Monday, April 13, 2009

BARRIGA DE ALUGUER

“Não repitas tácticas que te deram uma vitória; deixa antes que os teus métodos sejam ditados pela infinita variedade das circunstâncias”
Sun Tzu
«CHAMAR O VEIGA» não espanta, enquanto projecto de solução para a descoberta do caminho de regresso ao poder. É que, ao que parece, quando Veiga deixou a liderança formal do partido, levou consigo a bússola.
De facto, o MpD parece o palhabote Santiago, comandado pelo saudoso Capitão Aníbal. Havendo Sol ou a Estrela Polar, mesmo que as cabras comessem o mapa, acabava sempre chegando ao destino. Porém, numa das muitas viagens que fez à ilha do Fogo, o velho capitão viu-se chinês, quando o céu se cobriu de um manto de breu e não pôde divisar a sua estrela-guia. Macambúzio, passou toda a noite ruminando. De manhãzinha, quando, segundo os seus cálculos, deveria estar a fundear em Fonte Bila, reuniu os principais da tripulação e lavrou um protesto contra o mar e o céu encoberto e quem mais interessar pudesse: OS SENHORES SÃO TESTEMUNHAS DE QUE CHEGUEI AO FOGO E O FOGO NÃO ESTÁ CÁ.
Com o MpD, salvaguardando as proporções, as coisas têm funcionado de forma muito parecida. Passado o ritual da contestação dos resultados das eleições legislativas e presidenciais, lançam-se ao trabalho e levam de vencida o PAI, conquistando a maioria das Câmaras Municipais. Da última vez, não só levaram a maioria, como as maiores e as mais emblemáticas (Praia, Santa Catarina, Ribeira Grande de Santiago). Mas o que é que acontece depois? Entram em pânico quando fica confirmado que será ainda José Maria Neves a comandar as hostes tambarinas no 1º embate eleitoral de 2011.
A primeira ideia que lhes vem à mente é deixar cair Jorge Santos e arranjar alguém, lá dentro, capaz de levar JMN de vencida. O baú é passado a pente fino sem que se encontre uma solução capaz de pôr fim a uma travessia do deserto, que já vai longa. Livramento posiciona-se para substituir Dos Santos, mas cedo se constata que ele não traz solução para o problema que aflige o partido. Porque se é verdade que Jorge Santos precisa ser trabalhado para se transformar num estadista capaz de ir buscar votos aos não-militantes, não é menos verdadeiro que Livramento exige umas boas demãos de popularidade e uns tantos decilitros de liderança, para estar em condições de defrontar JMN, com hipóteses de sucesso. De facto, nenhum dos postulantes dá garantias de que o MpD não voltaria a morrer na praia: sem Norte, o navio pode chegar a qualquer porto; mas chegar aonde, de facto, se quer chegar, só por obra do acaso. E o partido não pode correr um tal risco. Sob pena de, desta feita, danificar o casco e pôr em perigo a navegabilidade futura da embarcação.
Chegados a este ponto, das duas uma: abandonar o barco, que nem ratos, quando pressentem o naufrágio; ou identificar, localizar e convencer o homem da bússola a voltar.
A segunda opção surge como a mais honrosa. É consabido que aqueles que sempre estiveram com Veiga, os tais que deram corpo ao núcleo duro, depois dos abalos que foram os cismas que originaram o PCD e o PRD, não herdaram a bússola. Tanto assim é que andaram atrás dos retornados, à cata de um filho pródigo que tivesse recebido do pai, à socapa, o bendito instrumento. Eurico Monteiro e Jorge Santos movimentam-se bem, mas salta à vista que não foram eles que herdaram a bússola; sondado Livramento, chegou-se à conclusão de que também não era ele o homem. Daí a se concluir que o Chefe levara consigo o instrumento de navegação, foi um passo. Identificado o timoneiro, a sua localização não suscitou problema nenhum: ele esteve sempre por perto. Convencer o homem é que seria o verdadeiro busílis.
Veiga tem um projecto político de que não vai querer abrir mão. E sabe que manigâncias políticas como essa de concorrer para Primeiro-ministro, para depois entregar o Governo na mão de um indesejado qualquer e se candidatar à Presidência da República podem dar bode e fazê-lo entrar pelo cano.
Aliás, alguém acredita, verdadeiramente, que se pode iludir o eleitorado dessa forma? Porque o Jorge não convence o eleitorado, faz-se avançar o Veiga; ganha a eleição, impõe-se aos cabo-verdianos o mesmo Jorge (ou outro indesejado qualquer) como Primeiro-ministro; depois, Veiga, tranquilo e sereno, segue para a eleição que lhe interessa. Depois de pedir, para si, votos para governar o país, vai pedir, ao mesmo eleitorado, votos para ser também árbitro (presumivelmente imparcial) do sistema político, guardião da Constituição e limite ao Governo. Fala sério! Veiga é um fulano inteligente, mais do que o suficiente, para entender que isso é navegar em águas turvas e que pode dar para o torto. E diante de um tal quadro, parece crível que Veiga abrace um tal projecto, todo ele edificado sobre esquemas, truques e manigâncias? Du – vi – d - o – dô.

