Wednesday, July 20, 2011

A ELECTRA E A LEITEIRA

Tivera, em tempos, um contrato com uma pequena vacaria que se comprometera a me fornecer leite bom, 7/7 dias.

As coisas nunca correram lá muito bem, mas a senhora que geria a vacaria, mui respeitável, lá nos ia mantendo como clientes.

A páginas tantas, as quebras na qualidade do leite e no fornecimento atingiram tal proporção que chamámos a senhora à pedra.

Explicou-nos que (i) tinha problemas de incompetência entre os administradores da unidade; (ii) havia pastores que vendiam leite por fora e embolsavam o dinheiro; (iii) que havia uns marotinhos que, pela calada da noite, ordenhavam as vacas e fugiam com o leite; (iv) que havia uns clientes que recebiam leite e não pagavam; e que, imagine-se! (v) algumas vacas se mamavam durante a noite, reduzindo, por isso, a produção de leite.

Explicámos-lhe que lamentávamos muito a sua desgraça, mas que nenhuma das razões apontadas justificavam deixar de entregar leite aos clientes que cumpriam a sua parte no trato. Que (i) a incompetência dos administradores não podia ser considerada uma fatalidade, porque sempre poderia pô-los com dono (se não serviam como gestores que fossem fazer qualquer outra coisa, plantar batatas, o escambau); que (ii) a traição dos pastores poderia ser sanada com a recolha de provas e subsequente desligação dos mesmos (e que a relação de trabalho com os novos contratados devia ser mais flexível, a modos de, por exemplo, permitir a desligação dos infiéis); que (iii) para o caso do furto do leite, devia arranjar uns cães ferozes, chamar a POP e a Judiciária, e mesmo contratar um corpo de vigilantes; que (iv) em relação aos clientes relapsos devia cortar-lhes o fornecimento do leite e accioná-los na justiça para o pagamento das dívidas; e que (v) para o caso das vacas que se mamavam a saída seria umas “pescoceiras” e uns “barbitches” que as impedissem de se mamarem e de mamarem umas nas outras. Pareceu não gostar muito, mas ficou calada.

Porém, quando as coisas se agudizaram e a clientela se organizou para protestar contra o incumprimento reiterado do contrato por parte da vacaria, um dos administradores achou-se no direito de nos recomendar que em vez de protestar contra a vacaria o melhor que tínhamos a fazer era (i) esquecermos da incompetência dos administradores porque se eram mantidos lá por décadas e mais décadas devíamos presumir que seria por eles serem uns nec plus ultra, uns bambambans da gestão; (ii) vigiar os pastores que remavam contra a vacaria, vendendo leite por fora; (iii) convencer os miúdos que furtavam a leitaria a deixar de fazê-lo; (iv) a fazer uma manifestação contra os clientes que não estavam pagando o leite que consumiam; e que, na medida do possível, (v) devíamos colaborar com a vacaria para ajudar no controlo das vacas que se mamavam e mamavam umas nas outras.

Na altura, não mandei a administradora pastar, chatear à leviana da sua progenitora, ou ir lavar as suas partes, tendo em consideração que já tinha umas repas de cabelo branco e, principalmente, porque sou um cavalheiro.

Mas agora, aparece-me um administrador da empresa de electricidade e água com a mesma lenga-lenga. Que o melhor que os consumidores tinham a fazer era se manifestarem contra aqueles que furtam energia da rede, os que não pagam as suas contas em dia, os que, trabalhando na empresa, remam contra ela.

O administrador em causa tem já cãs e calva na cabeça mas não escapará a que o mandemos chatear à leviana e badalhoca da progenitora. Se se confessa impotente para resolver os problemas da empresa, devia era deixar o cargo para quem saiba e possa, indo trabalhar naquilo que percebe, plantar batatas, em último caso. Endossar as suas responsabilidades para os consumidores é que não. É o cúmulo da falta de vergonha na cara. Que monte armadilhas aos seus técnicos que fazem ligações clandestinas; que compre cão, apele pela PN, pela PJ, contrate um corpo de “Guarda-fios”; que contrate a empresa do Abner de Pina ou a do Mário Silva, ou ambas, para lhe cobrarem as dívidas difíceis; mas que, em relação aos clientes com contas em dia, só tem uma coisa a fazer – FORNECER ÁGUA E ENERGIA ELÉCTRICA DE FORMA INITERRUPTA E EM BOAS CONDIÇÕES DE USO. PONTO FINAL.

A ELECTRA não tem crédito junto dos fornecedores de peças de reposição; não tem crédito na banca; não tem crédito junto da ENACOL e da SHELL; não tem crédito junto da sociedade cabo-verdiana. E já estou a ver o espertalhão, na comunicação social, responsabilizando os clientes, os cidadãos, as associações pela regularização das suas relações com os credores. Haja saco!

Os clientes da ELECTRA deviam era exigir, aos accionistas da empresa, a imediata destituição do administrador ou administradores que, em vez de fazerem o que deve ser feito, passam o tempo empurrando os problemas com a barriga ou – E ESTA PARECE SER UMA NOVA TÁCTICA – endossando as responsabilidades aos clientes da empresa.

1 comment:

velu said...

O NOSSO CONTRATO (CONSUMIDORES) COM A EMPRESA (ELECTRA) NAO PREVE EM ITEM ALGUM A FISCALIZACAO DO IMOVEL....NEM DE P...NENHUMA....SIMPLESMENTE SE RESUME A FORNECER (ELECTRA) E PAGAR (CONSUMIDOR)...BEM DIZES..VAO MAS E PLANTAR BATATAS...EU DIRIA MAIS...VAO MAS E CATAR LIXO! TOU FARTA DESTA FALTA DE ASSUMPCAO DE COMPROMISSOS NESTA TERRA! O PROBLEMA JA SE GENERALIZOU! NINGUEM TEM A CULPA....E SOBRA SEMPRE PARA O POVO, QUE INFELIZMENTE NAO USA DE SEUS DIREITOS PARA COLOCAR OS PONTOS NOS i'S! RAIOS PARTAM!