Monday, April 20, 2009

PRAIA – A CIDADE DOS PLANALTOS

“O homem superior é persistente no caminho certo e não apenas persistente.”
Confúcio
Comove-me o carinho dos poetas e literatos portugueses, alfacinhas e não só, quando falam da velha Ulissipo, referindo-se a ela como a Cidade das 7 colinas. E fico meio cabreiro, quando vejo que meus compatriotas não ligam peva para a configuração da nossa Capital, a Cidade da Praia de Santa Maria da Vitória. E fiquei p. da vida quando constatei que nem os eleitos municipais da Capital, todos eles autóctones, quando encetaram a divisão administrativa da Cidade da Praia, se lembraram do papel estruturante dos planaltos em relação à vida na Capital.
Planaltos de SANTA MARIA DA VITÓRIA, da ACHADA DE SANTO ANTÓNIO, da ACHADA GRANDE, da ACHADINHA EUGÉNIO LIMA & ACHADINHAS, da ACHADA S. FILIPE & PONTA D’ÁGUA e da ACHADA de SIMÃO RIBEIRO, constituem o esqueleto, a estrutura que enforma e anima a Cidade da Praia.
O planalto de Santa Maria da Vitória, ou Riba Praia, que, em tempos, foi «a Cidade da Praia», é o centro histórico da cidade e o ponto para onde convergem todos os citadinos e referência para as pessoas que vêm do interior. Ainda hoje as pessoas dos Vales e das outras Achadas dizem «VOU À PRAIA» quando saem de casa para irem ter ao Planalto de Santa Maria da Vitória (também referida como PLATEAU, assim mesmo, em francês). É lá que ficam a Presidência da República, o Supremo Tribunal de Justiça e os Tribunais da Comarca, a Procuradoria-Geral da República, o Hospital Central, os Paços do Concelho, o Banco Central e as principais agências dos bancos comerciais, o Liceu de Adriano Moreira, a Reitoria da Universidade de Cabo Verde, as principais Farmácias, o principal Mercado de Frescos da Cidade. E é, sem sombras para dúvidas, o bairro melhor estruturado do país.
A Achada de Santo António, que já foi, simplesmente, O PLANALTO, é o centro populacional mais importante da cidade, uma verdadeira cidade dentro da Cidade da Praia. O bairro de Djudja, de Frank Mimita, de Kwame Kondé, de Tchim Tabare e de muitas outras celebridades e do «SANTOS» Futebol Club – hoje abreviadamente, ASA – já foi a capital da vida nocturna na cidade da Praia. Lá pontificam o Parlamento Nacional, o Tribunal de Contas, um bom número de Ministérios e as Embaixadas de Portugal, da Rússia e da China e a Residência do Embaixador do Brasil (para só citar as de maior visibilidade). Sintomaticamente, o nosso Palácio das Necessidades (o MNE), a Bolsa de Valores, a Escola de Negócios e Administração e as maiores empresas do ramo imobiliário têm aí a sua sede. Todos os bancos comerciais têm aí uma agência. É, indubitavelmente, uma referência na Cidade da Praia.
A Achada Grande é outro planalto de incontornável importância. É aí que fica o Novo Aeroporto da Praia (o antigo também fora aí construído), a principal porta de entrada do país. No fundo da falésia do extremo Sul, onde acaba a Achada Grande e começa o Atlântico, fica o Porto da Praia, o maior porto comercial do país. O planalto, que alberga a Zona Industrial da Praia, acolhe os principais armazéns de stockagem do país, as mais importantes Cash & Carry da Capital, o Terminal de carga marítima, os depósitos de Fuel, Jet A-1, Gasolina, Gasoil, Gás Butano, Metanol, etc., das petrolíferas SHELL CABO VERDE, SARL e ENACOL, SA e ainda o maior centro de vendas a grosso do país – a ADEGA, dos Moreiras de Almeida & Companhia. Resumindo e concluindo, pela Achada Grande entram todos os visitantes e quase tudo que se consome na ilha; armazenam-se todos os combustíveis necessários ao funcionamento da Ilha; faz-se a stockagem da maior parte do que se consome na Ilha (reparem que deixei de me referir apenas à Cidade da Praia), desde materiais de construção a géneros alimentícios. Um planalto de relevância incontornável, pois, na Cidade da Praia.
Os planaltos da Achada Eugénio Lima/Achadinhas e Achada São Filipe/Ponta d’Água são os maiores dormitórios da Cidade. Estes planaltos, suas encostas e as povoações de seus sopés, acolhem, maioritariamente, os cabo-verdianos de outros municípios (de Santiago e de outras ilhas) e estrangeiros que demandam a cidade da Praia em busca de uma vida melhor. Estes planaltos/dormitórios acabam sendo centros de referência quando se busca equacionar a integração dos migrantes e/ou debelar a pobreza na cidade da Praia.
O planalto de Simão Ribeiro, infelizmente, perdeu importância, diante do declínio da pastorícia no concelho e face ao surgimento de novas realidades corporizadas pelos fenómenos socio-demográficos que são os novíssimos bairros-dormitórios de Safende e Eugénio Lima.

