Thursday, November 5, 2009

PORQUE SERÁ?!!!

“Se você quiser ser abundante e rico, precisa ter uma mente aberta, uma realidade flexível e a habilidade de transformar ideias novas em empreendimentos concretos e lucrativos.”ROBERT T. KIYOSAKI
Ele voltou /O boémio voltou, novamente /Partiu daqui tão contente / Porque razão quer voltar. Acontece. O boémio, da canção imortalizada na voz forte e cheia de Nelson Gonçalves, não resistindo às saudades da boemia, regressa à dolce vita. Apesar de gostar muito da mulher que escolheu para sua companheira, é da boemia que ele gosta mais. Então, o boémio da canção abraça-se ao seu violão, despede-se da mulher e regressa à boa vida. E qualquer um pode, também, mudar de ideia. Desde que tenha ideias, é claro. Mesmo que se tenha partido por causa de algo que se queria muito (una bela dona, uma aliciante carreira, a suprema magistratura da nação). É que há amores e amor, e há sempre o amor dos amores, isto é, há amores que com a separação ganham uma força apelativa absolutamente irresistível. Curioso é o facto de as pessoas terem sempre alguma (por vezes, muita) resistência em aceitar isso. E começam a ver chifre em cabeça de cavalo.
Este intróito vem a propósito das questões e das desconfianças suscitadas com o regresso de Veiga à liderança do MpD. Porque voltou? O que estará por detrás do seu regresso?
Voltou, diante do chamado dos militantes e amigos do seu partido e perante a iminência de um adiamento sine die do regresso do MpD ao poder. Regressou, porque não podia continuar a se fazer de morto, vendo seus «órfãos» fazendo a travessia de deserto, sem prazo para chegar «ao leite e ao mel» em abundância. Terá voltado atrás diante da impossibilidade de ficar quedo e mudo vendo a escolha do futuro chefe do «seu» Movimento se resumir à escolha de um mal menor. Arre! Até Moisés voltaria atrás se visse que o povo de Deus considerava a opção por Josué e Caleb, seus sucessores, como mal menor, solução de último recurso: entre continuar a travessia do deserto sem líder e fazê-lo tendo à frente uma figura qualquer, agarra-se à figura que se disponibilizar. Acho normal que um tal cenário tenha feito com que Veiga voltasse.
Mas, pode-se, e deve-se, colocar outra questão. Simples: É SÓ ISSO? O que nos leva à segunda questão que a comunidade nacional se tem posto: O QUE ESTARÁ POR DETRÁS DO SEU REGRESSO? Êta povo desconfiado! Não chega o facto de ter acudido às preces daqueles que se desesperavam por terem de optar entre Santos e Livramento?
Mas terão razão aqueles que acham que a decisão de Veiga terá sido determinada por algo mais do que a mera obrigação de pai-fundador? Ele, que tinha partido daqui tão contente, porque (outra) razão quis voltar? Normalmente, as grandes decisões têm, por detrás, uma condição necessária e outra suficiente. E se se considerar que as situações referidas atrás constituem apenas a condição necessária, necessário se torna que se questione qual terá sido a condição suficiente. E qual terá sido, então, a condição suficiente? Alguém será capaz de afirmar, categoricamente, qual foi? Claro. Responde pelo nome de Carlos Wahnon Veiga. Mais pessoas? Ná! Nosotros só podemos especular. Ou maldizer. Pessoalmente, situo-me entre aqueles que preferem… especular.
Tenho por mim que conheço razoavelmente o homem e o político Carlos Veiga. Sempre que falo dele, me lembro do longínquo ano lectivo em que estudava o 4º ano dos liceus e do meu compêndio de Biologia. O livro, de capa negra, herdara-o eu do Orlando António dos Santos (esse mesmo, o nosso Orlandona); abrindo o livro descubro que ele pertencera antes a um tal de Carlos Wahnon Veiga. Desse primeiro «contacto» registei o seu gosto pelo uso da tinta preta: todas as anotações do livro eram nessa cor. Encontrara-o antes na condição de defesa lateral direito (camisa nº 2) do meu Sporting Club da Praia. Numa altura em que os estudantes alinhavam, na sua quase totalidade, na recém-fundada Associação Académica da Praia, eis que o Cacá Veiga (era assim que era referido na composição da equipa). Dizia-se que optara pelo SCP por causa do horário dos treinos e de umas cefaleias que o incomodavam (a Micá treinava ao meio-dia, altura em que o Sol era desaconselhado para quem sofria de dores de cabeça como o Cacá). Mais um mito urbano? Pode ser. Mas a explicação que correu de boca em boca foi essa. Mais tarde, já no pós-independência, ficou célebre a sua decisão de deixar o alto cargo de Procurador-Geral da República e, antes de deixar a trincheira da magistratura, dar uma de juiz cível, desenterrando e decidindo um bom número de processos cíveis. Diz quem sabe que, quando saiu, a situação na vara cível da Região Judicial da Praia quase que ficou estabilizada. Acompanhando de perto o seu percurso profissional, constatei ser ele o único cabo-verdiano que já foi Magistrado do Ministério Público, Magistrado Judicial, Presidente do IPAJ e Bastonário da Ordem dos Advogados.
