Monday, February 11, 2008

AGENDA VILA NOVA

“Heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar.” Jean Girandoux

HOMENAGEAR É RECONHECER. NÃO É SOMENTE UM ACTO DE MAGNANIMIDADE, MAS TAMBÉM, E SOBRETUDO, UMA FORMA DE ERIGIR EM VALOR SOCIAL A OBRA DE CERTAS PESSOAS. Assim introduz a Liga das Associações da Vila Nova o texto do diploma que presta homenagem a alguns filhos daquele velho bairro da Cidade da Praia.
Os jovens da Vila Nova decididamente resolveram fazer com que a Vila Nova esteja na moda. Que nem Cabo Verde.
Onde já se vira antes, em Cabo Verde, jovens homenageando, em um mesmo acto, os seus notáveis, velhos e jovens como eles próprios? Onde já se vira antes, em Cabo Verde, uma comunidade homenageando pessoas ainda vivas, portanto aptas a sentirem a alma e o coração a procurarem o caminho da boca para fugirem do aperto da emoção? Onde já se viu, neste nosso cantinho boiando no Atlântico, uma comunidade com a extensão da da Vila Nova, com 05 associações e ambas se entendendo tão bem e funcionando em rede? Eu nunca vira nada parecido. Sou suspeito? Aceito que alguém torça o nariz diante do meu julgamento. Mas tenho testemunhas.
Sim, senhor. Tenho testemunhas. A TCV, o Vereador Varela Neves, os automobilistas que passaram por Vila Nova e Moinhos na tarde do último Domingo, as pessoas que se relacionam com o bairro. E eu. Ponho a mão esquerda sobre a Bíblia, levanto a mão direita e presto juramento, se fizerem questão.
Vivi um momento ímpar. Havia tanto orgulho, tanta convicção e tanta confiança na voz da apresentadora da sessão, a escritora Yara Santos, que todos os presentes acabaram contagiados. O tanto de emoção que li no rosto do senhor Fernando Vasconcelos, o querido Nanande de Totôi (de que as lágrimas que se soltaram dos seus olhos são apenas uma pequena mostra) mexeu com presentes e passantes. Enfim, vivemos um momento impróprio para cardíacos.
Chegados aqui, tenho que me confessar, fazer a mea culpa e o acto de contrição. Eu confesso que já perdera a fé na ressurreição da minha Vila Nova querida; confesso que se não fosse pela minha mãe e pela minha sogra (que ainda ali moram e não trocam a Vila Nova por nada deste mundo), pelos interesses que a minha mulher ainda aí mantém e por o meu codê ser o ponta-de-lança da equipa federada local, talvez tivesse chegado a desistir.
É que é super complicado. Vila Nova, por descaso dos poderes é ainda um bairro onde você investe 10 mil contos num imóvel e cinco anos depois estará valendo apenas 5 mil e oxalá! É um acinte! Se alguém aplicar 10 mil contos no Platô, na ASA, ou em Palmarejo A, cinco anos depois verá o valor do seu património, no mínimo, duplicado. Por essas e por outras é que eu acabei plantando as minhas poupanças no Platô, o Mário Semedo e o Adriano de Pina foram para o Palmarejo, o João Serra, o Daniel SILVES Ferreira e o Daniel BRANCO Ferreira para a ASA, o Mário Ambrósio para a Fazenda, and so on. Todos querendo ficar, mas tendo que partir. É doloroso qb.
Mas porque os poderes deixaram instalar um tal estado de coisas? É assim que pretendem intervir para a redução das assimetrias de desenvolvimento entre os bairros do Norte e do Sul? Criando condições para que, em cinco anos, o setentrião perca 5 milhões, e o meridião ganhe 10 milhões? É assim? É isso? Não acredito na tese da conspiração contra os bairros onde o grosso da população é oriundo do interior de Santiago e da ilha do Fogo (com os autóctones constituindo uma orgulhosa, simpática e receptiva minoria)? Nem, tampouco, na outra que presume a predisposição de privilegiar os bairros mais novos, a Sul, em razão da sua capacidade de pressão. Não acredito. Mas acho que é chegada a hora de os poderes demonstrarem, por a+b e a quantos acreditem na tese da ostracização da Vila Nova, que tal tese é falsa. E que o quadro que se vive hoje é fruto de mera negligência e de um sem fim de coincidências.
Acho que Jacinto Santos estará em boa posição para falar do espaço e do tempo que a Vila Nova ocupou na sua agenda. Felisberto Vieira (que depois de oito anos, tenta mais um mandato de 4 anos) que suba no palanque e preste contas (diga e justifique o tempo que dispensou aos problemas da Vila Nova) e faça compromissos para o próximo mandato (o que vai oferecer à Vila Nova e às suas gentes, se o bairro terá representação na sua lista e que garantias nos dá). José Ulisses Correia e Silva que nos diga se enquanto menino da Praia, alguma vez parou em Vila Nova nas suas deslocações ao interior da ilha? Se enquanto titular da pasta das finanças alguma vez a sua atenção foi atraída pela ausência sistemática deste bairro dos projectos para que alocava recursos? É capaz de, sem cicerone, chegar a Vila Nova e conseguir sair? Não confundirá Travessa com Ponta d’Água, Moinhos com Lém Cachorro? E, last but not least, o que tem em mente em relação a Vila Nova (o que vai oferecer à Vila Nova e às suas gentes, se o bairro terá representação na sua lista e que garantias nos dá de que nos considerará melhor que seus antecessores, como ele da ASA).
