Wednesday, June 6, 2007

O BOM SAMARITANO

As preocupações do Governo com a questão da sobrevivência do sistema de previdência social não são comungadas, ainda, pelos SINDICATOS. O aumento da idade da reforma e do tempo de serviço e os mecanismos de transição constituem outros tantos pomos de discórdia. Enquanto o Governo tem presente que em 1975 (por alturas da Independência Nacional) o tempo de serviço que dava direito a pensão completa era de 40 anos e que ao colocá-lo no patamar de 36 anos está apenas tentando corrigir uma atitude voluntarista e algo irresponsável dos gestores revolucionários dos primeiros anos da independência, tendo presente o incremento da esperança de vida das cabo-verdianas e cabo-verdianos; os trabalhadores e, provavelmente, os SINDICATOS (digo provavelmente porque estes ainda não se pronunciaram, pelo menos publicamente) exigem a salvaguarda dos direitos adquiridos, das expectativas geradas, dos planos feitos.

Os genes da questão do 13º salário estão aí germinando, germinando. O INE quer o respeito por direitos adquiridos; os profs querem o reconhecimento desse direito; há organismos da Administração Pública indirecta que já auferem este benefício (por sinal estes até têm os primeiros 12 salários de bom nível); a maioria das empresas privadas nacional já pagam o 13º salário (em alguns casos até um 14º). É uma questão que está aí despoletando e que irá exigir um bom nível de confiança e de relacionamento entre o empregador Estado e os SINDICATOS. «O Estado paga o que os cabo-verdianos podem pagar», JMN dixit. É uma grande verdade, sem dúvida. Mas, se o Estado se meter a desafiar os SINDICATOS no seu próprio terreno, será que estes pararão, SEQUER, para ouvir as boas razões do senhor Primeiro Ministro?

A flexibilização das relações de trabalho é outro núcleo de divergência entre o Governo (desta feita, tanto na qualidade de empregador como na de administrador político do território). Havendo confiança e disponibilidade para o diálogo, seria sempre possível chegar-se a um entendimento; na falta de confiança, o diálogo será substituído por monólogos cruzados (o dito diálogo de surdos) e os entendimentos serão bem mais difíceis. Todo mundo (empregadores e SINDICATOS) sabe que precisamos apostar na criatividade, na qualidade e na produtividade se queremos ser competitivos; todo mundo tem (ou devia ter) bem presente que se sufocarmos o empregador com exigências que ele não consegue encaixar, corre-se o risco de ficar sem empregador (e sem emprego, of course); todo mundo sabe (ou tinha a obrigação de saber) que se hostilizarmos gratuitamente os nossos trabalhadores corre-se o risco de se instalar, intra-murros, uma quinta coluna, com todas as consequências daí advenientes. Há um mundo de coisas unindo empregadores e empregados, numa espécie de casamento de conveniência, de tal modo que o equilíbrio, a confiança, o respeito e a responsabilidade devem ser administrados com ciência e consciência.

Só o amor constrói – cantou Wanderley Cardoso (que velho que já estou!). Só a CONFIANÇA mantém um casamento – diz o vulgo. Principalmente os de CONVENIÊNCIA - resmungo eu.

Não meter a foice em seara alheia (mesmo não havendo nenhuma delimitação formal); não invadir o espaço do outro (ainda que não haja nenhuma cerca separando os espaços); não hostilizar (independentemente da força ou fraqueza de quem esteja do outro lado); manter intacta a bona fides (e considerá-la um bem precioso em qualquer processo negocial); são alguns dos ingredientes de uma boa receita para a prevenção e a resolução de conflitos.

Nos tempos que correm, quem não faz ao próximo aquilo que não gostaria que o próximo lhe fizesse, já pode ser considerado um «bom samaritano».

Haverá controvérsia em relação a esta sentença? Claro que há! Tudo pode ser questionado, compañeros. Bem, à excepção desta sentença de ouro: NINGUÉM É DONO DA VERDADE ABSOLUTA!

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