Monday, January 7, 2008

001: LICENÇA PARA SER MÃE

Comprou um carro e quer sair por aí a exibir a máquina? Tem, antes, de obter a competente licença de conduzir. Carta de condução entre nós e «permis de conduire» na língua de Victor Hugo.
Quer construir uma casa? Já tem terreno, projecto de arquitectura e cálculo de estabilidade aprovados, dinheiro para os materiais e para a mão-de-obra? Não tem licença para construir!? Bom… Vai ter que obter licença para construir. Senão, nada feito.
Tem um cão e quere-lo circulando livremente na via pública? Tem de ter uma licença.
Quer organizar uma manifestação? Criar uma associação ou um partido político? Pôr de pé um sindicato? Apesar de a lei garantir a liberdade de associação e reunião, vai precisar de uma licença.
Quer ser importador? Exportador? Abrir uma lojeca? Tem de, antes, obter uma licença.
Quer enterrar um familiar falecido? Tem de obter uma licença.
Mesmo James Bond, o famoso agente secreto ao serviço de Sua Majestade a Rainha da Inglaterra, precisou de uma licença especial para dar cabal conta das suas missões. A famosa 007 – Licença para matar.
Quer ser mãe? Vá lá! Copula, menina! Se fores fértil, nove meses depois estás mãe. Não precisas de licença de ninguém.
Entendo perfeitamente que um fulano não possa sair por aí ao volante de uma possante bomba sem estar devidamente habilitado. Tem de demonstrar que conhece as regras do trânsito, que compreende o essencial dos fenómenos que se manifestam no seu veículo e na estrada, e que é responsável, antes de receber a devida permissão ou licença de conduzir.
Compreendo também que um fulano, lá por ter dinheiro, não pode sair por aí plantando imóveis. Tem de submeter-se aos planos e às regras e obter a competente licença.
Respeito a norma que obriga a que os donos dos cães, para os terem a circular livremente na via pública, devam obter a licença exigida pela postura municipal.
Dá para perceber que algumas autoridades ainda pensem que - apesar das liberdades garantidas pela Constituição e por disposições contidas em leis ordinárias - os cidadãos precisam obter licença das autoridades administrativas. Querem ter mão nas manifestações sóciais.
A actividade de importação de bens e serviços, mormente em um país onde o Estado decidiu que é Ele que deve angariar divisas para o pagamento das importações, não pode surpreender as autoridades que gerem o comércio externo. Compreende-se, por isso, que seja preciso licenciar e cadastrar os operadores.
Nem mesmo o cemitério pode ficar por aí aberto a receber cadáveres ao bel-prazer de cada um. Seria muito fácil aos matadores fazerem desaparecer o corpo de delito.
Licença para ser mãe???? Deve estar doido! Diante de uma equação tão simples (H/M+9=BB) para quê uma licença? Fêmea fértil (nem precisa ser saudável, maior de idade ou responsável) e macho funcional (não importa se portador de doenças sexualmente transmissíveis, se educado ou responsável) copulam e mandam ver. Deus que permitiu mais uma boca, dará mais um bocado de comida, parece ser o lema dos reprodutores irresponsáveis.
E a criança que vem ao mundo, 40 semanas depois da cópula? Quem assume a sua educação? Quem cuidará da sua saúde (física e mental)? Quem lhe mostrará os valores para uma integração plena na sociedade? Quem a protegerá do assédio do traficante, na sua sanha de aliciar mais um consumidor para o seu negócio? Quem a orientará quando o seu corpo começar a ter sensações novas, avassaladoras e que ela não compreende? Quem consultará quando sentir necessidade de entabular uma relação mais apertada com o sexo oposto? Quem a velará naquelas noites de obstipação, febre, gripe, sarampo, varicela, cachumba? Esses cuidados todos não sugerem a necessidade de aprovação em um cursinho específico para quem quisesse ser mãe? (Poderia referir-me também aos progenitores masculinos. Mas esses não me preocupam tanto. Está mais que provado que uma casa onde impera uma boa mãe é, com certeza, um LAR; e que sem Ela é um grande NADA).
