Thursday, May 29, 2008

GESTÃO DE SEQUELAS

“A liderança é uma escolha construída de dentro para fora, baseada no carácter. Os grandes líderes libertam o talento colectivo e a paixão das pessoas, orientando-as para os objectivos certos.”

Stephen R. Covey

Os confrontos - sejam eles desportivos, políticos, comerciais, bélicos, ou de que espécie forem – raramente deixam tudo como estava. Na prática, o resultado nunca é um «match nulo»; o empate é apenas aparente. Na realidade, há sempre vencedores e vencidos. Daí que resulta haver sempre sequelas que clamam por uma administração inteligente.

O que acontece com o grupo vencedor*?
O grupo vencedor tanto pode (1) reter a sua coesão e até tornar-se mais coeso; como (2) distender-se, libertando-se das tensões e perdendo o espírito de luta, tornando-se complacente, casual e brincalhão (estado de euforia); como (3) pode inclinar-se para uma maior cooperação intragrupal, preocupando-se com as necessidades dos membros, com pouca ou nenhuma disposição para o trabalho e para a realização de tarefas; como pode ainda (4) tornar-se complacente, se se convencer que a vitória só veio confirmar o estereótipo positivo que tinha de si mesmo e o estereótipo negativo do grupo adversário (aqui, restam poucas condições para uma reavaliação das operações do grupo, a fim de melhorá-las).
Da forma como tais estados de espírito forem geridos dependem o sucesso ou o insucesso nos embates subsequentes. E é aí que entra o líder e a equipa dirigente do grupo.
Em uma situação em que o grupo tenda a manter e a reforçar a sua coesão interna, caberá ao líder administrar incentivos necessários para evitar qualquer quebra no grupo, vacinando-o contra eventual desagregação derivada da tensão necessária para manter o todo coeso. Ao estado de euforia, do «ufa! Ganhámos, somos o máximo», com forte tendência para prolongar os festejos indefinidamente, em prejuízo do trabalho necessário, o líder tem de responder com um balde água fria, para esfriar os ânimos, e um veemente apelo ao trabalho. E ele tem de dar o exemplo. Não só controlando a própria euforia, como, também, organizando grupos de trabalho para a condução das coisas e para a preparação para os novos embates. Caberá também às lideranças do grupo intervir forte, e em tempo oportuno, para pôr um termo às sessões conjuntas para lamber as feridas da «batalha» ganha. Terminou uma «batalha», mas a luta continua. É preciso curar as feridas sim, mas muito mais ingente é o retorno ao trabalho, cada um buscando dar conta das tarefas que lhe estão confiadas. O mais complicado mesmo para as lideranças é dar conta da mais terrível das sequelas: «NÓS SOMOS OS MOCINHOS DA FITA, ELES SÃO OS BERAS E VAMOS GANHAR POR TODOS OS SÉCULOS SECULORUM, AMÉN! Sombra e água fresca, que somos os senhores do tempo». A história recente do país teve um episódio destes: os vencedores de um pleito acamparam à sombra da bananeira, aguardando o apito final do árbitro para levantarem as Taças nas competições seguintes. Quando viram as taças nas mãos dos BERAS de ontem gritaram «AQUI D’EL REI, QUE HÁ FRAUDE!» Já era «too late», como diz o mercano. E a culpa é, necessariamente, da liderança que embarcou nos mesmos devaneios e não teve engenho, nem arte, para entender e fazer os seus entenderem que «uma coisa» é uma coisa e «outra coisa» é outra coisa.

E o que acontece com o grupo vencido*?
O grupo perdedor tanto pode (1) negar ou distorcer a realidade da derrota, mormente se a vitória do adversário tenha sido por pequena margem e num jogo muito disputado; como, (2) em caso de aceitação da derrota, se desunir, trazendo à tona conflitos mal resolvidos, ocorrendo, não raras vezes, brigas, tudo isso num esforço para encontrar as causas da derrota. Pode também dar-se o caso de (3) os vencidos ficarem mais tensos, prontos para trabalharem para a desforra e desesperados para encontrar alguém ou alguma coisa para cima de quem atirar as culpas pelo desaire; como acontecer o grupo tender (4) para pequena ou nula cooperação intragrupal, pouco se preocupando com as necessidades dos membros, mas muito envolvido com a recuperação através de um esforço, por vezes, sobre-humano; como (5) pode, ainda, dar-se o caso de os vencidos apostarem em conhecerem-se melhor, enquanto grupo, forçando uma reavaliação das percepções, já que o estereótipo positivo de si próprio e o estereótipo negativo do adversário foram perturbados pela derrota (como consequência, pode acontecer o grupo perdedor se reorganizar e se tornar mais coeso e eficiente, desde que aceite a derrota com naturalidade).
Como no caso do grupo vencedor, aqui também é preciso saber gerir as sequelas. Dependendo da forma como a gestão se faça, tanto pode acontecer o desaparecimento, puro e simples, do grupo derrotado, como é possível que o grupo se mobilize e venha a conseguir uma retumbante vitória no pleito seguinte.
Negar ou distorcer a realidade da derrota é comportamento infantil que o líder precisa combater. Desde logo, dando o exemplo; depois, demonstrando que uma derrota não é o fim do Mundo; e, principalmente, demonstrar (como um bom General o faria) que perder uma «batalha» não significa que se tenha perdido a «guerra». Barafustarem-se uns contra os outros, buscando cabelo em ovo ou discutindo o sexo dos anjos, não se chega a lugar nenhum. Compete ao líder convocar o fórum apropriado para dirimir as diferenças, para resolução definitiva dos tais casos não resolvidos ou mal resolvidos, e para que se esclareça, de uma vez por todas, quem é quem e porquê. O líder que queira tirar o grupo do «buraco» não pode permitir que as pessoas ocupem posições no grupo em nome de códigos ou de acordos secretos: os homens do topo têm de ser aqueles que trazem mais valias para o grupo, que sejam líderes na respectiva «ribeira» ou sejam ganhadores; quem não traga vantagens para o grupo, ou perca sistematicamente os desafios que lhe são confiados, deve ir para a base. Competirá, ainda, à liderança (entendida aqui como a equipa responsável pela gestão do grupo) gerir as coisas de modo a tirar partido da vontade do grupo em trabalhar para a desforra; a reforçar a cooperação intragrupal; a apoiar os membros na sua introspecção e subsequente revisão de estereótipo; e, principalmente, a ajudar o grupo a aceitar a derrota com naturalidade (e como consequência da desatenção aos sinais da sociedade e de erros de avaliação). E, já agora, TAMBÉM, que não é nada do outro mundo cumprimentar o grupo vencedor, por este ter tido a perspicácia de captar os sinais dos tempos e das gentes.



