Monday, March 17, 2008

PARA GANHAR E BEM GOVERNAR


“Quando o homem quer matar um tigre, chamam isso de desporto. Quando o tigre quer matar um homem, chamam isso de ferocidade.”
Bernard Shaw
A regra de ouro para se chegar ao governo (local ou central) é ganhar as eleições. Por isso, não admira que os partidos políticos apostem, em cada eleição, todas as suas fichas. Para ganhar. Para poder vir a governar.
Tudo estaria certo se os esforços consentidos e as apostas feitas no sentido de ganhar as eleições encontrassem correspondência no capítulo capacitação para governar. Por outras palavras, seria ouro sobre azul se a preocupação em ganhar tivesse o mesmo peso que a obrigação de governar bem.
O que mais se vê por aí, no entanto, são listas de candidatos pensadas exclusivamente para ganhar as eleições. A obrigação de governar bem não aparece reflectida na composição das listas. Cientes de que nas eleições está sempre presente uma confrontação entre a emoção e a razão, os estrategas de serviço têm apostado forte nos apelos ao coração, sabendo que se permitirem que o eleitorado racionalize, um pouco que seja, ficam com a careca descoberta, de tão desértico de ideias, de planos e de projectos que são as plataformas com que se apresentam.
A receita tem sido a composição de listas ganhadoras (com pessoas muito populares e com uns populistas à testa) e dar muita música, muita luz e cor e barulho quanto baste, com alguns insultos à mistura. Ainda que a lista não garanta a mínima capacidade executiva.
No caso das eleições autárquicas (que é onde esta estratégia é bem mais notória) os embates entre a emoção e a razão, entre a capacidade de ganhar e a capacidade de administrar bem, têm sido decididos já nas primárias. A maioria das listas concorrentes reflecte claramente o objectivo de ganhar e mal consegue disfarçar a ausência de estratégia e de capacidade governativas.
GANHAR PARA GOVERNAR (que é o lema de uma das forças políticas da praça) não deixa de traduzir uma verdade insofismável. Que quem não ganha não governa, estamos todos cansados de saber. Mas é preciso muito mais do que isso. É imprescindível que as listas sejam ganhadoras, sim senhora, mas importaria, TAMBÉM, que reflectissem alguma capacidade de gestão.
PARA GANHAR E BEM GOVERNAR talvez fosse uma promessa mais, digamos, aconchegante para o eleitorado. Mas isso implicaria a composição de umas listas onde pontificasse algum equilíbrio entre a veia ganhadora e a capacidade executiva, tudo amparado por um claro projecto para a comunidade. Mas quem se interessa hoje por isso? O que mais se tem visto por aqui são listas de populistas (pouco ou nada capacitados para dar conta dos cargos para que se candidatam) apresentados pelos partidos políticos e listas de tecnocratas (pouco ou nada populares) apresentados por grupos de cidadãos. Vez por outra aparece um partido político ou grupo de cidadãos querendo fazer diferente. Não diferente no sentido de patrocinar uma simbiose entre a popularidade e a capacidade de gestão, mas viajando do oito para o oitenta.
Nas eleições que se avizinham, aqui na Praia a luta parece prometer. Perfilaram já três candidaturas, completamente diferentes umas das outras.
A lista do PAI, encabeçada pelo carismático (e populista assumido) Felisberto Alves Vieira, dono e senhor do cadeirão presidencial desde o ano 2000, é uma lista pensada para ganhar. Com dois mandatos muito polémicos, Filú é rei e senhor dos bairros de pessoas de baixa renda e não só. Circula com muito à vontade por todos os ambientes. Contestado por uma boa franja do município, nem por isso deixa de ser um potencial vencedor do pleito, mercê das realizações operadas na cidade, em uma operação concertada e patrocinada pelo governo central. E manda a verdade registar que, se ele ganhar, será também pelo charme pessoal que derrama por onde passa. Goste-se ou não do homem, é um candidato ganhador. A capacidade de levar a cidade e o município a bom porto já são outros quinhentos. Mas nada que não se resolva com a contratação de administradores capazes, num quadro em que à vereação ficaria reservada a assumpção das decisões políticas, o controlo da acção dos administradores e o acompanhamento do dia-a-dia das comunidades (em um processo de levantamento das necessidades, definição das prioridades, decisão política de atender às prioridades, incumbência aos administradores de fazerem as coisas bem feitas e verificação da qualidade das soluções).
A lista do MpD, encabeçada pelo Senador (e gestor com posições bastante claras em muitas matérias) José Ulisses Correia e Silva, candidato repetente, é uma lista pensada para governar. Sendo esta a segunda incursão de Cutice por estas andanças, espera-se que, desta feita, esteja mais à vontade nos banhos de multidão. Com razoável aceitação nos meios intelectuais, terá dificuldades adicionais quando tiver de confrontar a sua timidez congénita com o populismo assumido de Felisberto.
Ulisses Correia e Silva transformou-se, nos últimos tempos, em um parlamentar incontornável nas decisões (grandes e pequenas) da Assembleia Nacional. Tem amplo conhecimento dos dossiers que circulam pela casa parlamentar, carrega às costas o seu grupo parlamentar (embora hoje já possa contar com a colaboração de Fernando Elísio, um parlamentar emergente com um desempenho muito acima da média), mas falta-lhe garra quando se trata de luta de palanque. Nada que não se possa colmatar com uma equipa de campanha que poderá se reforçar com os generais e demais tropa oriundos do PCD, à condição de as disputas não extrapolarem os limites impostos pela decência e pela lei.
Vai ser um embate interessantíssimo: a capacidade executiva de Ulisses versus a veia ganhadora de Felisberto. Se José Ulisses não se deixar atrapalhar por apoiantes canhestros, pode muito bem fazer história nestas eleições.
Acerca da terceira candidatura, ninguém sabe ao certo quem vem lá e ao que vêm. Mas tudo leva a crer que se estará diante da excepção que vai confirmar a regra: é uma candidatura que embarca numa aventura bonita, mas que se apresenta despida da necessária capacidade de gestão e da nada despicienda popularidade.

