Friday, January 18, 2008

O BOM PASTOR

“Para que o mal triunfe, basta que as pessoas de bem não façam nada.”
Edmund Burke

Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.
Quem conhecer o Novo Testamento já terá identificado este pequeno extracto. É isso mesmo: João 10:11-15.
Apelei para a Sagrada Escritura porque é chegada a hora de os bons pastores se perfilarem para tomar conta do rebanho que Deus depositou neste aprisco reduzido que é o nosso Cabo Verde.
Quando o mercenário não dá conta do recado, pelo menos sozinho, é chegada a vez do pastor. Do bom pastor.
Eu sou do tempo em que o pastor não deixava o seu rebanho entregue unicamente ao mercenário. Tenho excelentes lembranças dos grandes movimentos que foram a JAC (Juventude Agrária Católica), a JEC (Juventude Estudantil Católica), a JOC (Juventude Operária Católica) e a JUVENTUDE NAZARENA.
Reuniões, retiros, passeios, acampamentos e festas onde se falava de Jesus, do próximo e do futuro. Verdadeiras escolas de vida, estufas de espiritualismo, de onde se saía sempre de alma lavada.
Por onde andam os pastores de então? Porque não lhes seguem as pegadas os pastores de hoje? Logo HOJE que as ameaças ao rebanho são bem maiores? Porque deixar os cordeiros entregues exclusivamente ao mercenário? E olhe que é previsível que o mercenário fuja, exactamente porque é mercenário. E está provado que não cuida das ovelhas tão bem quanto o pastor.
Correndo embora o risco de parecer saudosista, não posso deixar de me lambuzar nas lembranças das lições na Escola Paroquial de D. Páscoa (primeiro na Fazenda, depois no Bairro Craveiro Lopes), das reuniões na casa da Carlota de Nho Donnai Vieira e no Salão Paroquial, dos passeios em São Jorge dos Órgãos, dos retiros no Seminário de São José, dos encontros da Acção Católica em São Lourenço dos Órgãos, da grande movimentação juvenil que foi «OS JOVENS ESCOLHEM DEUS» e que coincidiu com o falecimento do Papa João XXIII, dos primeiros namoricos, da primeira comunhão, da comunhão solene… enfim, com a lembrança dos tempos dos pastores que cuidavam das suas ovelhas.
Lembro-me com saudade dos cultos, a que nunca faltava, na Casa de Nhô Tchina Cardoso, perto do local onde foi encaixada a ponte “velha” da Vila Nova, e das intrigas que sofria por parte de um coleguinha que me denunciava junto de Dª Páscoa (da escola paroquiana que frequentava); do acordeão afinado que animava os cultos; dos brindes que recebia; do casal irlandês que liderava a Igreja dos Nazarenos (Senhor Eads e Dona Jess, era como nos referíamos a eles); dos cânticos (transbordando, transbordando…); que sei eu!? Saudades.
Lembro-me, com tristeza, da lamentável cena entre o pároco de S. Nicolau Tolentino e um grupo de Nazarenos que queriam levar os cultos para São Domingos, e onde entrou a famigerada «ganhoma». Lamentável, mas faz parte da nossa história. Não há que escamotear. Antes pelo contrário.
Outro dia, deram-me conta do Reverendo Adérito Ferreira (da Igreja do Nazareno) com um pastor da Igreja dos Adventistas do Sétimo Dia e um sacerdote Católico, vindo da Cidade Velha dentro de uma mesma viatura, em amena cavaqueira. Não é bonito isso?
Mas pode se tornar muito mais bonito que isso, se se juntarem e arquitectarem uma estratégia URGENTE para a salvação do rebanho cabo-verdiano. Principalmente dos cordeiros de Deus confinados neste aprisco do Atlântico. Que nós outros (carneiros velhos e ovelhas de casco duro) cá nos arranjamos. Entendemo-nos com os mercenários ou nos safamos se eles fugirem. Mas os nossos cordeiros são presa fácil neste atoleiro global. É a hora dos bons pastores. E temo-los bons. Conheço o Adérito e o Padre Ima desde sempre; conheci o Padre Ildo no Fórum «A Semana» em São Vicente (e ele me deixou maravilhado); tenho assistido às missas de Sábado rezadas pelo Reverendo João Baptista, se não me falha a memória (e tenho-me deliciado com a sua maneira de comunicar); falaram-me das maravilhas do jovem padre do Tarrafal; e garantiram-me que o Padre Angelino, da paróquia de Nossa Senhora da Graça, afinal, tem muito para dar. E quantos jovens padres e diáconos receberam o Sacramento da Ordem nos últimos 05 anos? E a ideia de Dom Arlindo a respeito dos Diáconos casados? Maravilha!!!