* pesquisa FUNDAP

Wednesday, May 28, 2008

TESTEMUNHO: PRAIA DI NHA MENINEZA

[Comunicação apresentada no passado dia 15 de Maio, no ISE (Instituto Superior de Educação) por ocasião de uma cerimónia de homenagem à Praia e integrada nas comemorações do 150º aniversário da elevação da VILA DA PRAIA DE SANTA MARIA DA VITÓRIA à categoria de CIDADE)

1. MINHA LEMBRANÇA MAIS ANTIGA DA PRAIA (QUE ERA O QUE É HOJE O PLATEAU) É A DE UMA VISITA QUE FIZ COM MINHA MÃE ÀS OBRAS DAS RESIDÊNCIAS PARA CHEFES DE SERVIÇO QUE ESTAVAM SENDO CONSTRUÍDAS NA ACHADA MONTE AGARRO (AO NORTE DA IGREJA DOS NAZARENOS*). NESSE MESMO DIA, COMPRÁMOS, NO «DEPÓSITO DE GÉNEROS*», UM PAR DE SANDÁLIAS COM SOLAS DE TOUCINHO (REFERENCIADA ASSIM TALVEZ PELO ASPECTO DE TOUCINHO AMARELADO QUE TINHA). ERA A NOVIDADE DO MOMENTO.

2. EXISTINDO UMA ÚNICA ESCOLA PRIMÁRIA (A ESCOLA Nº1 – DR. ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR*), MENININHO, TINHA QUE FAZER O TRAJECTO VILA NOVA/PRAIA ÀS 07 DA MANHÃ E O CAMINHO INVERSO AO MEIO-DIA. NÃO HAVIA TRANSPORTE COLECTIVO. OS MAIS ÁGEIS PENDURAVAM-SE NO CAMIÃO DA SERBAM, CONDUZIDO POR LUIZINHO LUBRANO E CHEGAVAM MAIS CEDO. NO DIA EM QUE, VENCIDOS OS LEGÍTIMOS RECEIOS, ME DECIDI A TAMBÉM VIAJAR DEPENDURADO, UM COLEGUINHA CAIU DO CARRO DE NHÔ JACINTO DA CALHETA DE SÃO MIGUEL. A QUEDA APARATOSA CONVENCEU-ME QUE O MEU MÉTODO AINDA QUE MAIS LENTO, ERA, SEGURAMENTE, MAIS SEGURO.

3. À FRENTE DA ESCOLA GRANDE ACABARA DE SER INAUGURADO UM CINE-TEATRO (DIZEM QUE TENHO BOA MEMÓRIA, MAS NÃO CONSIGO ME LEMBRAR DO CINEMA SENDO CONSTRUÍDO). DONA LOURDES MIRANDA*, MINHA QUERIDA PROFESSORA, CONDUZIU-NOS AO NOVEL RECINTO PARA VERMOS A FITA «JOSELITO CORAÇÃO DE OIRO», UM TREMENDO SUCESSO DO CINEMA ESPANHOL. DAS ESTREIAS NO CINE-TEATRO DA PRAIA (EXPLORADO AO TEMPO POR JOHN MELLO, UM DOS DINAMIZADORES DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DA PRAIA, CLUB DE QUE VIRIA, MAIS TARDE, A SER PRESIDENTE) PERMANECEM FRESCAS AS LEMBRANÇAS DA TOCA «MANCA» E DA MÃE (QUE VENDIAM MANCARRA, PASTÉIS FRITOS NA HORA, AÇUCRINHA DE COCO E DE MANCARRA), DE NHA CHUMPINHA* (MANCARRA, DROPS, TOFFÉE, BATATA ASSADA* NO FORNO), ETC.

4. DESSE TEMPO FICA UMA ENORME ADMIRAÇÃO PELOS PROFISSIONAIS DA LIMPEZA URBANA: APESAR DAS GRANDES QUANTIDADES DE CASCAS DE MANCARRA QUE SE DEITAVAM FORA NAS SESSÕES (ANTES, DURANTE, NO INTERVALO E DEPOIS), DAS CASCAS DE BATATA-DOCE ASSADA, PAPÉIS DOS DROPS E TOFFÉES, ÀS SETE DA MANHÃ (QUANDO CHEGAVA PARA AS AULAS) ENCONTRAVA AS RUAS INVARIAVELMETE LIMPINHAS. O TRABALHO ERA FEITO COM MUITA DISCRIÇÃO (E EM SILÊNCIO*) ENTRE O FINAL DA SOIRÉE E OS PRIMEIROS ALVORES DO DIA. MINHA HOMENAGEM SINCERA AOS ALMEIDAS DE ENTÃO, QUE DERAM O MELHOR DE SI PELA CIDADE QUE LHES PAGAVA O SALÁRIO.

5. POSSO ESTAR PARECENDO SAUDOSISTA, MAS, EM BOA VERDADE, SÓ TENHO BOAS RECORDAÇÕES DESTA CIDADE. DA SUA BELEZA, DA SUA SOLIDARIEDADE, DA ORDEM QUE ENTÃO IMPERAVA.
6. O QUE A GENTE CHAMAVA DE EXCESSO DOS POLICIAIS AFINAL NÃO TINHA NADA DEMAIS, DIANTE DO LAISSEZ FAIRE, LAISSEZ PASSER QUE HOJE SE INSTALOU. CONTESTÁVAMOS A POLÍCIA POR NÃO NOS DEIXAR EM PAZ PARA JOGAR À BOLA NOS LARGOS DA CIDADE, POR NÃO DOS DEIXAR ENCOSTAR AOS VEÍCULOS ESTACIONADOS, POR NÃO NOS DEIXAR SENTAR SOBRE O ENCOSTO DOS BANCOS DA PRAÇA. ORA, FAZ LÁ SENTIDO DEIXAR MIÚDOS JOGAR À BOLA NA RUA, CORRENDO RISCOS SÉRIOS E INCOMODANDO OS TRANSEUNTES? OUTRO DIA UMA MOÇA VESTIDA DE CALÇAS JEANS ENCOSTOU-SE AO MEU CARRO, MAIS O NAMORADO, FAZENDO NÃO SEI LÁ O QUÊ, E, NO DIA SEGUINTE, TIVE QUE LEVAR O CARRO A UM PINTOR PARA ME ELIMINAR UM RISCO NA CHAPA, PRODUZIDA PELOS BOTÕES METÁLICOS DOS BOLSOS TRASEIROS DO JEANS. SENTAR SOBRE O ENCOSTO DOS BANCOS DA PRAÇA, ONDE JÁ SE VIU? OU OS BANCOS ESTÃO LIVRES E NÃO SE PERCEBE BEM PORQUE NÃO SENTAR NO ASSENTO, OU OS BANCOS ESTÃO OCUPADOS E NÃO É CORRECTO SENTAR-SE, LITERALMENTE, EM CIMA DO CONCIDADÃO.

