“Caso teu irmão fique pobre e assim esteja financeiramente fraco ao teu lado, então tens de ampará-lo. Como residente forasteiro e colono tem de ficar vivo contigo.”
Levítico 25:35
Li há uns tempos, ainda moço, a estória passada com um menino, em uma escola americana, nos finais do terceiro quartel do século passado. O professor prometeu um doce a quem respondesse correctamente à pergunta «QUEM ERA A FIGURA MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA UNIVERSAL?». Seguiu-se a manifestação de uma pequena floresta de mãozinhas elevando-se no ar e de um coro de «EU SEI, PROFESSOR, EU SEI».
Mas, passados alguns instantes e depois de várias tentativas fracassadas, eis que, do fundo da sala, se ergue um rapazinho apelando, com personalidade, «Posso falar, Sotôr?
«A figura mais importante da história é o nosso grande HENRY KISSINGER» – declarou o miúdo, com convicção. Fortemente ovacionado, por incitação do professor, deslocou-se até ao estrado para receber o prémio. De volta à carteira, ao passar rente a um colega, segreda-lhe «É claro que a figura mais importante da história, de todos os tempos, é MOISÉS. Mas, conhecendo o nosso professor, soube logo qual era a resposta que ele esperava.»
Esta instrutiva anedota teve um grande impacto na minha maneira de enfrentar desafios. Aprendi que as respostas que garantem prémios têm menos a ver com o seu valor intrínseco do que com o seu valor relativo: as colocações ganhadoras precisam ter em conta os valores do julgador. E comecei a olhar para a saga de Moisés com olhos de ver: o homem que me tinha sido apresentado como um simples profeta era, na verdade, o maior condutor de homens de todos os tempos.
Moisés nasce numa conjuntura super-complicada para o seu povo. Um povo numeroso, uma Nação forjada na escravatura, longe do território de origem dos seus ancestrais. Apesar de ter sido educado como príncipe egípcio, poupado aos sacrifícios consentidos pelos seus irmãos de sangue, cedo se deu conta de que não pode haver um oásis de felicidade quando, à nossa volta, tudo o que se vê é um deserto de injustiça, sofrimento e desespero. Respondendo à voz do sangue, Moisés faz o que, milénios depois, Cabral chamaria de «suicídio de classe»: assume a oposição ao Faraó, deixa as benesses do palácio, planeia e executa o maior êxodo de que há memória.
Se a incumbência livremente assumida por Moisés é, de longe, superior aos 12 trabalhos impostos a Hércules, se somarmos a isso o facto de ele ser gago, ficamos com a noção clara da importância desta figura mítica da história do homem na Terra.
Persistente e criativo (um autêntico McGiver de antanho) lá conseguiu realizar a «missão impossível» que era convencer o Faraó a abrir mão da sua formidável e barata força de trabalho. Formidável e convincente, conseguiu mobilizar todo um povo, vencendo medos, resistências e oposições, fazendo-o embarcar na maior aventura de todos os tempos: A BUSCA DA TERRA PROMETIDA.
Convenceu o Faraó com recurso a estratégias, tácticas, esquemas e operações que desestabilizariam qualquer potentado e demoveriam o mais empedernido coração. Reagrupou o seu povo, agindo como o líder mais bem preparado o faria: demonstrando coragem, fé, perseverança e generosidade; calando desconfianças; oferecendo o estímulo certo – a Terra Prometida, indo «desde o rio do Egipto até ao grande rio, o rio Eufrates» (descrição de Gênesis 15:18).
A Terra Prometida - que Moisés garantia ter maná, leite e mel em abundância - tem mais, muito mais, significado do que o meu catequista conseguiu fazer passar. É o território que faltava a uma Nação, para que pudesse se erigir em ESTADO.
Depois do duelo com o Faraó, Moisés conduz o seu povo através do deserto por um período de, aproximadamente, 40 anos. De luta em luta, de provação em provação, vencendo arrependimentos, enfrentando oposições, Moisés institui um Parlamento (a Assembleia dos Maiorais das Tribos), dota o seu povo de uma Constituição Moral (o DECÁLOGO), fá-lo monoteísta convicto e condu-lo até à entrada do território prometido.
Mas Moisés não é apenas um grande condutor de homens, líder convincente e homem de palavra. Ele deixa-nos uma lição de desapego ao poder: conduzindo o seu povo até à entrada do território prometido, e considerando ter levado a bom termo o desafio que se impusera, abdica do poder em favor de Josué, que é quem, de facto, acaba comandando a ocupação do território. É este o homem (que se diz ter sido muito belo e ter vivido por 120 anos) que o miúdo da escola americana considerou ser a figura mais imponente da história universal. E não é difícil compreender a escolha do rapazote. Entre o antigo Secretário de Estado norte-americano (uma das personalidades mais marcantes do séc. XX) e Moisés (personagem central de quatro dos cinco primeiros livros das Sagradas Escrituras – Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio) não é difícil escolher.
Concluíra, na altura, que o miúdo seria judeu, tendo em conta a convicção de que Moisés seria a figura mais importante da história universal. Mas esse miúdo poderia ser o «nosso» Barry Obama ou qualquer criança a quem fosse dado a conhecer a saga de Moisés.
Aliás, estou torcendo para que tenha sido o Barry. Assim como assim, o 44º Presidente dos Estados Unidos da América não perderia de vista o esforço titânico consentido pelo príncipe Moisés para dar um território a uma Nação desenraizada. Havendo terra que chegue para todos, porque se haveria de permitir, em pleno século XXI, que um povo, uma Nação, comece (ou recomece) a vaguear pelo deserto? Pessoalmente, não tenho qualquer dúvida que Obama saberá dizer NÃO seja à pretensão da clique dirigente de Telavive (um grande Israel, sem Palestinianos por perto); seja à pretensão dos radicais árabes (a Palestina para os Palestinianos, negando a evidência da existência do Estado de Israel), a modos de os povos que habitam essa região não esqueçam, jamais, do seu papel na consolidação dos dois Estados – Israel e Palestina.
Se Moisés é uma das maiores figuras da história, de SEMPRE; e se Henry Kissinger é uma das mais importantes figuras do século XX; porque não promover a candidatura de Barack «Barry» Obama ao título de maior figura do século XXI?
O século mal começou, há ainda muito chão a percorrer, mas se Obama conseguir (1) resolver a crise e fizer dos Estados Unidos da América a superpotência, económica e militar, que foi na década de 60 (se bem que, em boa verdade, o rei nunca tenha chegado a perder a majestade); (2) levar a PAZ e a RECONCILIAÇÃO, a ESTABILIDADE e o DESENVOLVIMENTO ao Oriente Médio; (3) atinar com uma saída airosa das arapucas em que “Bush & Company” meteram os USA, no Iraque e no Afeganistão; (4) instalar e desenvolver uma política externa pragmática, sem deixar de ser justa, e propiciadora da distensão entre povos, países e regiões; (5) combater e vencer a intolerância e a violação dos direitos humanos, seja onde for que se manifestem, evitando, a todo o custo, soluções de «dois pesos e duas medidas»; entrará, sem sombra para dúvidas, para a galeria das figuras mais veneradas do século XXI, e poderá aspirar a ser lembrado sempre que se fale do lendário MOISÉS, o SALVO DAS ÁGUAS.
De Moisés a Obama, do alfa ao ômega, o princípio e o fim da maior aventura de todos os tempos?
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