Friday, September 28, 2007

PARA GRANDES MALES... GRANDES REMÉDIOS

Qual é o sonho de consumo de qualquer empresa ou empresário? Estará certo quem responder desta forma: TER O MONOPLÓLIO DA PRODUÇÃO E DA DISTRIBUIÇÃO DE UM BEM ESSENCIAL. Que só ele possa produzir e vender, em todo o território nacional, um bem de que todos precisem, ninguém possa viver sem, e todos estejam dispostos a pagar o preço que for fixado. Mais: que os preços sejam fixados na base dos custos de produção+ amortizações+lucros razoáveis. Como por exemplo a água e a electricidade: todos precisam, ninguém consegue viver sem, e todo o mundo está disposto a pagar o justo preço, para garantir o fornecimento ininterrupto de tão preciosos bens.
Então, porque a ELECTRA tendo um tal negócio (DA CHINA, dir-se-ia) está praticamente falida? Digo falida, porque é o que se diria de uma micro empresária que fabricasse doces de leite e, a páginas tantas, não pudesse honrar os compromissos junto dos fregueses porque… não tinha dinheiro (NEM CRÉDITO) para comprar gás para acender o fogo e fazer o seu docinho. Na ELECTRA, segundo confessou um dos Fortes que a administram, falta dinheiro (e CRÉDITO) para comprar combustível para produzir energia eléctrica e água. Salvaguardadas as proporções…

Mas como foi possível chegar-se a um tal estado de coisas? Bem… não há tesouraria que resista às situações em que a empresa se enredou (ou foi enredada, como se preferir):
1. O pagamento do aluguer dos grupos instalados na Avenida João Belo (frente ao Motcha);
2. O pagamento do aluguer dos grupos da ER instalados em Palmarejo Grande;
3. Aquisição de gasoil (substancialmente mais caro que o fuel oil) para funcionamento dos grupos alugados;
4. O fornecimento de energia GRATUITAMENTE para uma grande franja da população;
5. Manutenção em funções de agentes que, em conluio com terceiros, furtam e roubam os bens produzidos pela empresa a duras penas;
6. A insistência em manter o seu centro de decisão longe da Capital (que é onde as coisas acontecem, onde os problemas podem conhecer uma solução e, last but not least, onde tem maiores negócios e maiores problemas).

São problemas a mais para uma empresa que sempre primou por uma gestão pouco ou nada agressiva. Mas nem por isso se pode desistir de encontrar soluções duradouras.
No momento o maior problema da empresa é o depauperamento da tesouraria: capital de giro volatilizado, crédito estourado, credibilidade zero. No imediato, e para evitar males maiores, a solução que se vislumbra é a de sempre: vir o Tesouro público em socorro da Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada.
Mas isso não resolve o problema. E nem é justo: os contribuintes sufragaram o plano de privatizações exactamente para não mais terem de ser eles a financiar as acções tendentes a evitar que as empresas públicas rolem ladeira abaixo. Precisam-se soluções duradouras, que ataquem as causas para evitar as consequências.
Antes de mais, é preciso que a empresa “fure” a fila, de modo a ver se consegue adquirir geradores próprios para que possa escapar da hemorragia para a sua tesouraria (ou para a tesouraria do Estado) que representa o pagamento do aluguer dos grupos de socorro instalados em Palmarejo Grande e em Chã de Areia. Convirá que os novos grupos geradores, a adquirir, utilizem óleo combustível mais barato e que a sua acção seja complementada por injecção de energia eólica (menos do que 10% da capacidade instalada será sempre uma má solução).
Outra medida urgente (para ONTEM) é a cessação do fornecimento de energia eléctrica a título gracioso para uma representativa franja da população do arquipélago. A empresa tem que ser capaz de se defender das pessoas e dos empregados que atacam a rede para usufruir de energia a custo zero ou mediante pagamento a quem não deviam.
Para grandes males… grandes remédios. A empresa precisa saber quem é quem lá dentro, a modos de poder saber com quem, de facto, pode contar na batalha para abolição do usufruto de energia sem pagamento ao pagador/distribuidor. Tem que contar com o poder judicial e inventar incentivos para poder contar com a disponibilidade total da polícia. De posse de um mandato judicial, uma equipa composta por um oficial de justiça, um leitor e uma escolta policial pode passar os bairros a pente fino: porque o leitor sabe as casas onde habitualmente faz leituras e entrega facturas para pagamento, bastava verificar as casas que utilizam energia eléctrica mas não têm contador, nem recebem facturas, pelo menos pelas vias normais. A seguir, impunha-se agir em conformidade. O Fortes (o da Comissão Executiva) que pergunte ao mano (o Comandante) como conseguiu o interesse da polícia na introdução e manutenção da ordem no caos que eram os acessos e os estacionamentos do Porto da Praia. E aí, é só seguir a receita.
Outro constrangimento tem a ver com a ausência de uma estrutura com capacidade negocial e de decisão do centro onde as coisas se decidem, se arranjam. É o Conselho de Administração, a Comissão Executiva, todas as instâncias, fora do centro nacional das grandes decisões, dos grandes negócios, dos créditos substanciais, dos problemas também. O autismo dos accionistas nesta matéria é de bradar aos céus! Obrigam o Presidente da Comissão Executiva a “morar” na ponte aérea Praia/Sanvicente, sem necessidade e com custos (passagens, ajudas de custo, comunicações e, quiçá, aluguer de viaturas) perfeitamente dispensáveis. E para quem tem a tesouraria no estado em que a ELECTRA tem a sua…
Acho bem que o Governo, por ora, abra os cordões à bolsa e nos socorra (e à ELECTRA). Mas deve deixar claro que há um conjunto de situações que têm de ser modificadas, sob pena de não mais o Tesouro (os contribuintes, na verdade) acudir à tesouraria da empresa. Algumas delas:
a) A resolução célere da questão do aluguer de grupos geradores, pela via do aceleramento do processo de aquisição de geradores próprios (“furando” a fila de espera se for o caso;
b) Acção rápida e em concertação com o poder judicial, a polícia e as associações de base comunitária, para pôr fim à utilização de energia eléctrica sem pagamento ou com pagamento a terceiros;
c) Identificação e desligação, em processo de urgência, dos agentes da empresa que remam contra os interesses da mesma;
d) Instalação na Capital de uma estrutura executiva, com a necessária capacidade negocial e poder de decisão com o escopo de conferir maior agilidade à empresa seja na resolução dos problemas, seja ainda na moralização da actuação dos seus agentes.