7. MAS DOS AGENTES DA ORDEM NÃO SE TINHAM APENAS QUEIXAS. SUSPEITÁVAMOS QUE ELES NOS DAVAM UMAS COLHERZINHAS DE CHÁ DE VEZ EM QUANDO. O GURDA «QUARENTA» PRATICAMENTE QUE SE FAZIA ANUNCIAR ANTES DE DESEMBOCAR NO LARGO ONDE A GENTE TINHA MONTADO UM TORNEIO DE «QUEM PERDE SAI*». CONQUANTO A GENTE NÃO ABUSASSE (RESPEITÁVAMOS O PESSOAL DA PSP*): COLOCÁVAMOS SEMPRE UM OLHEIRO, QUAL PORTALÓ, QUE TINHA A INCUMBÊNCIA DE, EM CÓDIGO, NOS AVISAR DA APROXIMAÇÃO DO AGENTE DE GIRO. O GRITO «A LA PIRLI IRLI IRLI IRLÁ», REPETIDO, PELO MENOS, POR DUAS VEZES, ASSINALAVA A APROXIMAÇÃO DO GUARDA DA PSP.

8. E A ORDEM QUE O CASIMIRO «PRAIA NOVA*» MANTINHA NO PARQUE INFANTIL? E O JOSÉ DE NHÂ JOAQUINA NA PRACINHA DA ESCOLA GRANDE? QUANDO ESTAVA DE RESSACA, JOSÉ ENCOSTAVA-SE AO MURO DA CENTRAL ELÉCTRICA (QUE FICAVA LÁ ONDE É HOJE A REITORIA DA UNICV) E TIRAVA UMA SONECA; QUANDO, POR QUALQUER RAZÃO ACORDAVA (NUNCA COMPREENDI COMO É QUE O HOMEM CONSEGUIA DORMIR COM O BARULHO DOS MOTORES) VINHA SOBRE NÓS, DE VARA DE MARMELEIRO EM RISTE, COMO QUE QUERENDO JUSTIFICAR O SALÁRIO. QUANDO ESTAVA SÓBRIO ERA UM CONSELHEIRO IMPAGÁVEL PARA A MENINADA.

9. QUANDO CHOVIA, AS PESSOAS DOS POVOADOS QUE FICAM A NORTE DE ONDE HOJE SE ENCONTRA A VELHA PONTE DA VILA NOVA E DE TODA A RIBEIRA QUE VEM DA TRINDADE, QUE ESTIVESSEM RETIDAS NA MARGEM DIREITA DA RIBEIRA, AÍ FICAVAM ATÉ QUE AS CHEIAS PERMITISSEM. QUEM ESTIVESSE NA MARGEM ESQUERDA FICAVA ILHADA, E QUEM POR AÍ ESTIVESSE SEM MANTIMENTOS DE RESERVA FICAVA SEM PODER SE ABASTECER. COMO SE RESOLVIAM AS COISAS QUANDO ACONTECIA AS CHEIAS NÃO PERMITIREM A PASSAGEM? (E OLHE LÁ QUE JÁ HOUVE CASOS EM QUE A SITUAÇÃO SE MANTEVE POR TRÊS DIAS E MAIS). COMO SE RESOLVIAM AS COISAS? FUNCIONAVA A SOLIDARIEDADE DE QUEM ESTIVESSE EM CONDIÇÕES DE AJUDAR. LEMBRO-ME DA MINHA TIA (NHÂ FILÓ DE NHÔ ANTONINHO LUBRANO), NININHA DE CAETANO MACEDO, NHÂ MARIA DE NHÔ LUCIANO BRAZÃO, NHÂ ANINHA (MÃE DO ESTEBINHO) NA ACHADINHA, E OUTRAS PESSOAS, DANDO GUARIDA E RESTAURAÇÃO ÀS PESSOAS IMPEDIDAS DE CHEGAREM À CASA; LEMBRO-ME DA MINHA AVÓ (NHÂ MARIAZINHA), DO MANAIA*, DA FONGA, PERMUTANDO OU CEDENDO O QUE FALTAVA AO VIZINHO APANHADO DESPREVENIDO. PORQUE, EM O TEMPO SE ARMANDO, ERA HORA DE REFORÇAR A DESPENSA.

10. E A CIDADE ERA LINDA E LIMPA E ORDEIRA E SEGURA. DIZIA O MANAIA (QUE DEUS O TENHA) QUE NO TEMPO DO SENHOR SALAZAR, UM GOVERNADOR E MEIA DÚZIA DE CHEFES DE SERVIÇOS GOVERNAVAM O PAÍS TODO; E QUE HOJE, COM PRESIDENTES, MINISTROS, PRIMEIRO-MINISTRO, DIRECTORES-GERAIS, ETC., NEM SE CONSEGUE FAZER RESPEITAR A PROPRIEDADE ALHEIA; E EXPLICAVA QUE TUDO ISSO SE DEVIA À FALTA DE AUTORIDADE E DAVA UM EXEMPLO: O SABINO ELECTRICISTA COMPRARA UMA MOTO QUE, NO ENTENDER DO ADMINISTRADOR DO CONCELHO, ERA DEMASIADO PESADA PARA O FRANZINO SABINO; DECIDIU ENTÃO O ADMINISTRADOR RETIRAR-LHE HABILITAÇÃO PARA CONDUZIR TÃO PESADA MOTO. NINGUÉM CONTESTOU. ATÉ FELICITARAM O ADMINISTRADOR QUANDO SOUBERAM QUE (NA ILHA DO FOGO, PARA ONDE A MOTO FORA VENDIDA) O VENTO RETIRARA O NOVO DONO DE CIMA DA MOTO, PROVOCANDO-LHE UMA QUEDA QUE POR POUCO NÃO O MATAVA.