Ser mãe deve ser a função mais complexa com que os seres humanos alguma vez se depararam. Para comandar um exército, o Comandante-em-Chefe conta com todo um estado-maior; para governar um país, o Chefe do Governo conta com um bom corpo de ministros e toda a administração pública, mais o controlo da oposição; para gerir uma empresa, o CEO conta com todo o Conselho de Administração, Directores, Gerentes intermédios e o controlo dos accionistas; para dirigir uma SAD, o presidente conta com toda uma estrutura que vem de trás e que o apoia. E para ser mãe? Principalmente, sendo marinheira de primeira viagem, quando, nove meses depois da prazerosa noite, lhe cai no regaço, uma criaturinha absolutamente dependente dela para tudo e, ainda por cima, portadora de um código de comunicação absolutamente estranho à menina feita mulher? Que os bebés têm uma forma sui generis de dizer que têm fome, que querem fazer côcô, que têm xixi, que querem arrotar. E a menininha feito mãe tem de se pôr a adivinhar até que comece a matar as charadas. Depois, é a fase da afirmação (do «não porque não» e do «é meu, é meu») e a pré-adolescência. O menino tem de ir à escola e afastar-se do controlo presencial da mamãe. E chegam a puberdade, as tentações, as amizades (com amigos que a mãe nem conhece), os apetites. Tanta coisa e coisas tão complexas. E, pior de tudo, cada caso sendo um caso especial.
Não se exigirá que se monte um curso de graduação, nem uma pós, para uma miúda que queira ser mãe. Mas que as candidatas à maternidade (sejam elas teenagers ou mulheres feitas) precisam saber onde se metem, que devem assumir um compromisso com o filho que vão gerar, que precisam de um feed-back (algo, alguém, autoridade – espiritual ou temporal) ou mesmo de uma aprovação (pourquoi pas?) antes de trazerem mais uma criança para este mundo louco e cheio de perigos, isso precisam.
Preparar as mães cabo-verdianas seria a nossa forma de controlo qualitativo da natalidade. Os chineses fazem o controlo quantitativo (que acaba influenciando positivamente a qualidade); nós podemos nos aventurarmos no controlo da qualidade, que é como quem diz, investir no cabo-verdiano ainda antes da sua concepção. Mães competentes (o ideal seria ter ambos os progenitores preparados para os desafios; mas, fortemente contagiado pelo sucesso das heroínas que são as cabo-verdianas-chefes-de-família-bem-sucedidas, dou-me por satisfeito com uma boa mãe) seriam uma boa base para famílias menos problemáticas, com crianças mais resistentes ao assédio dos traficantes e ao apelo dos gangs, e para uma Nação com futuro.
001 – LICENÇA PARA SER MÃE deve ser o codename das nossas agentes com ORDEM PARA GERAR VIDA. Vão dar de dez a zero aos nossos 009 de trazer por casa. Que esses – os traficantezinhos de merda, que medram nas esquinas dos liceus e à entrada dos estabelecimentos de diversão nocturna – ainda que sem ORDEM PARA MATAR, apostam no ANIQUILAMENTO da nossa juventude, não cuidando sequer da possibilidade de poderem estar prejudicando os próprios filhos, sobrinhos, vizinhos e parentes.
Para a salvaguarda do futuro da nossa sociedade - e se pretendemos mesmo reduzir esses 009 da nossa desgraça à mais ínfima expressão - pode bem ser necessário termos que estabelecer regras para a emissão de licenças 001, LICENÇAS PARA SER MÃE. Que a grande verdade é que aqueles que tiverem o azar de chegar a este vale de lágrimas pela mão de uma fêmea qualquer, sem os mínimos para ser uma boa mãe, (por mais bonita e gostosa que seja) acabam sendo carne para o canhão dos mercadores da morte: suas cobaias, seus clientes, seus lacaios.

1 comment:

Maria said...

Creio, que deveria ser obrigatório, pelo menos um curso preparatório, para sermos mães ou pais...