade, que todos participem de tudo, que ninguém se feche na sua concha, nem se deixe confinar. Pessoalmente, tenho conclamado, neste espaço e noutros, ao reforço da participação de todas as classes sociais e profissionais. A título de exemplo, colo, abaixo, um pequeno extracto da comunicação que apresentei no último Fórum «A SEMANA», decorrido no Mindelo em Junho de 2007 e outro da crónica «O BOM PASTOR» dada à estampa neste espaço, há coisa de um mês. Cá vão:

«…os cidadãos, as empresas e as associações precisam de ganhar mais capacidade de intervenção pública. Pessoalmente, quero que a empresa privada tenha uma intervenção política. Desejo que as igrejas tenham uma intervenção política. É desejável que todos os corpos instituídos no país, todas as universidades, tenham um contributo mais atrevido e mais forte.»

«… que as Igrejas se devem interessar pelo que se passa no país, que devem ajudar os seus fiéis a evitar que sejam levados na curva pelos mercadores de promessas, que não devem se alhear da política. Mas entendo, também, que não devem tomar partido, que não devem participar da luta pelo poder, que não devem mancomunar-se com a situação, nem fazer oposição política.»

E é a esta postura que defendo para as igrejas (e que acredito que seja, em tese, o real posicionamento delas) que eu chamo de postura independente. Não de alheamento, nem de cumplicidade, mas, antes, de interesse activo pelo que se passa na cidade, na ilha, no país e no Mundo. E que fique claro que exigir neutralidade às igrejas é pedir que elas assistam, impávidas e serenas, à imolação das ovelhas do seu rebanho, no altar dos interesses dos partidos e dos grupos económicos que os influenciam.
E é claro que o que ficou dito em relação às igrejas aplica-se, mutatis mutandis, aos cidadãos.
E QUE VIVA A LIBERDADE!

Wednesday, February 20, 2008

THE «DAY AFTER» CASTRO

“Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la”