11. TEM UM AMIGO MEU (POR SINAL BEM MAIS NOVO DO QUE EU) QUE ME CONTESTA SEMPRE QUE CONTO A ESTORINHA DO MANAIA. REFUTA ELE, INVARIAVELMENTE: «TAMBÉM, PUDERA! A PRAIA ERA APENAS O PLATEAU.» E EU RETRUCO: «TUDO BEM. MAS QUE EU SAIBA, O PLATEAU NÃO AUMENTOU NEM UM CENTÍMETRO». O PLATEAU QUE NHÔ MANEL GARCIA E COMPANHIA LIMPAVAM E QUE NHÔ MANELINHO* FISCALIZAVA (DO ALTO DO SEU CAVALO) MANTEVE AS MESMAS DIMENSÕES. PORQUE, CARGAS DE ÁGUA, DEIXOU DE SER O BRINQUINHO QUE ERA DANTES? JÁ OUVIRAM FALAR DA «REVISTA»? AS CASAS (DO PLATEAU E DOS SUBÚRBIOS) ESTAVAM SUJEITAS A REVISTAS PERIÓDICAS PARA SE AVALIAR DO GRAU DE HIGIENE E LIMPEZA DOS SEUS OCUPANTES. ANUNCIADA A REVISTA, TODO O MUNDO SE ESMERAVA PARA ESPERAR A VISITA DE NHÔ MANELINHO. O INTERIOR E OS ARREDORES DOS POTES, A COZINHA, OS COPOS, AS CANECAS E AS LOUÇAS, TINHAM DE ESTAR TININDO PARA PODEREM SER APROVADOS NA INSPECÇÃO DE NHÔ MANELINHO. NEM OS FONTENÁRIOS ESCAPAVAM AO CONTROLO DO GRANDE E RESPEITÁVEL FISCAL, QUAL ASAE DOS TEMPOS DE ANTANHO. ERA BONITO DE SE VER.

12. NÃO PRETENDO ME ALONGAR MAIS NESTAS MEMÓRIAS. MAS ANTES DE TERMINAR GOSTARIA DE VOS CONTAR UMA QUE A GENTE APRONTAVA COM O SANKUDJA.
O SANKUDJA ERA PORTEIRO DO CINEMA. CUIDAVA DA ENTRADA PARA A «GERAL» (QUE, MUITO MAIS TARDE, VIRIA A SER TRANSFORMADA NA 3ª PLATEIA). RAPAZ DE QUASE DOIS METROS E PESANDO À VOLTA DE UM QUINTAL, ERA, PELOS ARGUMENTOS DO SEU FÍSICO (AINDA POR CIMA ERA BOXEUR), UM PORTEIRO DE RESPEITO. E TINHA NORMAS RÍGIDAS. QUEM ENTRA NA «GERAL» SÓ SAI NO FINAL DA SESSÃO. QUEM SAÍSSE ANTES, SÓ VOLTAVA A ENTRAR COM NOVO BILHETE. MAS SANKUDJA ARRANJOU UM ADVERSÁRIO À SUA ALTURA, DE SEU NOME MÁRIO DE ANDRADE. MÁRIO TINHA À VOLTA DE 1 METRO E CINQUENTA DE ALTURA E PESARIA À VOLTA DE 50 QUILOS (SE TANTO). RESOLVEU QUE IRIA TIRAR PARTIDO DAS RÍGIDAS NORMAS DE SANKUDJA. SE BEM O PENSOU, MELHOR O FEZ. POSICIONOU-SE À FRENTE DO PORTEIRO, COM UM PÉ DENTRO DA SALA E O OUTRO FORA, E QUESTIONOU SANKUDJA: «‘N PODI BA BÉBI ÁGUA LÂ NA KASA DONA TITINA*?» AO QUE SANKUDJA REORQUIU: «NHU BA XINTA ANTES DI NHU LÊBA UN TAPONA». E O MÁRIO ENTROU E ASSISTIU O FILME… SEM COMPRAR O COMPETENTE BILHETE. E SEMPRE QUE LHE DAVA NA TELHA DESAFIAR O SANKUDJA, LÁ APARECIA O MÁRIO* (TAMBÉM CONHECIDO POR COCOROTA E PEPINO) A FAZER A PERGUNTA SACRAMENTAL: «‘N PODI BA BÉBI ÁGUA LÂ NA KASA DONA TITINA?»
BEM… AS COISAS VIRIAM A ACABAR MAL PORQUE, ENTRETANTO, O MÁRIO DIVULGOU A TÁCTICA, DE TAL FORMA QUE UM DIA O SANKUDJA TINHA A «GERAL» PRATICAMENTE CHEIA, SEM RASGAR UM ÚNICO BILHETE. COM O SEU VOZEIRÃO DE GIGANTE, E DE DEDO EM RISTE, LIBEROU GERAL: «TUDO HOMI PA BAI BEBI ÁGUA LÁ NA KASA DONA TITINA. JÁ!» E, CLARO, NINGUÉM SE ATREVEU A DISCUTIR A ORDEM DADA. ALIÁS, QUEM OUSARIA CONTESTAR UMA DECISÃO DO SANKUDJA?

É DESTA PRAIA QUE ME LEMBRO COM SAUDADES. E É POR UMA PRAIA QUE POSSA DEIXAR TÃO INEFÁVEIS MARCAS, TAMBÉM NOS MEUS NETOS, QUE SIGO MOBILIZANDO COMPANHEIROS PARA UMA LUTA QUE DEVERIA SER DE TODOS, MAS QUE, INFELIZMENTE, NEM TODO MUNDO ABRAÇA.

QUE JAMAIS FALTE O BOM HUMOR AOS PRAIENSES! A MODOS DE NÃO PERDEREM A CAPACIDADE DE SE RIREM DE SI PRÓPRIOS, SENDO O CASO.

Monday, May 26, 2008

PRÉ-TESTE À NOVA CÂMARA

(Este texto fora publicado em 06 de Outubro de 2006 e os desafios que contém foram endereçados ao colectivo camarário, então em funções, a título de PROVA DE RECURSO. Convido os leitores a uma nova leitura,desta feita, para se aferir da razoabilidade ou não dos desafios, do nível de atendimento das referidas demandas e se não seria um bom desafio a lançar à actual equipa camarária, a título de, digamos, uma avaliação ex-ante. Uma boa leitura)
A CAPITAL

PROVA DE RECURSO: DE OUTUBRO DE 2006 A MARÇO DE 2008
“O homem superior é persistente no caminho certo e não apenas persistente.”