A Câmara Municipal da Praia precisaria revisitar os planaltos da cidade e verificar as respectivas potencialidades antes de avançar com qualquer solução de reordenamento do território.
Pessoalmente, não tenho dúvidas de que o PLATEAU é um planalto e um bairro com personalidade própria. E se levarmos em conta que está na forja um projecto de candidatura do Plateau a património mundial, nada de mais indicado que se apostasse numa administração personalizada, virada para a sua requalificação e salvaguarda.
Que a Achada de Santo António tem tudo para ser o CENTRO e a referência de todo o Sudoeste da Cidade da Praia, não deve passar despercebido a ninguém. Definido o núcleo, restaria analisar os bairros que deveriam ser juntas à ASA para constituir a novel Unidade Territorial Administrativa (UTA). Em nome da coerência e do reconhecimento da capacidade deste planalto de puxar, e nivelar para cima, os bairros associados.
Tudo o que foi dito em relação à ASA é válido para a Achada Grande. O planalto, suas falésias, encostas, sopés e prolongamentos, dariam uma UTA interessante e homogénea, em termos de potencialidades, tradições, sonhos e aspirações.
O planalto de Eugénio Lima/Achadinhas seria outro bom núcleo central para uma UTA. Os bairros que crescem entre este planalto e o da Achada São Filipe/Ponta d’Água ficariam divididos entre estes dois pontos de referência, ficando o planalto de Simão Ribeiro (e as suas principais zonas de influência) incluído na UTA centrada no planalto Eugénio Lima/Achadinhas.
Na reorganização administrativa da Praia - a cidade dos 07 planaltos (SANTA MARIA DA VITÓRIA, ACHADA DE SANTO ANTÓNIO, ACHADA GRANDE, ACHADA EUGÉNIO LIMA, ACHADA S. FILIPE, PONTA D’ÁGUA e ACHADA de SIMÃO RIBEIRO) – nada de mais natural que fossem recuperados estes acidentes orográficos para a definição das novas Unidades Territoriais Administrativas. Em nome da economia de estruturas, pensando na melhor operacionalização dos recursos da cidade e aceitando que a CMP tem estudos que recomendam que o número das UTAS não deva ser superior a 05, porque não organizar as 05 UTAS à volta dos 05 principais planaltos que enformam a cidade - (1) SANTA MARIA DA VITÓRIA, (2) ACHADA DE SANTO ANTÓNIO, (3) ACHADA GRANDE, (4) ACHADINHAS/EUGÊNIO LIMA, (5) ACHADA S. FILIPE/PONTA D’ÁGUA?
A ideia aqui não é simplesmente questionar a divisão administrativa levada a cabo pelos eleitos municipais. O escopo desta intervenção é demonstrar que, na sociedade praiense, podem ser encontradas outras ideias, tão boas (ou melhores até) do que as da edilidade. Esta é apenas uma delas e que bem pode ser rotulada como sentimentalista. Mas como operar a organização da cidade sem sentimentos?
A forte relação de pertença que tenho com a cidade, permite-me conhecê-la bem, leva-me a regulares revisitações voltadas para a actualização da avaliação da qualidade de vida e para o reforço dos laços afectivos. E isso só pode reforçar o conhecimento das realidades, o que, sem dúvida, permitirá uma melhor performance nas intervenções transformadoras das realidades e para a permanente melhoria da qualidade de vida das comunidades.
Mais importante do que usar lápis de cor sobre um mapa da cidade, é subir aos planaltos, olhar para os outros planaltos, baixar a vista e observar as encostas e os vales. Mas, sobretudo, pensar que uma comunidade não é um simples ponto sobre um mapa: são pessoas humanas, com dificuldades, sonhos, aspirações e, quase sempre, com vontade de melhorar de vida. Por isso, o ordenamento do território não pode ser uma operação meramente académica, que esteja na moda ou que pode ser chique levar a cabo, a partir de cómodos e climatizados gabinetes de trabalho. Precisa ser um trabalho multidisciplinar, com centro nas comunidades, e sempre voltado para a melhor administração das potencialidades do território e de suas gentes.
Valeria sempre a pena, por isso, sair dos gabinetes, ir às comunidades, e, sobretudo, dar vez e voz aos munícipes. Deve o processo da CMP ser revisto? Que respondam os munícipes. Os mesmos que, fartos de Felisberto (e de sua equipe) lhe exibiram o cartão vermelho, podem AGORA mostrar a José Ulisses (e sua equipe) a cor do cartão que a sua cultura democrática está merecendo. Vermelho? Francamente? Não. Verde? Seguramente, também não.
09.ABRIL.09

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