O sentimento que lá na velha Vila Nova comungamos é que o meu amigo Jacinto Santos nunca se importou com o bairro. Sabia dos problemas da “Ladêra Sampadjudo” e não fez nada, nem pediu ao Governo do seu partido que fizesse; sabia da invasão silenciosa de Safende, do surgimento da Tchetchénia e não mexeu um dedo para ajudar ou orientar a instalação de mais um dormitório clandestino da cidade. Não aproveitou as verbas chorudas que o seu correligionário Pinto Monteiro administrava e destinada à protecção de encostas. Os fundos eram destinados ao meio rural? Ora, faça-me o favor. Desculpa de maus pagadores. Vila Nova, ao tempo, estava tão ou mais rural do que São Domingos.
Não temos dúvidas que o também meu amigo Felisberto Vieira (triste sina a minha, não é? meus amigos me deixam super mal perante meus vizinhos) não fez quanto exigia a situação. A situação na “Ladêra Sampadudo” deteriorou-se a olhos vistos; as enxurradas de Ponta d’Água e da Achada Monteagarro trespassam Vila Nova na sua caminhada para o oceano, deixando os moradores atolados em lama e sufocados pelo fino pó (proveniente da lama que não foi raspada e secou sobre as faixas de rodagem); não fez o suficiente para que fosse mantido o compromisso da asfaltagem da estrada interior da povoação adentro do pacote «asfaltagem da estrada Praia/São Domingos» (estava lá, mas passaram corrector sobre); não sei se estará fazendo o suficiente para que tal compromisso seja retomado no pacote «Asfaltagem das Vias da Praia» (DEVIA ESTAR, NÓS FARTÁMO-NOS DE SUGERIR ISSO, MAS ESTARÁ???); terá feito a necessária pressão, no ponto e momento certos, para fazer acontecer algo que pudesse ser a salvação da juventude de Vila Nova (todo mundo reconhece o nosso edil como sendo um homem forte dentro do PAI e todos ainda se lembram do vila-novense João Serra com as pastas das finanças e do planeamento).
Do Ulisses se poderá sempre dizer «coitado, só conhecia Vila Nova de ouvir dizer». Tudo bem. Mas o que tem a dizer agora que é, MAIS UMA VEZ, candidato a Presidente da Câmara da Praia? Vai se comprometer com a questão das encostas, maximé, com a “Ladêra Sampadjudo”? Vai-se comprometer com a asfaltagem da estrada interior de Vila Nova? Vai incentivar a prática do Desporto no Bairro? O bairro vai ter representação na sua lista? Vai tentar conhecer o bairro e suas gentes e seus problemas?
Os jovens vila-novenses deram no último fim-de-semana prova cabal da sua capacidade de reconhecimento. Reconhecem, agradecem e homenageiam todos aqueles que contribuem (ainda que de forma modesta ou por dever de ofício) para o desenvolvimento e a afirmação de Vila Nova. Por isso, Filú e Cutice, vai valer a pena firmar um pacto com Vila Nova. Até porque o pessoal nem pede muita coisa: protecção das encostas e intervenção de requalificação na Ladêra Sampadjudo; upgrade das vias de circulação interna (com a indispensável colecta das águas pluviais e seu reencaminhamento para o leito das ribeiras, sem passar pela estrada, nem pelo corredor dos moradores); o aproveitamento, em prol da colectividade, do espaço anteriormente ocupado pelo antigo mercado; a «dragagem» e subsequente aproveitamento do leito das ribeiras; visitas diárias do camião do lixo; iluminação pública; fomento das actividades desportivas; incentivos fiscais e abertura de linha de crédito, com juros bonificados, para que Vila Nova volte a ser o Chicago de Cabo Verde (em um passado recente foi o maior distribuidor de carnes verdes, linguiças e miudezas) a modos de poder criar empregos para os seus jovens; e pouco mais.
Algum dos candidatos quererá, com hombridade, firmar um contrato social a Jorge Figueiredo? Que os nossos votos podem muito bem ser para ele. E olha que não somos poucos. Estamos dispersos, atentos e vigilantes, por todo o município. E depois da sacudidela que foram as homenagens do último fim-de-semana então…

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