Confúcio

O ponto da situação da Capital do país, feito agora, no calor dos problemas de fornecimento de energia que ainda se vivem, do pó finíssimo (resíduo dos lamaçais das últimas chuvas) que invade casas, estabelecimentos e viaturas, das estradas transformadas em leitos de enxurradas, da precária situação sanitária, da ameaça de retorno de endemias que se acreditavam erradicadas, da ocupação abusiva dos passeios das ruas do centro histórico, da fuga ao legítimo exercício da autoridade, do insatisfatório upgrade da Praça Alexandre de Albuquerque, da redução do popular Cruzeiro em risível Crucifixo, do adiamento sine die do Estatuto Administrativo Especial para a Capital, do déficit de iluminação pública, dos problemas com o abastecimento de água, das torrentes de águas negras e outros resíduos drenados a céu aberto, do sentimento de insegurança instalado, da iminência de uma catástrofe na Ladeira Sampadjudo, na falência do tráfego rodoviário na zona sul da Capital, mostra um quadro negro, revelador de fragilidades várias que foram sendo escamoteadas por discursos optimistas, frutos de excessiva actividade onírica dos responsáveis locais, por alguma negligência de alguns sectores do poder central e por atitudes clubistas de uma boa parte da população residente.
A primeira ideia que nos vem à mente, diante de um tal quadro, é que muita gente falhou. A tentação em assacar culpas exclusivamente ao executivo municipal é enorme. Mas, em boa verdade, há mais culpados. Nós, cidadãos desta urbe, temos a nossa quota-parte de responsabilidades. Pecámos por acções e por omissões. O próprio Governo do país terá falhado algures, entre a saúde, as obras públicas, a segurança e a ordem públicas. Se não, como poderia a Capital política do país chegar ao ponto a que chegou?
Mas a hora não é de identificar e julgar os culpados. Como diria o grande Cabral, a hora é de ACÇÃO e não de palavras. Mas acção virada para a busca de soluções efectivas para os problemas identificados e não de mera verborreia para fazer o ninho atrás de orelhas incautas. Que isso pode iludir uns tantos, por uns tempos; mas vem uma chuvinha qualquer e a careca fica a descoberto. Aliás, já dizia Winston Churchill: ninguém consegue enganar todo o mundo durante todo o tempo. Um dia a casa vem abaixo. Mais tarde ou mais cedo.
Apesar da minha convicção de que o executivo municipal saído das eleições de Março de 2004 falhou, estaria disposto a dar a mão à palmatória se, entre Outubro de 2006 e Março de 2008, se conseguisse encontrar soluções para um conjunto de problemas que vêm degradando a qualidade de vida na Cidade da Praia. Afinal, tem um mandato de 04 anos e, conquanto não devesse cabular nos primeiros anos do mandato, nada impede que chegue à média mínima para obter a aprovação final, aplicando-se devidamente nos últimos dezoito meses. Será capaz de remover os factores que restringem a qualidade de vida do praiense? Cá vão alguns desafios:
1. DEVOLUÇÃO DAS ENXURRADAS AO LEITO DAS RIBEIRAS (em parceria com o Governo)
Não adianta agir na Vila Nova, em Lém Cachorro, no Paiol Velho, Lém Ferreira, Achadinha, Fazenda, Várzea ou Chã-de-Areia, sem que antes sejam feitas intervenções no sentido da colecta e encaminhamento das águas pluviais dos planaltos da Achada de São Filipe, Ponta d’Água, Achadinha Pires, Achada Grande, Eugénio Lima, Monte ou Achada de Santo António. A solução poderá ter um custo alto, mas valeria a pena ao se considerar a relação custo/benefício. E, em termos de definição do que deve ser feito, não exige nenhuma intervenção do outro mundo. Basta “construir” colectores que recolham as águas pluviais dos planaltos que enformam a cidade e as conduzam ao leito das ribeiras, sem passar pelo interior das residências ou pelas vias de circulação rodoviária. E, claro, a operacionalização da ideia, já com barbas, de construir a barragem de São Pedro/Bom Coio (na ribeira da Trindade) e da reconstrução da efêmera barragem de São Filipe (na ribeira do mesmo nome).
2. RESULTADOS NA RESOLUÇÃO QUESTÃO DO SANEAMENTO DO MEIO E DA SAÚDE PÚBLICA
Recolha e tratamento dos resíduos sólidos, regular limpeza dos logradouros municipais, deslocalização do mercado do Plateau e agilização dos mercados dos bairros, eliminação da torrente de águas negras da Ribeira de Lém Ferreira e da fossa da encosta do Hospital Agostinho Neto, intervenção na lixeira de «Baxo Ponta Belém», de modo a transformar a cidade num espaço ambientalmente saudável. Mas terão que ser os cidadãos a fazer a constatação e passar o competente «certificado» à Câmara. Que um discurso do Presidente anunciando a solução dos problemas já não convenceria ninguém. Medida complementar seria a obrigação de todos os estabelecimentos abertos ao público, comerciais ou não, disponibilizarem instalações sanitárias para os seus clientes e utentes. Sendo anuais as licenças dos estabelecimentos comerciais, poderá a CMP condicionar a renovação das mesmas a prévia prova de existência de WC para uso das pessoas que demandam os estabelecimentos.
3. RETORNO À NORMALIDADE NO CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE (em parceria com as forças da ordem)
Deslocalização do mercado (insiste-se neste ponto por ser crucial para a solução de um conjunto de constrangimentos que afectam a cidade) e remoção de quantos expõem e vendem mercadorias nas ruas travessas e passeios para os mercados dos bairros. Uma ocupação dos espaços deixados livres, por algum tempo e por agentes da autoridade, pode se tornar necessário. A transformação do mercado em espaço para exposição e venda de artesanato, flores, plantas ornamentais e «gifts» e opção por que a rua central do Plateau e algumas de suas travessas sejam reservadas à circulação pedonal, contribuiria grandemente para que o Plateau cumpra da melhor forma o seu papel de centro histórico.
4. EXERCÍCIO DESCOMPLEXADO DA AUTORIDADE
Já estando demasiado estafada a desculpa de que a população não colabora, o jeito vai ser mesmo aplicar os rigores da lei a quem «não colaborar» - velho eufemismo para rotular a incapacidade da autoridade municipal em fazer valer as posturas. Não sendo, de todo, uma terra sem lei, não pode ser assacada qualquer responsabilidade à população que só «não colabora» face à garantia de impunidade que lhe é transmitida pela inércia das autoridades.
5. UPGRADE CONSENSUAL DA PRAÇA ALEXANDRE DE ALBUQUERQUE
A Praça Alexandre de Albuquerque não tem de ser simplesmente o que a edilidade quer. Há necessidade de se conseguir amplo consenso junto da população e, principalmente, dos nossos anciãos. O ex-libris da cidade não pode ser a tradução do desejo de uma maioria circunstancial, mas antes do sentir da população da cidade e, sobretudo, dos anciãos que não se cansam de suspirar “Ah, Praça Grande, quem te viu e quem te vê!”. Vamos começar já?
6. REORDENAMENTO DO TRÁFEGO URBANO DE VIATURAS (em parceria com a Moura Company e/ou outros privados)
Que a intercomunicabilidade dos bairros deixa muito a desejar é uma espécie de verdade de la palisse. As últimas derrocadas provocadas pelas chuvas do início de Setembro pôs a nú mais esta fragilidade, insistentemente escamoteada durante muito tempo. É preciso, em processo de urgência, intervir para a transformação de tal realidade. A construção de terminais rodoviários interurbanos de passageiros, a norte da cidade (lá onde a circular se cruza com a via que liga a Praia ao interior de Santiago) e a sudoeste (por alturas da Caiada), como forma de obstar a entrada nos circuitos de circulação interna dos HIACES e demais transportes interurbanos de passageiros e aliviar a pressão sobre os referidos circuitos é outra medida que se impõe. A reativacção dos semáforos e a revisão dos demais sinais verticais e a reavaliação da localização de algumas passadeiras, são outras medidas inadiáveis, caso se pretenda, verdadeiramente, reordenar o tráfego urbano.
7. RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA
Sem comentários. A qualidade de vida e a segurança das pessoas e bens exigem a resolução imediata do problema. Mesmo que se tenha que optar por contratos particulares e ter um contador de electricidade em cada esquina. Os moradores de cada rua liquidariam as facturas junto do fornecedor do serviço e, depois, fariam jogo de contas com a CMP. Para grandes males...
8. DESCENTRALIZAÇÃO DA ACÇÃO MUNICIPAL, NO SENTIDO DAS PROPOSTAS DO EAEC, COM RECURSO A PROFISSIONAIS SELECCIONADOS PELO MÉRITO PESSOAL
A melhoria da performance da gestão da Cidade da Praia pode ter que passar pela descentralização da gestão. E nada impede que, enquanto não se aprova o Estatuto Administrativo Especial para a Capital, se comece a implementar, em regime experimental, a descentralização do poder municipal nos termos propostos no projecto do referido estatuto: divisão da cidade em cinco (ou sete) grandes circunscrições infra-municipais, colocando à frente de cada uma um administrador de circunscrição, seleccionado por meio de concurso público. Critério: mérito (traduzido em competência técnica e conhecimento e vivência das realidades da circunscrição).