Joahann Goëthe

A notícia da abdicação de Fidel Castro Ruz traz-me à mente nomes de grandes homens da história do mundo. Refiro-me ao século XX e mais concretamente ao período pós guerra.
A primeira vez que ouvi falar de Fidel era eu ainda menino. Menininho. O meu primo Fragobá, um exímio desenhador, exibia um baralho de desenhos de rostos de personagens célebres. Um deles era a de um homem ainda novo, mas com a cara coberta por espessa barba negra. Segredou-me ele que era o grande Fidel Castro, el comandante. E ficou a simpatia pelo homem de quem sempre se falava em voz baixa. Até mesmo o Fragobá, que não temia nada, quando sussurrava tal nome, olhava cuidadosamente à volta.
Mas de uns tempos a esta parte, sempre que penso em Fidel, fico matutando como será o «day after» Fidel em Cuba. E é aí que se dá a associação de ideias que conduz à lembrança dos tais grandes nomes da história mundial do pós guerra.
Lembro-me de Nikita Krustchev e do golpe palaciano de Leonid Brejnev que pôs fim ao seu reinado e instalou o princípio do fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O poder pessoal de Krustchev ficou repartido pelo triunvirato Nicolai Podgorny (Presidente), Alexei Kossiguin (Primeiro Ministro) e Leonid Brejnev (Secretário-Geral do PCUS), sendo este o mais poderoso de todos. E tenho dúvidas de que fosse «só» um triunvirato. Quem não se lembra do poder de Andrei Gromyko, o Ministro das Relações Exteriores da URSS, o senhor «Nyet» do Conselho de Segurança da ONU? Sempre que algo não lhe soava bem, soltava o «nyet», utilizando o seu direito de veto. Depois do desaparecimento de Brejnev nada mais foi o mesmo. Nem Andropov, nem Tchernienko, tiveram cotovelo para manter as rédeas firmes, abrindo assim o caminho para Mikhail Gorbatchev, o líder da comissão liquidatária da URSS. Levado na curva por Ronald Reagan, conduziu a «perestroika», a «glasnost» e, sobretudo, o desarmamento, a contento do velho actor secundário dos «westerns» de Hollywood. A Liberdade e a Democracia porque tanto ansiavam os ditos soviéticos, logo foram abalroados pela fúria de uma das máfias mais ferozes do nosso tempo. E era ver apartamentos recebidos um dia e surripiados no dia seguinte pela voragem da tristemente famosa máfia russa. E o pessoal estava entregue a si próprio. De tão pouco habituados que estavam a serem donos do próprio destino e de terem propriedade privada individual, pode-se imaginar o que foi – e vem sendo – os dias «after» URSS. Viva a liberdade, viva a democracia. Mas como entender que haja gente com saudades do tempo dos «velhos senhores»?
O que aconteceu quando Josip Broz «Tito» o homem que, com pulso de ferro, manteve unido, sob a designação de Jugoslávia, todo um naipe de nacionalidades dos Balcãs? Desaparecido Tito (que se tornou conhecido como o líder incontestado do grupo dos não-alinhados) Lazar Koliseuvski não aguentou a batata quente que herdou. E o «day after» Tito está aí à vista de todos: a Bósnia Herzgovina, a Sérvia, a Croácia, o Kosovo, as limpezas étnicas, etc.
Deslocando para realidades geograficamente mais próximas, temos o caso de Ahmed Sékou Touré, o senhor «NON» (que respondeu com um sonoro NON à proposta neo-colonial da França imperial). O que aconteceu à Guiné-Conakry do pós Sékou Touré? Lansana Konté baqueou e as coisas ficaram sem controlo.
Há o caso de António de Oliveira Salazar, o homenzinho de Santa Comba Dão. Marcelo Caetano não tem a mesma convicção e o controlo escoou-lhe por entre os dedos. Consegue travar uma insurreição, mas baqueia diante do movimento dos Capitães de Abril. E não fossem as tomadas de posição da maioria silenciosa (a que Frank Carlucci não terá sido alheio) e o país teria mergulhado no comunismo pelas mãos de Álvaro Cunhal, Vasco Gonçalves, Otelo Saraiva de Carvalho e de alguns românticos. Os portugueses perderiam a liberdade recém-conquistada e poriam em risco o pão que esteve garantido durante a ditadura.
A ditadura deve ser mesmo uma solução bem complicada de gerir. À mais ligeira folga nas rédeas e ao primeiro sinal de abrandamento a situação toma o freio nos dentes e quem se queixava da falta de liberdade e de democracia fica com novas e renovadas queixas. E, pior, contra todas as expectativas, vai se constatando algum saudosismo dos tempos de então. E há até quem apele para o fado «ó tempo/ volta p’ra trás / traz-me tudo o que perdi / tem pena e dá-me a vida / a vida que já vivi…». Quando todos sabemos que aquilo não era vida de que se devesse sentir saudades. Não se ouve já que os timorenses começam a sentir saudades do tempo dos indonésios, apesar da sanha assassina de Suharto? Veio a liberdade(?) e foi-se o pão. Triste sina.
E o que acontecerá à Cuba pós Fidel Castro? Raul Castro está para Fidel assim como Tchernienko esteve para Brejnev ou Bento XVI está João Paulo II. Não têm idade, nem tempo, para deixarem marcas pessoais. Para além do facto, em si, de não ser nada fácil suceder a personalidades como Fidel Castro Ruz ou Karol Józef Wojtyła. Em boa verdade, a sucessão efectiva de Fidel só se dará depois da partida de Raul. Que este tem um dilema que não pode resolver: ou segue acriticamente as pisadas do mano, sem os dons do mano, e falha; ou teria de divergir do mano, sem o tempo que o mano teve para se firmar, e falha, de forma ainda mais retumbante. O dia seguinte de Fidel (ou dos Castros, se se preferir) só chegará com a partida de Raul. E as questões que se põem são estas: esse dia trará o que nosostros achamos que os cubanos precisam? A par de mais liberdade, conseguirão manter o Estado Previdência? Continuarão donos da ilha? Terão, seguramente, mais pão? Não sentirão saudades de El-Comandante? Não chegarão ao ponto de cantar «Ó tempo volta p’ra trás»?
Acredito que, diante das lições da história, vai ser possível equacionar uma Cuba pós-Fidel onde os cubanos se sintam bem e não venham a ter saudades do tempo que lá vai. Mais liberdade, democracia política, social e económica, e um Estado presente e responsável, sem máfias, nem castas privilegiadas, é possível. E se Raul assumir que a sua principal missão é lançar as bases para essa nova era para Cuba e para os cubanos, seria óptimo. Para Cuba e para os cubanos; para Cabo Verde e para os cabo-verdianos; enfim, para o Mundo, essa aldeia global.