Assim como está, não pode continuar.
Soube, pelo próprio, que o Presidente da Comissão Executiva não gostou de uma intervenção minha a propósito da ELECTRA. Certamente não irá gostar de mais esta. Só lhe peço que não meta a nossa velha amizade no meio desta trapalhada toda. Tem de entender que a ELECTRA, muito antes dele, já era uma pedra no sapato dos praienses. E que sempre temos lutado para poder contar com um serviço melhor, com mais qualidade e fornecido de forma ininterrupta. Se nos conseguir isso, vai ser o nosso HERÓI. Mais do que os rapazes do AFROBASKET 2007.

Vamos sair do buraco?

Thursday, September 20, 2007

UMA PROPOSTA PARA A SUBVENÇAO DO PREÇO DO LIVRO: EDITOR 20%, ESTADO 30%

O LIVRO - UM AMIGO DE PALAVRA
É um mundo muito especial esse que envolve escritores, editores, gráficas, revisores e leitores. E, sem dúvida, o exemplo mais eloquente de "INTERDEPENDÊNCIA".
Imagine-se se, de repente, esse mundo ficasse sem escritores. O que acontece? A vida continuaria a existir. Seria um bom momento para por as leituras em dia, fazer "revisões da matéria dada", vegetar. Até que editores, gráficos, revisores e leitores, um deles se decidisse a correr o risco de ser escritor. Afinal, tudo tem solução. O escritor, o editor, o gráfico e o revisor são, ao cabo e ao resto, profissões mais ou menos assumidas. Com a crise de emprego que o mundo atravessa, rapidamente alguém se travesteria numa dessas profissões. Por gosto ou pela necessidade de não deixar faltar o pão na mesa dos putos que, nessa matéria, são surdos a qualquer explicação.
Imagine-se agora esse nosso mundinho sem leitores!
A quem se dirigiria o escritor? Em quem centraria o seu pensamento quando constrói as personagens, as situações, o enredo, o desenlace?
Alguém se atraveria a assumir a edição de obras literárias sem leitores? O que faria o editor? Fecharia as portas?
E o livreiro, esse indispensável intermediário entre o editor/escritor e o leitor, o que faria sem leitores?
As gráficas e os revisores terão sempre muita coisa a fazer. Impressos, formulários e bulas sempre manterão esse pessoal ocupado. E treinados. Para dias melhores, quando os leitores retornarem. Que retornariam, não haja dúvidas. Nem esse mundinho imaginário, nem este nosso mundão real se aguentariam sem o bom amigo das horas tranquilas: o livro, esse amigo de palavra.
Haverá uma possiblidade real de um dia desaparecerem os leitores? Sei não. O certo, porém, é que é preciso ampliar o acesso aos livros, a modos de cada vez haver mais leitores. Assim, diante de um agudizar da crise, os leitores não desapareceriam. Estar-se-ia apenas diante de um universo menor, mas longe da extinção.
Mas falar de conquistar mais leitores, ampliar o acesso aos livros, etc., está-se tornando conversa enfadonha. É preciso passar da palavra aos actos.
Falava outro dia da necessidade do Estado subvencionar os livros. Talvez não uma subvenção generalizada como o meu discurso poderia fazer crer, mas uma subvenção selectiva, muito bem direccionada. Por exemplo, dirigida aos estudantes e cidadãos de baixa renda. Era só outorgar cartões especiais aos beneficiários e orçamentar os montantes necessários para cobrir a subvenção de... digamos 30% sobre o preço de capa.
Assim fazendo, um livro com o preço e capa de 1500$00, ficaria por 1050$00 (1500-450). Se o esforço para a ampliação dos caminhos de acesso aos livros não for suportado apenas pelo Estado, o desembolso do leitor pode baixar ainda mais. Se, por exemplo, o editor/escritor abrir mão de 20% do preço de capa, o livro de 1500$00 chegaria ao leitor pela módica quantia de 750$00 (1500-450-300).
Será isso factível? Poderia o tesouro público suportar isso? A mim parece-me que sim. AoTesouro público caberá definir o que vale a pena subvencionar: se a gasolina (como sucedeu num passado não muito longínquo, 136-79=57$00 o litro) ou se o livro, o tal amigo de palavra.
Por mim, e enquanto escritor/editor, abri já mão de 20% do preço de capa do livro SAPATOS DE DEFUNTO (1500-300=1200). E fica o desafio ao PODER (e ao tesouro público): DÁ-SE TANTA IMPORTÂNCIA AO LIVRO QUANTO SE PROPAGA POR AÍ? Dá-se? Então que sigam as minhas pisadas e avancem com uma subvenção, se não de 30% como sugerido, ao menos ao meu nível - 20%.
Isto já não é apenas uma ideia a abraçar. É uma inicitiva sem volta. Pelo menos no que a mim diz respeito. Quererá o Tesouro abraçar esta iniciativa?
Quem viver verá!