Com um Bispo tão jovem como Dom Arlindo, com o rejuvenescimento do quadro dos sacerdotes e pastores, com o recurso a diáconos «laicos», as Igrejas estão em condições de virem em ajuda dos respectivos rebanhos. Que estão precisando mais do que nunca dos seus pastores. E ou muito me engano ou a Igreja é a única salvação com que os nossos jovens podem contar.
Eu sempre defendi que as Igrejas se devem interessar pelo que se passa no país, que devem ajudar os seus fiéis a evitar que sejam levados na curva pelos mercadores de promessas, que não devem se alhear da política. Mas entendo, também, que não devem tomar partido, que não devem participar da luta pelo poder, que não devem mancomunar-se com a situação, nem fazer oposição política. O posicionamento incondicional ao lado do rebanho, a busca de soluções para o rebanho, a superação espiritual e cultural do rebanho e a própria salvação do rebanho, pelo tempo que consomem, deixam os pastores com a água pelas barbas. Duvido que lhes sobrasse tempo para a luta pelo poder político. A não ser que descurassem o rebanho…
Eu desejo (e conheço um monte de gente com o mesmo desejo) que os pastores se voltem para o seu rebanho. Eu rogo ao rebanho que se esqueça dos deslizes de um passado recente em que alguns pastores, no afã de libertarem as suas ovelhas, se meteram em campanhas políticas (passou, acabou… finito). Eu imploro aos jovens pastores (não importa que credo professem) que se unam no projecto de recuperação e salvação dos cordeiros do seu rebanho. «Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor» (João 10:16) – é como nós, integrantes desta sociedade, gostaríamos que pensassem os pastores das diversas confissões religiosas.
A sociedade não pode continuar dividida como está. Há demasiados problemas cuja solução clama pela união dos cidadãos e que ficam adiados ad aeternum, porque a camisa de força dos partidos políticos impede que os militantes enverguem, vez por outra, a camisola da cidadania. As drogas, as DST, o álcool e as quadrilhas mantêm a nossa juventude sitiada, com péssimas perspectivas de futuro. Os pais - trabalhando ambos fora de casa, para garantirem o pão e a escola dos filhos - vêem-se impotentes diante da força dos sitiantes. Diante disso tudo, o sinal de esperança por que se espera é o som da trombeta anunciando a carga da cavalaria dos pastores do rebanho de Deus, vindo em salvação dos cordeiros de Deus. Que se nos aniquilarem hoje os cordeiros… de onde virão os carneiros e as ovelhas de amanhã? Quem governará este país? Recorreremos, novamente, aos portugueses? Ou será a algum canadiano?
Pela reunião do rebanho e pela salvação dos cordeiros, Pastores de todo o país, UNI-VOS! Velhos, novos e renovados pastores, acendei a candeia e alumiai o vosso rebanho.
Mexam-se, enquanto é tempo. Mas mexam-se. Se não for por nós, que seja pelo claro aviso do SENHOR:
«Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho! A espada cairá sobre o seu braço e sobre o seu olho direito; e o seu braço completamente se secará, e o seu olho direito completamente se escurecerá.» Zacarias (11:17)

A verdade, MEU BOM PASTOR, é que nós estamos precisando dos pastores - a quem, um dia, nos confiastes - como do pão para a boca. ALELUIA!

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