Monday, May 12, 2008

JÁ GANHOU!

“Prognóstico?! Só no final do jogo.”
João Pinto (capitão do FCP)


1. Sorrio sempre que me lembro desta celebérrima tirada do «agressivo» lateral direito do Futebol Club do Porto e da Selecção de Portugal. João Pinto pode ter sido traído na verbalização do seu pensamento, mas ninguém pode duvidar do que lhe ia na alma: só no final do jogo se fica sabendo para quem vão os 03 pontos em disputa. Durante muito tempo usou-se a fórmula «vitória garantida só depois dos 90». Depois da alucinante final da Liga dos Campeões que opôs o Manchester United ao Bayern de Munique, em que os ingleses deram a volta ao resultado depois dos 90 (no tempo de compensação pelas paralisações do jogo), o correcto mesmo passou a ser «só depois do apito final do árbitro».
Vem este intróito a propósito de um certo clima de «já ganhou!» que está sendo alimentado por algumas candidaturas nestas eleições autárquicas. É uma táctica perigosa, mormente em um país onde algumas pessoas ainda têm alguma dificuldade em digerir derrotas. Tanto mais quanto essa dificuldade é catalisada pelas garantias de vitória dadas a desoras e com alguma malícia. Tenho por mim que a ladainha da fraude, que se tem desfiado por aí, serve principalmente para justificar as vitórias saboreadas por antecipação, mas que, depois do apito final, se transformaram em amargos desaires.
Não se pretende aqui dizer que as euforias por conta de vitórias antecipadas são sempre produto de má fé. Nada disso. Há líderes, direcções de campanha e candidatos que apostam nisso como forma de «animar a malta»; há-os que acreditam piamente na vitória da respectiva candidatura; e há, também, aqueles que querem induzir um ambiente propício para a alegação de fraude como justificativa por uma eventual derrota. Há gente para tudo e mais alguma coisa.
Para as eleições de 18 de Maio próximo, haverá alguma candidatura que possa, com seriedade, cantar vitória por antecipação? Ou, como fizera o outro, possa meter já o champanhe na geladeira? Apesar de a história recente apontar os ocupantes do «cadeirão» municipal como potenciais vencedores do pleito, nem esses podem dar-se a esse luxo. Onésimo Silveira e Jorge Santos estiveram lá enquanto quiseram; Eugénio está lá, apesar do estardalhaço dos jovens turcos tambarinas, reclamando que é chegada a sua vez; Manuel Ribeiro está aí, de pedra e cal, apesar dos processos, de tal modo que o outro lado teve sérias dificuldades em arregimentar um candidato; Fernando Jorge está para durar em S. Domingos; etc. Mas há os casos de Pedro Alexandre Rocha (MpD - Santa Cruz) e Alcídio Tavares (PAI – Paúl) a atestar a possibilidade de ocorrência de excepções (na verdade, eles foram os únicos Presidentes de Câmara a falhar uma renovação de mandato). E apesar de nunca ninguém se ter interessado pelo apuramento das razões da ocorrência dessas excepções, tenho por mim que elas podem ser explicadas pelo estilo pessoal, pela maneira de ser, estar e relacionar. E que candidato poderá dizer, em sã consciência, que de tal água não beberá?
2. Mas, voltando à vaca fria, haverá quem, candidato ou partido, se possa considerar vencedor antecipado do pleito? Desejos, vontades, aspirações, haverá de montão e, diga-se em abono da verdade, legítimos. Mas daí a dar instruções ao pessoal da logística para adquirir champanhe… Mas, e prognósticos? Temos que, a João Pinto, esperar pela publicação dos resultados?
Apesar da dose de incerteza (que amplia a margem de erro de qualquer prognóstico) sempre se poderá avançar alguma leitura em relação aos resultados globais, os tais que são objecto da contabilidade dos partidos políticos, pela contribuição que podem dar para a «pole position» para as corridas de 2001 - as eleições Legislativas.
Quem vai ganhar estas eleições autárquicas? O PAI ou o MpD? Pelo historial das eleições locais realizadas até ao momento (04); pelo perfil dos candidatos e das lideranças partidárias em presença; pelas grandes alterações políticas surgidas em alguns municípios; diante do surgimento de cinco (05) novos municípios e da forma como forma montadas as Comissões Instaladoras; pela dinâmica de crescimento dos municípios; diante dos problemas resolvidos e por resolver; considerando a já tradicional capacidade do eleitor cabo-verdiano de «votar bem» (apesar dos derrotados sempre questionarem a qualidade dos votos que deram a vitória ao adversário); perante tudo isso, a mim me parece que o vencedor das eleições autárquicas de 18 de Maio próximo será o partido que conseguir conquistar, simultaneamente, as Câmaras do Paúl (Santo Antão) e de Santa Catarina (Santiago).
Se, entretanto, estas duas Câmaras forem divididas entre o PAI e o MpD, obviamente que as coisas mudam de figura, dependendo de quem fique com o quê:
a) Se o PAI mantiver Santa Catarina e o MpD conservar o Paúl, poderá então falar-se de uma situação de empate (podendo o PAI reclamar para si uma maioria sociológica);
b) Se o MpD ganhar Santa Catarina, perdendo o Paúl para o PAI, diria que o MpD ganhou as eleições, tendo em linha de conta a enorme diferença entre os territórios em presença (sem prejuízo de o PAI considerar estar perante um empate… técnico).

Mas, a ver vamos. Que, certezas, certezas, só depois do apuramento final.

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