Tuesday, February 17, 2009

DA ORAÇÃO À ACÇÃO II

A TESOURA DO BUROCRATA
“A excelência numa actividade complexa exige um nível mínimo e crucial de prática”
Malcom Gladwell

Preocupa-me muito o efeito da tesoura dos burocratas sobre as pessoas que querem que também na Administração Pública haja o toque mágico da Qualidade, haja participação desejada e aceite, que não seja o mesmo «feijão-com-arroz» de sempre, rebaptizado com outro nome. É que a frustração pode dar cabo da boa-vontade dessas pessoas.
O sucesso desses burocratas mata no ovo o desejo de participar, a iniciativa, a criatividade e o culto da inovação. Bloqueando a afirmação de agentes de mudança, acabam sufocando, à nascença, toda e qualquer tentativa de mudança. E isso porque, por aqui, as coisas não são resolvidas nem com a frontalidade, nem com a lisura, que devem enformar os processos democráticos de tomada de decisão. Não. Após algum recrudescimento de agressividade na defesa das posições, falso indicador de que se está no caminho certo, acontece, de repente, a radicalização, pura e simples: o burocrata-mór apoia, de forma desbragada, os conservadores e, com uma condescendência pouco menos que obscena, se permite respeitar o ponto de vista do outsider. Para rematar, e com um paternalismo muito mal disfarçado, abre-lhe a possibilidade de participar da consolidação da posição da linha dura. Pode haver violência maior? Você se ver obrigado a optar entre a posição dos burocratas de serviço (pouco menos que interesseira) e a sua convicção (entretanto banida, não pelo peso dos argumentos, mas pelo argumento do peso… dos burocratas)?
A escolha parece ser óbvia, não é? Mas como conviver com o estigma, derivado de acusações gratuitas - mais sussurradas do que verdadeiramente verbalizadas - como o de que somos mercenário ao serviço de uma quimérica quinta coluna?
Militante ferrenho da terceira via, choca-me ver jovens (e não só) forçados a ter de escolher o «arroz-com-feijão», servido a desoras, diante da eventualidade da condenação da numenklatura, caso se opte por um suculento peito de novilho, assado à padeira, com batatas cozidas e esparregado. É que há sempre espaço para sonhar e melhorar. SEMPRE! Assistimos à busca de um vector político entre o Imperialismo americano e o Social-imperialismo russo; testemunhámos a aproximação de teses entre economistas marxistas e capitalistas; continua-se procurando, nas políticas, um equilíbrio entre o económico e o social, entre a liberdade e a segurança. Sem que tivessem caído nem o carmo, nem a trindade! Resultados? Talvez não sejam os ideais, mas lá estão eles, para quem tem olhos e queira ver: o fim da guerra-fria; um grupo, cada vez maior, de economistas marxianos; o estado social de direito democrático; o alastramento da economia de mercado. Por essas e por outras, torna-se preciso ousar, assumir riscos calculados; importará aceitar e conviver com a diferença; valerá SEMPRE a pena dar um safanão no pânico, diante do novo.
Parafraseando JFK, é chegada a hora de deixar de pesquisar o que o nosso país pode fazer por nós, e de começar a inventariar o que podemos fazer pelo nosso país. E, principalmente, é mister que o executado passe a ser uma tradução criativa, fiel e coerente do planeado. Para o bem de todos e para a felicidade geral da Nação.

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