Wednesday, July 6, 2011

SEM PANINHOS QUENTES

“Eu nunca erro e raras vezes me engano.”ANÍBAL CAVACO SILVA

Não compreender que um fiel escudeiro sucumba à necessidade de agradar ao seu cavaleiro, ainda que, para isso, tenha de distorcer a realidade, é levar as coisas para um campo onde não se toleram sonhos, devaneios, ilusões. Não esquecer que esse campo fértil – lúdico para o comum dos mortais, mas realidade para uns tantos pajens e quejandos – permitiu a Cervantes tecer uma das mais belas peças da literatura ibérica e mundial. Quem não ouviu falar de D. Quixote de La Mancha, do seu fiel escudeiro Sancho Pança e da sua amada Dulcineia? Os cavaleiros contra os quais D. Quixote lutava não eram senão moinhos de vento? Dulcineia só existia na realidade particular do cavaleiro? Que importa? Para agradar o amo, Sancho Pança deixa tudo e embarca na doce e mansa loucura do amo.
A pergunta que faço é «Porque não contemporizar, também, com os devaneios e distorções da realidade do fiel escudeiro de D. José Maria? Importará o facto de eu nunca ter sido militante do MpD se isso der um jeitinho para incrementar umas loas ao amo e ao protegido do amo? Importará o facto de os mpdistas considerarem que, enquanto cronista, fui mais duro com os Governos do MpD de que com os de JMN? Importará o facto de ser um homem realizado, e, por isso, livre de embaraçantes laços, comestíveis e não só? Importa que eu seja reconhecido como o homem que «mata o bicho e mostra o pau?» NÃO. O que importa é a realidade virtual e o desejo de fazer-me passar por alguém que procura algo para si e para os seus. É preciso agradar ao amo e senhor. Mas entra na cabeça de alguém (que não esteja senil, nem obcecado) que alguém que queira algo do poder confronte – como tenho confrontado – José Maria Neves e Carlos Veiga, as duas pessoas mais vocacionadas para dar cartas por aqui? A verdade é que a minha militância pela Praia e por Cabo Verde; a minha coerência e coragem de dar o nome aos bois; e a peculiaridade de não deixar que uma posição adoptada ontem, inquine minhas posições de hoje e/ou no futuro; incomodam. Eu sei disso! Mas fazer o quê? Eu sou assim. Parodiando uma modinha brasileira da segunda metade do século XX, costumo cantar