Mas embates interessantes é o que não vai faltar nestas autárquicas de 2008.
Apesar da proibição expressa de E. Teixeira (numa tirada muito parecida com aquela de Salazar quando proibiu a comunidade internacional de se imiscuir nos problemas das «suas» colónias e que se veio a traduzir nas horríveis mortandades que se abateram sobre Cabo Verde nos anos 40 e 47 do século passado) o caso de Sanvicente é gostoso demais para não se ficar de botuca.
Desde logo, porque parece ser a oportunidade da ilha do Porto Grande se encontrar e de os Evaldos do Noroeste deixarem de culpar Praia e Santiago pelas suas desventuras. Se as coisas derem certo e Gualberto descobrir e realizar as verdadeiras e novíssimas vocações de Sanvicente, se as pessoas deixarem de viver do passado (que quem vive de passado é museu, caramba!), talvez Mané João volte a engordar o seu gato à base de gemada e se possa pôr um termo a este novo tempo de canequinha.
Lá diz o poeta que a estiagem não foi a culpada pelos sofrimentos que fomos obrigados a suportar. E tem razão. Carradas dela. E teria também carradas de razão quem versejasse que a Praia não tem, rigorosamente, culpa nenhuma pelos maus momentos porque Mindelo e Sanvicente vêm passando. É que quando as coisas mudam, temos nós de mudar também. Não adianta ficar pregado no mesmo sítio, olhando para trás, e buscando culpados. Não é uma atitude inteligente. E já agora, ninguém acredita que Inocêncio, Basílio, SCAPA e comandita permitiriam que JMN pusesse de pé uma estratégia de liquidação de Sanvicente. Isso é conversa para boi dormir. Aliás, segundo as carpideiras de serviço, muito antes de JMN as coisas já estavam pelas ruas da amargura. Roma crioula, gloriosa e decadente, cantava já o insuspeito Teófilo Chantre, pela boca da insuspeita Cesária, notre Diva aux pieds nus (melhoras para ela).
Voto na Praia, mas estarei torcendo para que em Sanvicente saia ganhadora a candidatura que seja capaz de devolver aos mindelenses o queijo e o prestígio perdido algures, no túnel dos tempos, e seja, simultaneamente, capaz de os convencer a substituir o velho refrão «ganhâ gastá, sem lembrá na dia de manhã» (porque depois de sabe morrê ê kâ nada) por esta pérola da sabedoria lusófona (e já bem experimentada em Santiago): «QUEM COME E GUARDA, ARMA A MESA ENE VEZES». Para descanso dos nossos azucrinados ouvidos.

1 comment:

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