Disse que o executivo municipal praiense falhou? Pois daria o dito por não dito, e estenderia a mão à palmatória, caso esta vereação resolvesse os problemas elencados acima, na parcela de mandato que ainda lhe resta. Seria a sua PROVA DE RECURSO.

ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Oração de São Francisco de Assis



Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

Wednesday, May 21, 2008

O NOVO SÍNDICO

“Soluções para os problemas das comunidades e não simplesmente… medidas e obras.»
in Manifesto da PRÓ-PRAIA

O condomínio da «PSMV» (Praia de Santa Maria da Vitória) elegeu, na Assembleia-Geral de Domingo último, um novo Síndico. A eleição foi muito renhida, tendo os dois candidatos disputado os votos taco-a-taco até ao último momento.
O Síndico cessante, dono de um charme que lhe valera já uma maioria simples e outra absoluta, em anteriores assembleias-gerais, viu a sua influência posta em causa pelo candidato que havia derrotado na assembleia-geral anterior. O que mudou de lá para cá? As qualidades pessoais dos candidatos? As necessidades do condomínio? O grau de exigência dos condóminos? A própria composição da assembleia-geral? Certo, certo, é que o que dera uma vitória folgada ao Síndico cessante, se revelou agora insuficiente.
O Síndico cessante continuou sendo um muito bom rapaz, charmoso, de verbo fácil, amigo dos amigos, um grande cultor do Condomínio «PSMV». O seu oponente cresceu, e muito, enquanto representante do condomínio no parlamento; apareceu nesta última assembleia-geral de motu-próprio (na anterior parecia ter entrado na liça a contra-gosto, empurrado, lembrando José Serra em uma das suas incursões à Prefeitura Municipal de São Paulo); e trazia o trabalho-de-casa feito.
O condomínio (sem dúvida o maior e o mais importante do universo nacional) cresceu bastante; conheceu algumas benfeitorias, mas viu muitos dos seus problemas se agudizando; cresceu, e de que maneira, mas isso não se reflectiu na qualidade de vida dos condóminos; assistiu-se ao agravamento das assimetrias entre os condóminos da cobertura e os da cave, ameaçando a diluição da coesão social no condomínio; a segurança e a tranquilidade periclitaram; o saneamento melhorou, mas não atingiu o grau exigido pelos condóminos; enfim havia coisas que clamavam por uma mudança no status quo. As necessidades do Condomínio pugnavam pela mudança de alguns paradigmas: não tanto a mudança de Síndico, mas e sobretudo, alterações de atitude e de postura na abordagem das questões, e mudança de estilo de gestão do Condomínio. Poderia até ser a mesma marca, mas o mesmo modelo… nunca.
O grau de exigência dos condóminos aumentou consideravelmente. A teoria da hierarquia das necessidades de Maslow e Herzberg ajuda a interpretar os fenómenos que se manifestam no condomínio: satisfeitas as necessidades básicas, outras, mais sofisticadas, se perfilam, e há que dar conta delas. Isso, por um lado; que, por outro, quem não tenha ainda as necessidades básicas resolvidas, concentra todo o seu ser nesse desiderato, não se disponibilizando para mais nada.
E o grau de exigência dos condóminos tem também muito a ver com a composição do grupo. Os candidatos pararam para pensar no número de novos condóminos que de 2004 a esta parte atingiram a idade de votar? Sondaram a contribuição que as populações da UniPiaget, do ISE, do ISCEE, do ISCJS, do 3º Ciclo do Ensino Secundário, podem estar trazendo para a qualidade dos votos do Condomínio «PSMV»? E a população de quadros jovens (muitos ainda em busca de um lugar ao Sol)? E a «internet», a televisão por cabo, o intercâmbio com outras culturas e outros modos de ser? E isso torna tudo mais complicado para os candidatos a Síndico. Na verdade, este Condomínio tem hoje um eleitorado de luxo: jovem, esclarecido, e que sabe o quer e para onde vai. Os candidatos a Síndico que se cuidassem, pois.
Daí que, nos tempos que correm, o que decide uma eleição para Síndico é MENOS quem o candidato seja, que qualidades pessoais tenha, e MAIS o que OFERECE para a satisfação das necessidades dos condóminos e as garantias de boa execução de políticas e medidas de política que a sua equipa dá.
Na última assembleia-geral do condomínio, quais foram as razões apresentadas pelos candidatos a Síndico para merecerem o voto dos condóminos? Vejamos as razões apresentadas pelos candidatos a Síndico para merecerem o voto dos condóminos:
- AS DEZ RAZÕES DO SÍNDICO CESSANTE
1. “«PSMV» Maior, «PSMV» Melhor”: A grande razão de cidadania de F. V.
2. Um Líder optimista
3. Um Político com resultados
4. Uma Marca dos praienses
5. Um Cidadão com visão do futuro
6. Um Autarca que sente e vive a Praia.
7. Um Homem de acção
8. Um Edil ousado
9. Um Promotor da “cidadania praiense”
10. Um Homem de afectos
- AS DEZ RAZÕES DO OPONENTE
1. Tornar a «PSMV» um Condomínio seguro
2. Tornar «PSMV» um Condomínio aprazível, bonito, ordenado, limpo e acolhedor
3. Reduzir as desigualdades e aumentar as oportunidades
4. Tornar a «PSMV» um Condomínio dinâmico
5. «PSMV» um condomínio do futuro – pôr a «PSMV» no mapa da Europa e do Mundo
6. Apostar na juventude, na cultura e no desporto
7. Exercer uma governação transparente e honesta
8. Ter um Síndico competente
9. Ter a equipa «sindical» (de síndicos) ao serviço de todos os condóminos
10. Ter orgulho de ser da «PSMV».
As dez razões do Síndico cessante têm TODAS a ver com a pessoa do candidato e pouco ou nada falam do que se oferece aos condóminos ; das dez razões do candidato oponente, NOVE têm a ver com o que o Síndico pensa OFERECER aos seus iguais, condóminos da «PSMV», e apenas um fala de uma qualidade pessoal. Razões centradas no candidato versus razões centradas nos eleitores.
Não tendo este trabalho a pretensão de descortinar as causas de um resultado, a um tempo, indigesto para o derrotado e saboroso e estimulante qb para o postulante vencedor, não há dúvidas de que «AS DEZ RAZÕES» submetidas pelos candidatos ao escrutínio dos condóminos da «PSMV» racharam o eleitorado ao meio. Poderão não explicar cabalmente os resultados, mas podem bem lançar pistas para a análise da questão.
Agora é esperar que o novo Síndico sirva o Condomínio e não se sirva do Condomínio como trampolim para outros voos, já que outros trilharam tal caminho e estão se dando mal. MUITO MAL.
Honra aos vencidos e Glória aos vencedores !