«EU, SOU EU

CABO-VERDIANO, CASADO, MAIOR

QUEM QUISER QUE ME FAÇA OUTRO

SE É CAPAZ DE FAZER MELHOR».
Quando JMN tremeu na base ante a primeira vaga ofensiva de Veiga, chamei a atenção dele para o facto de não haver razão para estar no estado em que encontrava e que ainda podia dar a volta por cima. E acredito que ele deu a volta por cima mais pela minha sacudidela do que pelo lustro dos seus flanelinhas. Quando fiz a minha declaração de voto nas legislativas fiz questão de sublinhar que o meu sentido de voto, a favor de JMN, não significava que ele fosse algum nec plus ultra, mas apenas que o seu projecto era o menos mau para Cabo Verde, no momento. Quando levantei a voz e assumi a dianteira da luta contra a eventualidade de Veiga ou Neves virem a servir de barriga de aluguer para o Primeiro-ministro da VIII Legislatura, movia-me – como sempre – a defesa dos sagrados interesses de Cabo Verde e de suas gentes. Eu sou assim. Guia-me a coerência. E não me preocupa absolutamente nada que ora me colem ao MpD, ora me colem ao PAI. Quando as minhas posições coincidem, pontualmente, com as de qualquer destes partidos fico feliz. E sabem porquê? Porque sinto que não estou sozinho; que há pontos de convergência; e que, em havendo pontos de convergência, não será de todo impossível gerir as sinergias e construir um tremendo consenso à volta de questões em que estamos condenados a nos entendermos.
E agora, quando a questão presidencial ocupa todos os cabo-verdianos, não se vá querer comprometer-me. É tarefa votada ao insucesso. Tenho uma posição clara e que pode se resumir em três pontos, a saber:
1. Não voto Manuel Inocêncio Sousa (MIS) por não lhe reconhecer qualidades para ser um bom Presidente da República – não parece preparado, não tem discurso, não se disponibiliza para a sabatina e não dá garantias de se constituir em guardião da Constituição da República, base e limite dos poderes;
2. Não voto Aristides Lima por razões meramente conjunturais. Integrou um processo de luta pelo poder dentro do PAI, havendo um enorme risco de levar essa contenda intestina para a Presidência da República. E tendo as coisas chegado ao ponto a que chegaram, entre o candidato oficioso do PAI e o Presidente do partido, o facto de JMN ter dado o primeiro carro da escuderia para MIS vai estar sempre entre os dois. Sendo um deles já Chefe do Executivo, importará evitar que o outro chegue a Chefe de Estado. Para bem de todos e felicidade geral da Nação;
3. E VOTO Jorge Carlos Fonseca, ZONA, porque ele me enche as medidas – passa pelo crivo montado para escolher o melhor candidato; tem mente aberta e um bom discurso; é articulado; não foge à sabatina, antes deseja-a; e mostra-se capaz de ser um bom Presidente: sapiente e com as condições todas para exercer uma magistratura de influência com ampla abertura de espírito, liberdade e autonomia.
Mas respeito quantos tenham opinião diversa da minha. E mais: a opção por um candidato não significa que esteja vaticinando a vitória de tal candidato. Significa tão-somente que me disponibilizo para o bom combate a favor de tal candidato, apostando o «JOCKER» para o tornar vencedor. Nós, os democratas, somos assim. Fazer o quê?
Detalho, abaixo, as razões porque não voto nenhum dos dois candidatos do PAI e porque defendo o voto em Jorge Carlos Fonseca, ZONA.
Ei-las, SEM PANINHOS QUENTES :
1. Manuel Inocêncio Sousa, se chegasse a ser Presidente da República, na actual conjuntura, levaria a que a Constituição se transformasse em um limite tão elástico que não se constituiria em limite nenhum ao Executivo;
2. A relação de MIS com JMN nunca chegaria a ser aquela parceria institucional que se deseja, já que as parcerias exigem que ambas as partes se mantenham erectas, sem subserviência de uma em relação à outra;
3. MIS foge aos debates, não porque não é jurista, como peregrinamente se quer fazer crer; foge porque não está preparado para os debates. Não é páreo para um Jorge Carlos Fonseca, nem – manda a verdade que se diga – para Aristides Lima;
4. Aristides, conquanto pilote o segundo carro do PAICV, tem mais pedalada que Inocêncio, mas tem contra si o facto de poder levar para a Suprema Magistratura da Nação a guerrilha que dá ânimo à sua candidatura;
5. Aristides, enquanto animador da briga de galos para o apetecível poleiro de José Maria Neves, não é uma boa opção, por poder levar longe de mais o seu desagravo em relação a JMN, fazendo perigar a estabilidade das instituições;
6. Ninguém acredita numa coabitação pacífica e frutífera, para Cabo Verde e para os cabo-verdianos, entre Aristides Lima e José Maria Neves, o que chama a atenção para o candidato Jorge Carlos Fonseca, ZONA;
7. Jorge Carlos Fonseca, ZONA, é, claramente, a segunda escolha de José Maria Neves, que vê nele um parceiro mais leal, mais transparente e mais democrático, do que Aristides Lima;
8. Jorge Carlos Fonseca tem todas as condições para assumir o papel de guardião da Constituição, fazendo com que ela funcione como base e limite dos poderes, sem a subserviência de Inocêncio, nem a animosidade de Aristides;
9. O académico Jorge Carlos Fonseca que levou Cabo Verde a integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e a presidir o, sem dúvida, mais poderoso órgão da ONU, tem o arcaboiço e os contactos internacionais para ajudar JMN a conduzir aos mais altos patamares a nossa pátria amada, Cabo Verde;
10. Jorge Carlos Fonseca, ao contrário de Manuel Inocêncio e de Aristides Lima, não é instrumentalizável, o que lhe permite a máxima abertura, liberdade e autonomia na Chefia do Estado cabo-verdiano.

Que se registe para a posteridade que:
a) Defendo o voto em Jorge Carlos Fonseca porque ele é um excelente candidato e tem tudo no lugar para ser um excelente Presidente da República e um muito bom parceiro para José Maria Neves;
b) O que faz com que pessoas do próprio PAICV não escolham Manuel Inocêncio de Sousa para candidato não tem a ver com o facto de não ser jurista. É porque não vêm nele alguém capaz de exercer uma magistratura de influência, de fazer com que a Constituição se afirme como base e limite dos poderes, e que quer entrar mudo e sair calado de um pleito destes ;
c) Aristides Lima, candidato número 2 do PAICV, deixou de ser uma boa opção, ao enveredar pelo caminho de açular apetites em relação ao cadeirão de José Maria Neves, dando indicações de que manteria um tal comportamento se chegasse à suprema Magistratura da Nação. Ora isso é coisa que tem de ser esconjurada. Cabo Verde precisa de estabilidade, precisa de um Chefe de Estado que seja árbitro do sistema. E quem participa de um jogo que visa apear o Presidente do seu Partido e, por inerência, Chefe do Executivo, não pode chegar à Suprema Magistratura da Nação ;
d) Pessoalmente, ficaria inchado de orgulho tendo à frente dos destinos de Cabo Verde, na actual conjuntura, a dupla Neves/Fonseca.

Por tudo o que ficou dito, declaro a minha decisão de votar JORGE CARLOS FONSECA e sugiro aos democratas nacionais que busquem conhecê-lo melhor, para nele votar, EM SÃ CONSCIÊNCIA.

No comments: