Monday, June 9, 2008

JC, SUPERSTAR

“Toda a árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos os conhecereis”

Mateus 7:19,20

Alguém comentava outro dia que o discurso de um dos intervenientes - na assembleia de militantes do PAI ocorrido no Palácio da AN, no passado dia 24 de Maio - parecia dar indicações de que aquele militante estaria na disposição de despoletar um Congresso extraordinário e, nele, desafiar a liderança de José Maria Neves. Lembro-me de ter retorquido na altura que, dos dirigentes de proa do PAI, Júlio Correia (JC) era o único que estaria em condições de questionar a liderança de JMN. E as razões são claríssimas: é o único dos grandes que ganhou na última jornada. Melhor: é o único que tem ganhado sempre. Mas não se tratava de JC.
JC fazia parte do losango do meio-campo que conduzia o jogo do PAI. Fazia a posição 6. JMN (posição 10) ocupava a outra ponta do eixo da diagonal perpendicular à linha que divide o campo. E Inocêncio (à direita) e Basílio (à esquerda) ocupavam os dois vértices dos extremos da diagonal horizontal à referida linha.
Com o tempo e com as peripécias do jogo, o losango distorceu-se e a sua configuração já mais parecia a do papagaio de papel com que a meninada brincava no meu tempo: o eixo horizontal aproximou-se da ponta ocupada por JMN, fazendo com que a ponta ocupada por JC ficasse bastante distante do resto do meio campo. Inocêncio e Basílio ficaram mais perto de JMN e mais próximos um do outro. O problema é que a transposição do losango para a «pipa» nunca é isenta de custos. Já vimos isso com Paulo Bento e Miguel Veloso: é quando o Miguelito recua tanto que mais parece um terceiro central. E, quando assim acontece, quase sempre o Sporting perde (porque se imobiliza um criativo que, para além de recuperar bolas, também participa na organização dos lances de ataque).
Quando topa que, com a nova disposição, o meio-campo, na prática, integrava apenas o triângulo superior do losango (a trindade Inocêncio, JMN e Basílio), JC deixa a linha média e busca novos ares.

Com a «trindade» do meio-campo tambarina claudicando diante de um adversário que, teoricamente, estaria ao seu alcance, seria de esperar que JC botasse pra quebrar. Mas JC é um gentleman e um militante (dirigente) responsável. Foi muito comedido. No entanto, ainda assim (e porque para bom entendedor meia palavra basta), falou e disse.
Agora que o jornal «A SEMANA» resolveu (em boa hora) preitear o vencedor, vamos então ler a entrevista a JC, conduzida por José Vicente Lopes (JVL).
Muito ao jeito tambarina, diz-nos JC, que:

1. Há gente com influência desproporcional no partido (gente que nunca ganhou umas autárquicas, mas que está sempre na mó de cima, controlando o dossier autárquico e «impondo» candidatos);
2. Há gente com peso excessivo na governação;
3. Há (no Governo) gente a quem tem faltado sensibilidade para execução do pensamento do PM;
4. Os dossiers Santa Catarina (de Santiago) e São Filipe (Fogo) foram mal geridos;
5. Há déficit de espaço para discussão aberta dos problemas do partido;
6. Há um Ministro (pelo menos) que desobedeceu ao PM, recusando-se a fazer campanha por ser desafecto do candidato que foi incumbido de ajudar;
7. A liderança do Sector Autónomo da Praia é fraca e tem responsabilidades nos resultados da eleição de 18 de Maio;
8. Se está fazendo asneiras na aerogare de São Filipe (e que elas jogam e jogarão contra o partido);
9. A condução desastrosa do dossier TACV terá dado alguma contribuição para a derrota de Felisberto Vieira;
10. JMN precisa estar melhor apoiado na organização do partido.

Parece não haver dúvidas de que JC quer uma nova «trindade» a governar o PAI e o país. E parece natural que ele seja um dos membros da «trindade», conquanto, justiça lhe seja feita, ele assim não se tenha posicionado em momento algum da entrevista.
É natural porque, antes de mais, ele é dos poucos (quase o único) a quem não se pode debitar a derrota do PAI nesta ronda; depois porque, afinal, ele é JC (e caramba! quem melhor habilitado do que um JC para escorraçar os vendilhões do templo e para, em momento pós ressurreição, se apresentar sentado à direita do PAI?!).
O entrevistador, JVL, quis que JC desse o nome aos bois.
Mas precisava? Quem nunca ganhou uma eleição autárquica, mas que está sempre controlando o processo autárquico no PAI? Quem não tem tido a necessária sensibilidade para dar execução ao pensamento do PM? Quem responde politicamente pelas aerogares? Quem assumiu o controlo do dossier privatização dos TACV? Os pontos 1, 2, 3, 8 e 9, deste apontamento, apontam claramente para Manuel Inocêncio Sousa. Um alvo a ser reclassificado, no dizer de JC.
Os pontos 4 (dossiers Santa Catarina e São Filipe), 5 (déficit de democracia interna) e 10 (JMN mal secundado), interpelam claramente o triunvirato (Inocêncio/JMN/Basílio) que dirigiu o processo eleitoral, sendo certo que JC fez questão de sublinhar as EXCELSAS qualidades de JMN e de Basílio.
O ponto 6 questiona, inequivocamente, a permanência de Lívio Lopes no Governo e na cúpula do PAI. É voz corrente no país que Lopes se teria recusado a fazer campanha por Ungeno (contra quem já se posicionara em anteriores eleições autárquicas). Coerência por coerência, JC respeita a liberdade de escolha de Lopes mas é peremptório quanto à sua saída do Governo: ou SAI ou é SAÍDO.
O ponto 7 tem a ver com a prestação de José Maria de Pina. Nestas autárquicas e não só. JC afirma claramente que o PAI merece outra (mais forte) liderança na Praia, onde, diz ele, o partido é muito forte.
Diante disso, com ou sem Congresso, JMN, Primeiro-ministro e Presidente do PAI, vai ter que explicar muito bem porque carrega Inocêncio às costas. JC não é o primeiro dirigente tambarina a contestá-lo: os autarcas João Baptista Pereira e Felisberto Vieira (ambos, à moda tambarina, que é como quem diz, mais em compreensão do que em extensão), em momentos diferentes, apontaram o dedo ao Lorde das Infra-estruturas. JC espera ainda posicionamentos inequívocos de JMN em relação a Lívio Lopes e a José Maria de Pina (e seus pares do SUP do PAI).
E os conselheiros do PAI vão ser chamados para descodificar o que JC chama de DIVERSIFICAÇÃO DA LIDERANÇA, e implementá-la a tempo de terem a organização necessária e suficiente para dar corpo à estratégia a seguir até ao Congresso.

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