Monday, May 12, 2008

JÁ GANHOU!

“Prognóstico?! Só no final do jogo.”
João Pinto (capitão do FCP)


1. Sorrio sempre que me lembro desta celebérrima tirada do «agressivo» lateral direito do Futebol Club do Porto e da Selecção de Portugal. João Pinto pode ter sido traído na verbalização do seu pensamento, mas ninguém pode duvidar do que lhe ia na alma: só no final do jogo se fica sabendo para quem vão os 03 pontos em disputa. Durante muito tempo usou-se a fórmula «vitória garantida só depois dos 90». Depois da alucinante final da Liga dos Campeões que opôs o Manchester United ao Bayern de Munique, em que os ingleses deram a volta ao resultado depois dos 90 (no tempo de compensação pelas paralisações do jogo), o correcto mesmo passou a ser «só depois do apito final do árbitro».
Vem este intróito a propósito de um certo clima de «já ganhou!» que está sendo alimentado por algumas candidaturas nestas eleições autárquicas. É uma táctica perigosa, mormente em um país onde algumas pessoas ainda têm alguma dificuldade em digerir derrotas. Tanto mais quanto essa dificuldade é catalisada pelas garantias de vitória dadas a desoras e com alguma malícia. Tenho por mim que a ladainha da fraude, que se tem desfiado por aí, serve principalmente para justificar as vitórias saboreadas por antecipação, mas que, depois do apito final, se transformaram em amargos desaires.
Não se pretende aqui dizer que as euforias por conta de vitórias antecipadas são sempre produto de má fé. Nada disso. Há líderes, direcções de campanha e candidatos que apostam nisso como forma de «animar a malta»; há-os que acreditam piamente na vitória da respectiva candidatura; e há, também, aqueles que querem induzir um ambiente propício para a alegação de fraude como justificativa por uma eventual derrota. Há gente para tudo e mais alguma coisa.
Para as eleições de 18 de Maio próximo, haverá alguma candidatura que possa, com seriedade, cantar vitória por antecipação? Ou, como fizera o outro, possa meter já o champanhe na geladeira? Apesar de a história recente apontar os ocupantes do «cadeirão» municipal como potenciais vencedores do pleito, nem esses podem dar-se a esse luxo. Onésimo Silveira e Jorge Santos estiveram lá enquanto quiseram; Eugénio está lá, apesar do estardalhaço dos jovens turcos tambarinas, reclamando que é chegada a sua vez; Manuel Ribeiro está aí, de pedra e cal, apesar dos processos, de tal modo que o outro lado teve sérias dificuldades em arregimentar um candidato; Fernando Jorge está para durar em S. Domingos; etc. Mas há os casos de Pedro Alexandre Rocha (MpD - Santa Cruz) e Alcídio Tavares (PAI – Paúl) a atestar a possibilidade de ocorrência de excepções (na verdade, eles foram os únicos Presidentes de Câmara a falhar uma renovação de mandato). E apesar de nunca ninguém se ter interessado pelo apuramento das razões da ocorrência dessas excepções, tenho por mim que elas podem ser explicadas pelo estilo pessoal, pela maneira de ser, estar e relacionar. E que candidato poderá dizer, em sã consciência, que de tal água não beberá?
2. Mas, voltando à vaca fria, haverá quem, candidato ou partido, se possa considerar vencedor antecipado do pleito? Desejos, vontades, aspirações, haverá de montão e, diga-se em abono da verdade, legítimos. Mas daí a dar instruções ao pessoal da logística para adquirir champanhe… Mas, e prognósticos? Temos que, a João Pinto, esperar pela publicação dos resultados?
Apesar da dose de incerteza (que amplia a margem de erro de qualquer prognóstico) sempre se poderá avançar alguma leitura em relação aos resultados globais, os tais que são objecto da contabilidade dos partidos políticos, pela contribuição que podem dar para a «pole position» para as corridas de 2001 - as eleições Legislativas.
Quem vai ganhar estas eleições autárquicas? O PAI ou o MpD? Pelo historial das eleições locais realizadas até ao momento (04); pelo perfil dos candidatos e das lideranças partidárias em presença; pelas grandes alterações políticas surgidas em alguns municípios; diante do surgimento de cinco (05) novos municípios e da forma como forma montadas as Comissões Instaladoras; pela dinâmica de crescimento dos municípios; diante dos problemas resolvidos e por resolver; considerando a já tradicional capacidade do eleitor cabo-verdiano de «votar bem» (apesar dos derrotados sempre questionarem a qualidade dos votos que deram a vitória ao adversário); perante tudo isso, a mim me parece que o vencedor das eleições autárquicas de 18 de Maio próximo será o partido que conseguir conquistar, simultaneamente, as Câmaras do Paúl (Santo Antão) e de Santa Catarina (Santiago).
Se, entretanto, estas duas Câmaras forem divididas entre o PAI e o MpD, obviamente que as coisas mudam de figura, dependendo de quem fique com o quê:
a) Se o PAI mantiver Santa Catarina e o MpD conservar o Paúl, poderá então falar-se de uma situação de empate (podendo o PAI reclamar para si uma maioria sociológica);
b) Se o MpD ganhar Santa Catarina, perdendo o Paúl para o PAI, diria que o MpD ganhou as eleições, tendo em linha de conta a enorme diferença entre os territórios em presença (sem prejuízo de o PAI considerar estar perante um empate… técnico).