Mas porque a questão não se resume à substituição de líderes autoritários (não desculpo tais líderes, mas não me faço de desentendido diante do contexto e das conjunturas que geram tais entes) sugiro que se vá mais fundo na reflexão sobre a questão. De como em Cabo Verde tivemos a sorte de ter um Carlos Veiga a substituir Pedro Pires à frente dos destinos da Nação; de como os ventoinhas não tiveram a mesma sorte por ocasião da retirada de Veiga da liderança do MpD; dos cabelos brancos que José Maria Neves deve ter adquirido à conta de pensar numa sua sucessão exitosa à frente do seu partido e do país.
De todo o modo, sempre tivemos mais sorte do que os nossos irmãos que se libertaram de Nino Vieira e foram cair nos braços de Kumba Ialá, voltaram ao regaço de Nino e podem ter ainda o azar de voltar às boas com Kumba (que ele diz que vem aí).
Em jeito de fecho deixo aqui duas questões: no nosso caso, deve-se apenas à sorte, o facto de termos tido o percurso que tivemos? Os nossos amigos cubanos devem fiar-se apenas na sorte, na boa fé de Raul e na pressão de Uncle Sam?


Monday, February 11, 2008

AGENDA VILA NOVA

“Heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar.” Jean Girandoux

HOMENAGEAR É RECONHECER. NÃO É SOMENTE UM ACTO DE MAGNANIMIDADE, MAS TAMBÉM, E SOBRETUDO, UMA FORMA DE ERIGIR EM VALOR SOCIAL A OBRA DE CERTAS PESSOAS. Assim introduz a Liga das Associações da Vila Nova o texto do diploma que presta homenagem a alguns filhos daquele velho bairro da Cidade da Praia.
Os jovens da Vila Nova decididamente resolveram fazer com que a Vila Nova esteja na moda. Que nem Cabo Verde.
Onde já se vira antes, em Cabo Verde, jovens homenageando, em um mesmo acto, os seus notáveis, velhos e jovens como eles próprios? Onde já se vira antes, em Cabo Verde, uma comunidade homenageando pessoas ainda vivas, portanto aptas a sentirem a alma e o coração a procurarem o caminho da boca para fugirem do aperto da emoção? Onde já se viu, neste nosso cantinho boiando no Atlântico, uma comunidade com a extensão da da Vila Nova, com 05 associações e ambas se entendendo tão bem e funcionando em rede? Eu nunca vira nada parecido. Sou suspeito? Aceito que alguém torça o nariz diante do meu julgamento. Mas tenho testemunhas.
Sim, senhor. Tenho testemunhas. A TCV, o Vereador Varela Neves, os automobilistas que passaram por Vila Nova e Moinhos na tarde do último Domingo, as pessoas que se relacionam com o bairro. E eu. Ponho a mão esquerda sobre a Bíblia, levanto a mão direita e presto juramento, se fizerem questão.
Vivi um momento ímpar. Havia tanto orgulho, tanta convicção e tanta confiança na voz da apresentadora da sessão, a escritora Yara Santos, que todos os presentes acabaram contagiados. O tanto de emoção que li no rosto do senhor Fernando Vasconcelos, o querido Nanande de Totôi (de que as lágrimas que se soltaram dos seus olhos são apenas uma pequena mostra) mexeu com presentes e passantes. Enfim, vivemos um momento impróprio para cardíacos.
Chegados aqui, tenho que me confessar, fazer a mea culpa e o acto de contrição. Eu confesso que já perdera a fé na ressurreição da minha Vila Nova querida; confesso que se não fosse pela minha mãe e pela minha sogra (que ainda ali moram e não trocam a Vila Nova por nada deste mundo), pelos interesses que a minha mulher ainda aí mantém e por o meu codê ser o ponta-de-lança da equipa federada local, talvez tivesse chegado a desistir.