Chegado a este ponto do raciocínio, fica clara a necessidade de um TANQUE PENSANTE. E, ao que consta (pela composição, timing e sentido estratégico), parece um verdadeiro PANZER alemão. Marca, indubitavelmente, pontos ao lançar o balão de ensaio na manhã de Quinta-feira de Endoenças. Aproveitar a tolerância de ponto de Quinta à tarde e os feriados dos três dias seguintes, é de mestre. Digna de Jacinto Santos, Jorge Carlos Fonseca ou do próprio Carlos Veiga. Fala-se de José Tomás Veiga, mas, esse, não o vejo a pressionar o mano para entrar numa canoa furada.
A verdade, porém, é que um babado desses, lançado ao éter às primeiras horas do dia, pelas estações de rádio; posto a circular no ciberespaço, quase que simultaneamente, pelos jornais digitais; dado à estampa no semanário A NAÇÃO, na mesma manhã; e confirmado, em grandes parangonas, no dia seguinte, no A SEMANA, o jornal nacional campeão de «audiências»; tem todas as condições de chegar a todas as achadas e fajãs, cutelos e ribeiras, no território nacional e na diáspora. Daí a despoletar uma forte onda de pressão sobre Carlos Veiga, a modos de demovê-lo do seu projecto político e levá-lo a abraçar o projecto de salvação da pátria, vai um nada. E parece ser essa a esperança do auto-denominado TANQUE PENSANTE: colocar Veiga sob pressão e convencê-lo que assumir a Presidência do MpD é um desígnio nacional.
Mas, estará o PANZER a ser justo com Veiga? Não haverá um quê de egoísmo no movimento? Se a questão é a recuperação da bússola, porque levar o timoneiro junto, sabendo que ele tem um projecto político próprio e também virado para servir Cabo Verde? Não dá para sentir um cheirinho de blackmail, quando se condiciona o apoio à realização do projecto político pessoal de Veiga à ajuda que este der ao MpD? Não basta o que ele já fez pelo partido? Não haverá no MpD ninguém que, de posse da bússola recuperada, possa levar o barco a bom porto? Codé di Dona cantou que, em São Domingos, depois do desaparecimento físico dos manos Isidoro e António Soares, só ficaram ‘nbatche ku boka rato (N.C.: espigas mal-formadas e espiguinhas que os ratos experimentaram e não gostaram). Que dirá agora o bardo, diante desta ideia desesperada de querer fazer de Veiga barriga de aluguer?
Ninguém deseja um frente-a-frente Carlos Veiga/José Maria Neves, mais do que eu próprio. Com debate de ideias (ao cabo e ao resto, a retoma da iniciativa do A SEMANA no último regresso ao trabalho), confrontação de projectos para a sociedade, despique de criatividade e imaginação. Mas sem truques, nem manigâncias. Disponibilizem-se, ambos, para concorrerem à mais alta Magistratura da Nação, com aprimoradas plataformas eleitorais, à altura de uma eleição para a escolha de um Presidente da República, Chefe de Estado e de Governo. Aí sim. Bateria palmas. Pôr-me-ia em bicos dos pés para não perder pitada da contenda. E escolheria um lado para torcer por. Por isso, ficaria sumamente feliz se ouvisse ou lesse que o PANZER PENSANTE estaria tentando influenciar os deputados a irem mais fundo no processo de revisão constitucional; que estaria usando a sua influência para conseguir, em sede de revisão constitucional, a mudança do sistema de Governo de PARLAMENTARISMO MITIGADO para PRESIDENCIALISMO.
Mas um movimento (mais um) sem um substrato ideológico claro, virado apenas para barrar a passagem ao PAI… não me convence. E continuo manifestando as minhas dúvidas sobre se o Dr. Carlos Veiga, que penso conhecer, aceite ser barriga de aluguer de quem quer que seja. É que, no fundo, no fundo, o movimento mais parece coisa de miúdos que apanham de um coleguinha mais pujante e, não podendo revidar, correm a chamar o mano velho para vir tomar-lhes as dores. Há que fechar o corpo, vender o medo e comprar coragem e fazer a coisa certa para um político: dar o corpo ao manifesto e lutar, sem truques, pelo poder que tanto ambiciona. E deixar que o Veiga complete o seu percurso político.
No entanto, e já que o PANZER já está montado e bem oleado, porque não fazer um forcing no sentido de, em sede de revisão constitucional, se fazer a opção pelo PRESIDENCIALISMO? Think about!

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