Mas, a ver vamos. Que, certezas, certezas, só depois do apuramento final.

Friday, May 2, 2008

PERFIL: SÍNDICO

“A sobrevivência no mundo actual exige uma forte liderança executiva, um intenso enfoque nos clientes e em suas necessidades e um projecto e uma execução superiores dos processos.”

Michael Hammer

1. Parece mais do que evidente de que uma coisa é ser presidente da Câmara Municipal de São Lourenço dos Órgãos e outra, bem mais complexa, por sinal, é ser presidente da Câmara Municipal da Praia. Não é a mesma coisa administrar Sanvicente ou administrar a ilha Brava, por exemplo. Todos somos iguais perante a lei, mas há-de se convir que o background que se exige para um presidente da Câmara Municipal do Sal, por exemplo, há-de ser mais acurado que o esperado de um candidato à presidência do município de Santa Catarina (da ilha do Fogo) p.e. (com o devido respeito pelas comunidades de Cova Figueira, Figueira Pavão Mãe Joana, etc.). Que o que se espera de um Presidente de Câmara Municipal da Praia, de Sanvicente ou do Sal, no momento actual, é substancialmente diferenciado do que se espera, p.e., do Presidente da Câmara Municipal de São Miguel. E que aplicar um mesmo regime remuneratório ao Presidente da Câmara Municipal da Praia e ao Presidente do Município do Tarrafal (de São Nicolau), p.e., parece um tanto ou quanto forçado, para não dizer, desproporcional.
A alguns dos visados pode parecer, à primeira vista, um despropósito tecerem-se tais comparações. Aos demais, soará a algo que há muito sentem, remoem, acham injusto, mas não verbalizam com receio do rótulo de soberba que lhes seria colado à testa. Mas a mim, que não sou, nunca fui, nem jamais conto ser, Presidente de Câmara (nem de Câmara/ilha, nem de Câmara/freguesia) nada me tolhe de fazer estas asserções, polémicas q.b.: (1) que não é justo aplicar o mesmo sistema remuneratório a um Presidente de uma (Câmara) ilha e a um Presidente de uma (Câmara) freguesia; e (2) que já vai sendo tempo de se estabelecerem uns mínimos para que um cidadão, ainda que em pleno uso dos seus direitos cívicos, possa aspirar a ser Presidente de uma Câmara como a da Praia, p.e. Até por uma questão de respeito pelos eleitores.

2. Cada munícipe há-de saber o que espera da sua Câmara Municipal, do seu Presidente de Câmara. Cá para mim, munícipe da Cidade da Praia, região em plena efervescência económica, a capital do empreendedorismo nacional, o Presidente da Câmara Municipal da Praia deve ter um perfil muito próximo do de um Síndico[1].
A comunidade do Município da Cidade da Praia pode ser encarada como um grande condomínio, onde pontificam trabalhadores por conta de outrem, trabalhadores por conta própria, profissionais liberais, empresários, políticos, diplomatas, profissionais de futebol, religiosos, etc.; usinas, estabelecimentos comerciais, igrejas, escolas públicas e privadas, embaixadas, stands de automóveis, pequenas unidades de produção; todos envolvidos em grande azáfama, típica de economias emergentes.
Há uma grande produção de riqueza, espelhada no contributo do município para o PIB nacional; há uma enorme circulação de dinheiro, atestada pelo INE (diz a instituição que mais de 55% dos negócios feitos em Cabo Verde acontecem na Cidade da Praia); existe uma respeitável legião de micros, pequenas e médias empresas, oferecendo soluções para as cada vez maiores exigências de uma urbe cosmopolita, amante do bom e do melhor.
Tudo isso junto, transforma o município da Praia numa região ímpar, a nível do país: atrai gente bem, cérebros, capitais, know how, por um lado; por outro, tem uma produção monstra de resíduos sólidos; tem um consumo gigantesco de água e energia; atrai a delinquência de todos os cantos do país e não só.
Tal gente bem, cérebros, empresários, profissionais liberais, diplomatas, governantes, modestos, mas honestos, trabalhadores; esses homens e mulheres que se arvoraram em motores do progresso da cidade e do município; estes condóminos; precisam se concentrar nos seus afazeres e na família para que a cidade siga crescendo, continue sendo o principal centro de negócios do país, e se transforme, paulatinamente, em um centro de referência desta secção do Atlântico.
Insistindo na metáfora do condomínio, tais condóminos precisam de um Síndico à altura da sua contribuição. E esse Síndico (ou equipa de síndicos) viria a ser o Presidente da Câmara (ou o Colectivo da Câmara). Ocupar-se-ia de manter as condições ideais para que os produtores de riqueza se sintam bem e tenham um óptimo ambiente para seguirem desenvolvendo os seus negócios; para que a Cidade continue a atrair cérebros, capitais e know-how; para que a comunidade em geral mantenha uma boa qualidade de vida. Cuidar do saneamento do meio; prover a iluminação pública e o abastecimento, ininterrupto, de água e energia; promover a cultura, o desporto e a recreação; velar pela boa ordem e pela utilização racional dos recursos (fundiários, financeiros, humanos e outros) e dos espaços verdes da cidade e do município; seriam as funções básicas do Síndico (e de sua equipa).
Perante um tal posicionamento da edilidade, não resisto a lançar a questão: qual dos candidatos à presidência da Câmara Municipal da Praia, lhe parece mais talhado para a função? Felisberto ou Ulisses?
[1] «Administrador de condomínio» no português europeu.