É que é super complicado. Vila Nova, por descaso dos poderes é ainda um bairro onde você investe 10 mil contos num imóvel e cinco anos depois estará valendo apenas 5 mil e oxalá! É um acinte! Se alguém aplicar 10 mil contos no Platô, na ASA, ou em Palmarejo A, cinco anos depois verá o valor do seu património, no mínimo, duplicado. Por essas e por outras é que eu acabei plantando as minhas poupanças no Platô, o Mário Semedo e o Adriano de Pina foram para o Palmarejo, o João Serra, o Daniel SILVES Ferreira e o Daniel BRANCO Ferreira para a ASA, o Mário Ambrósio para a Fazenda, and so on. Todos querendo ficar, mas tendo que partir. É doloroso qb.
Mas porque os poderes deixaram instalar um tal estado de coisas? É assim que pretendem intervir para a redução das assimetrias de desenvolvimento entre os bairros do Norte e do Sul? Criando condições para que, em cinco anos, o setentrião perca 5 milhões, e o meridião ganhe 10 milhões? É assim? É isso? Não acredito na tese da conspiração contra os bairros onde o grosso da população é oriundo do interior de Santiago e da ilha do Fogo (com os autóctones constituindo uma orgulhosa, simpática e receptiva minoria)? Nem, tampouco, na outra que presume a predisposição de privilegiar os bairros mais novos, a Sul, em razão da sua capacidade de pressão. Não acredito. Mas acho que é chegada a hora de os poderes demonstrarem, por a+b e a quantos acreditem na tese da ostracização da Vila Nova, que tal tese é falsa. E que o quadro que se vive hoje é fruto de mera negligência e de um sem fim de coincidências.
Acho que Jacinto Santos estará em boa posição para falar do espaço e do tempo que a Vila Nova ocupou na sua agenda. Felisberto Vieira (que depois de oito anos, tenta mais um mandato de 4 anos) que suba no palanque e preste contas (diga e justifique o tempo que dispensou aos problemas da Vila Nova) e faça compromissos para o próximo mandato (o que vai oferecer à Vila Nova e às suas gentes, se o bairro terá representação na sua lista e que garantias nos dá). José Ulisses Correia e Silva que nos diga se enquanto menino da Praia, alguma vez parou em Vila Nova nas suas deslocações ao interior da ilha? Se enquanto titular da pasta das finanças alguma vez a sua atenção foi atraída pela ausência sistemática deste bairro dos projectos para que alocava recursos? É capaz de, sem cicerone, chegar a Vila Nova e conseguir sair? Não confundirá Travessa com Ponta d’Água, Moinhos com Lém Cachorro? E, last but not least, o que tem em mente em relação a Vila Nova (o que vai oferecer à Vila Nova e às suas gentes, se o bairro terá representação na sua lista e que garantias nos dá de que nos considerará melhor que seus antecessores, como ele da ASA).
O sentimento que lá na velha Vila Nova comungamos é que o meu amigo Jacinto Santos nunca se importou com o bairro. Sabia dos problemas da “Ladêra Sampadjudo” e não fez nada, nem pediu ao Governo do seu partido que fizesse; sabia da invasão silenciosa de Safende, do surgimento da Tchetchénia e não mexeu um dedo para ajudar ou orientar a instalação de mais um dormitório clandestino da cidade. Não aproveitou as verbas chorudas que o seu correligionário Pinto Monteiro administrava e destinada à protecção de encostas. Os fundos eram destinados ao meio rural? Ora, faça-me o favor. Desculpa de maus pagadores. Vila Nova, ao tempo, estava tão ou mais rural do que São Domingos.
