Tuesday, January 15, 2008

DESAFIOS

“Os dias prósperos não vêm ao acaso; são granjeados,como as searas, com muita fadiga e com muitos intervalos de desalento.” Camilo Castelo Branco

País de rendimento médio ou não, os maiores desafios de uma economia moderna são o aumento da produção e da produtividade, a redução dos desperdícios e a conquista de mercados. E, claro, um Governo que governe e pugne pela ética na gestão da coisa pública.


Produzir mais por cada unidade de tempo, produzir mais com menos, produzir soluções e não meros produtos. E cultivar a qualidade total, claro.
Produtos, qualquer um pode disponibilizar para os mercados. O problema é que hoje o cliente não se contenta com um mero produto. Quer é soluções para o problema que o apoquenta. E se se quer manter o cliente satisfeito, a saída é manter-se atento e facultar-lhe a solução do seu «problema», com qualidade e em tempo oportuno. E atenção: a qualidade não se injecta ao produto acabado que se vai disponibilizar. Ela tem que nortear o pensamento do produtor, desde a concepção até à embalagem. «Satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta» vai ter de deixar de ser mero slogan para passar a ser o princípio norteador dos mercadores de soluções.


Produzir com qualidade e disponibilizar a solução no prazo negociado e a preço competitivo é um desafio e peras. Implica tolerância ZERO em relação aos desperdícios. De tempo, de material, de dinheiro, de credibilidade. E aqui desperdício é toda a actividade que consome recursos e não gera valor. O retrabalho e a iteração, a deficiente utilização dos materiais, as aquisições fora de portas de materiais e equipamentos que existem localmente, são ineficiências que redundam em desperdícios de tempo, material, dinheiro. E que dizer das encomendas atendidas e que depois nos batem à porta como devoluções, por não terem satisfeito as especificações do cliente? Desperdícios. Desbaratou-se, para além de outras coisas, sobretudo credibilidade.
Produzir com qualidade implica ter administradores e gerentes de primeiro nível; mão-de-obra qualificada; tecnologias de ponta; relações laborais saudáveis; materiais e instruções disponibilizados em tempo oportuno; correcta administração de tempos e ritmos.
Administradores que sabem o que querem e para onde vão e que sejam capazes de administrar os estímulos certos, em cada momento, para a motivação dos seus operários.
Mão-de-obra qualificada, comungando da linguagem dos encarregados, supervisores e gerentes e, sobretudo, com completa noção do que seja desperdício e do como evitá-lo. O engajamento com os objectivos e com os compromissos da organização é condição essencial ao sucesso. O administrador, gerente ou encarregado que perder isso de vista está cometendo um pecado capital em matéria de cumprimento de prazos e da qualidade total.
A existência de organizações sindicais que representem condignamente os trabalhadores, mas que não percam de vista que não podem sufocar o empregador, sob pena de este (mais os empregos) desaparecer. Ao cabo e ao resto, neste mundo competitivo, patrões e empregados devem assumir-se como parceiros na luta por um lugar ao sol para o produto que garante a subsistência do trabalhador e paga os luxos do patrão.
Entre nós, o Conselho de Concertação Social tem de deixar de ser um mero espaço para discussão de salários para passar a ser um verdadeiro espaço de concertação, onde podem ser gerados pactos fundamentais para a motivação dos trabalhadores e para a sobrevivência dos empregadores. Durante muito tempo (demasiado tempo) o empenho do trabalhador foi estimulado pelo chicote. Passado esse tempo de má memória, os patrões recorreram a esquemas científicos para cálculo de salários «justos» e puseram de pé interessantes sistemas de benefícios e incentivos. Nos dias que correm, diante do excesso da procura de emprego em relação à oferta de postos de trabalho, na vigência de legislação que flexibiliza as relações de trabalho e perante a má influência que foi a deserção do Estado de Bem-estar Social, a tendência é o estabelecimento de, no mínimo, iníquas relações laborais. Em tal cenário, a recuperação do Conselho de Concertação Social como espaço para negociação de pactos para a melhoria da produção, da produtividade e da qualidade, com ganhos reais para ambas as partes, seria uma atitude inteligente.


A conquista de mercados é uma exigência incontornável. O mercado interno é diminuto, os investimentos, seja para a indústria, seja para a prestação de serviços com qualidade, são avultados. A saída para a rentabilização dos investimentos e para a sobrevivência da empresa passa, necessariamente, pela conquista de outros mercados. Mercados onde outros fornecedores já estão instalados, os quais, por isso, têm melhor conhecimento dos desejos e das exigências dos consumidores. Como ganhar espaço nesses mercados? Como competir, por vezes, com produtores locais?
Salta à vista que a nossa opção terá de ser por conquistar mercados onde poderemos contar com vantagens à partida. E nesse lote podem ser incluídos os países que nos dão facilidades no quadro do SGP (Sistema Generalizado de Preferências), a União Europeia (no quadro do Acordo de Cotonou), os Estados Unidos da América no quadro da AGOA (African Grouth and Opportunity Act), os países da CEDEAO/ECOWAS (Comunidade dos Estados da África do Oeste) e o que se puder conseguir no seio da CPLP (Comunidade doa Países de Língua Portuguesa), que neste particular, não chove nem molha.
Temos explorado as vantagens comerciais desses espaços «abertos»? Não tenho dados que permitam tecer comentários. Mas, assim, de forma empírica, parece-me que esses nichos ainda estão por explorar. Um pouco a contracorrente do pensamento nacional, boto muita fé na CEDEAO. Com uma liderança efectiva e estruturada a preceito, é um vasto mercado a considerar. Um mercado onde os recursos financeiros, que não abundam, podem ser, de certa forma, contrabalançados por um grau menor de exigências.


Aumento da produção e da produtividade, redução dos desperdícios e maior efectividade (que a Administração não pode segmentar o mercado) são desafios que também se põem à nossa AP, mormente agora que há o compromisso de convergência em normas, práticas e políticas com o primeiro Mundo, representado pela União Europeia.
Em matéria de governar estamos conversados. Como dizem as velhas raposas da política mineira, governar se resume a quatro coisas: nomear, demitir, prender e soltar. Só com isso – feito em tempo oportuno – o governante vai longe.
No que à ética diz respeito, e para fechar, cito Lúcia Hipólito, cientista política brasileira, autora de «POR DENTRO DO GOVERNO LULA»: ACREDITAR QUE SÓ UM POUQUINHO DE CORRUPÇÃO NÃO TEM IMPORTÂNCIA ÉH ACREDITAR NA EXISTÊNCIA DE SÓ UM POUQUINHO DE GRAVIDEZ.

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