Não temos dúvidas que o também meu amigo Felisberto Vieira (triste sina a minha, não é? meus amigos me deixam super mal perante meus vizinhos) não fez quanto exigia a situação. A situação na “Ladêra Sampadudo” deteriorou-se a olhos vistos; as enxurradas de Ponta d’Água e da Achada Monteagarro trespassam Vila Nova na sua caminhada para o oceano, deixando os moradores atolados em lama e sufocados pelo fino pó (proveniente da lama que não foi raspada e secou sobre as faixas de rodagem); não fez o suficiente para que fosse mantido o compromisso da asfaltagem da estrada interior da povoação adentro do pacote «asfaltagem da estrada Praia/São Domingos» (estava lá, mas passaram corrector sobre); não sei se estará fazendo o suficiente para que tal compromisso seja retomado no pacote «Asfaltagem das Vias da Praia» (DEVIA ESTAR, NÓS FARTÁMO-NOS DE SUGERIR ISSO, MAS ESTARÁ???); terá feito a necessária pressão, no ponto e momento certos, para fazer acontecer algo que pudesse ser a salvação da juventude de Vila Nova (todo mundo reconhece o nosso edil como sendo um homem forte dentro do PAI e todos ainda se lembram do vila-novense João Serra com as pastas das finanças e do planeamento).
Do Ulisses se poderá sempre dizer «coitado, só conhecia Vila Nova de ouvir dizer». Tudo bem. Mas o que tem a dizer agora que é, MAIS UMA VEZ, candidato a Presidente da Câmara da Praia? Vai se comprometer com a questão das encostas, maximé, com a “Ladêra Sampadjudo”? Vai-se comprometer com a asfaltagem da estrada interior de Vila Nova? Vai incentivar a prática do Desporto no Bairro? O bairro vai ter representação na sua lista? Vai tentar conhecer o bairro e suas gentes e seus problemas?
Os jovens vila-novenses deram no último fim-de-semana prova cabal da sua capacidade de reconhecimento. Reconhecem, agradecem e homenageiam todos aqueles que contribuem (ainda que de forma modesta ou por dever de ofício) para o desenvolvimento e a afirmação de Vila Nova. Por isso, Filú e Cutice, vai valer a pena firmar um pacto com Vila Nova. Até porque o pessoal nem pede muita coisa: protecção das encostas e intervenção de requalificação na Ladêra Sampadjudo; upgrade das vias de circulação interna (com a indispensável colecta das águas pluviais e seu reencaminhamento para o leito das ribeiras, sem passar pela estrada, nem pelo corredor dos moradores); o aproveitamento, em prol da colectividade, do espaço anteriormente ocupado pelo antigo mercado; a «dragagem» e subsequente aproveitamento do leito das ribeiras; visitas diárias do camião do lixo; iluminação pública; fomento das actividades desportivas; incentivos fiscais e abertura de linha de crédito, com juros bonificados, para que Vila Nova volte a ser o Chicago de Cabo Verde (em um passado recente foi o maior distribuidor de carnes verdes, linguiças e miudezas) a modos de poder criar empregos para os seus jovens; e pouco mais.
Algum dos candidatos quererá, com hombridade, firmar um contrato social a Jorge Figueiredo? Que os nossos votos podem muito bem ser para ele. E olha que não somos poucos. Estamos dispersos, atentos e vigilantes, por todo o município. E depois da sacudidela que foram as homenagens do último fim-de-semana então…