Pode ser por causa desses pequenos nadas que consigo entender e, às vezes, até antecipar as posições de Veiga. Senti chegada a sua hora de voltar, e sugeri (meio a sério, meio a brincar) que fosse chamado. Foi chamado e atendeu à chamada; defendi que ele jamais se prestaria a ser barriga-de-aluguer de quem quer que fosse, e ele veio a público jurar que isso nunca lhe passara pela cabeça, por ser ética e politicamente inaceitável; disse, nas antenas da TÍVER e noutros locais, que ele era um líder suficientemente forte para dispensar Vices, e aí estão os acontecimentos a dar-me razão; previ a ressurreição da Comissão Permanente (aquilo a que chamo de «os homens do Presidente») e aí está ela; registei que com ele a oposição ao Governo seria bem mais consistente, não se satisfazendo em apontar o dedo, mas avançando contra-propostas e se posicionando como alternativa credível, e aí está a sua moção de estratégia a confirmá-lo; antevi a decisão da criação de um Governo-Sombra, e aí está ele; enfim, tenho falhado muito pouco quando se trata de prever as movimentações do político Carlos Veiga. Assim, de repente, só me lembro de ter falhado quando vaticinei a sua vitória no pleito de 2006. Mas, mesmo aí, não terei falhado completamente: ele ganhou na realidade que eu conhecia melhor – o território nacional.
Por isso, acho que posso tentar problematizar à volta da questão «O QUE ESTARÁ POR DETRÁS DO SEU REGRESSO». Para mim, a questão tem uma resposta muito simples. Do mais simples que se possa imaginar, se se conhecer razoavelmente o homem.
Mas as pessoas que têm um pé atrás em relação às pretensões de Veiga, lá terão as suas razões. É verdade que com Carlos Veiga o MpD dá uma forte guinada à direita. Não é menos verdade que ele tem bons, fortes e influentes amigos na área da alta finança internacional, sendo que muitos deles, directamente ou através de intermediários, têm interesses em Cabo Verde. É também verdade que ele, num passado recentíssimo, defendeu, numa moção de estratégia, a criação de uma classe empresarial próximo do seu partido (que era, então, o partido do Governo). Resulta, para muita gente, difícil de aceitar que Veiga abra mão de uma candidatura à Presidência da República (com enormes chances de sucesso), para concorrer à Chefia do Governo, um caminho recheado de escolhos. Tudo isso somado, pode, de facto, justificar as apreensões e as desconfianças de muito boa gente. Nos tempos que correm, em que nem sempre o que parece é, compreendem-se os medos, as reservas e as apreensões em relação ao regresso de quem partiu daqui tão contente e agora quer voltar.
O boémio confessa que volta às tertúlias porque não pode viver sem os companheiros de noitada, o violão e a ponta de um balcão e convence a amada que depois da boemia é dela que ele gosta mais. Acredito que as razões de Veiga não se afastam muito das do boémio da canção: convencido de que a Presidência da República era o amor da sua vida, deixa, no ano 2000, a chefia do Governo e avança para as presidenciais; passado algum tempo (menos de dez anos) e chegando à conclusão de que, de facto, não pode viver sem a adrenalina do exercício efectivo do poder, pega do seu «violão» e volta à conquista do lugar de Chefe de Governo. Entre ser mera figura decorativa e ter poder efectivo, entre ser a «Rainha da Inglaterra» ou «Gordon Brown», não tem dúvidas: escolhe o PODER efectivo.
E reforça-se, assim, a minha tese de que, no nosso sistema de Governo, o centro do poder deslocou-se para o Governo, mais concretamente para o Primeiro-ministro (quêl hómi qui tâ mánda nâ Cabo Verde, no dizer de uma jornalista da Televisão pública). É a consagração do chamado «PRESIDENCIALISMO DE PRIMEIRO-MINISTRO». Para um homem de personalidade forte como Carlos Veiga, que gosta, inequivocamente, do poder e que sente, ciclicamente, que tem a missão de salvar Cabo Verde, nada de mais natural que opte pela posição mais consentânea com a sua personalidade, sua apetência pelo poder e sua convicção de enviado com a missão de salvar a pátria. Essa posição, em Cabo Verde, e até mais ver, é a de Primeiro-ministro. O raciocínio atrás desenvolvido é também válido para José Maria Neves: não abriu (ele, também) mão da candidatura (natural) à Suprema Magistratura da Nação em favor de uma recandidatura à Chefia do Governo?
Resultam, portanto, perfeitamente normais, tanto a opção de Veiga, como a de Neves. A não ser que se saiba algo que não seja do domínio público, a não ser que alguém saiba de alguma ligação, digamos, perigosa de Veiga a grupo (ou grupos) de interesses, a sua pretensão de voltar à Primatura é tão legítima (e normal), como a de JMN em apostar na revalidação do seu mandato de Chefe de Governo.
A mim, o que me daria um prazer enorme, seria poder testemunhar uma inequívoca manifestação de força dos protagonistas anunciados das eleições gerais de 2011: QUE INFLUENCIEM OS DEPUTADOS DOS RESPECTIVOS PARTIDOS A INCLUÍREM NO PACOTE DA REVISÃO CONSTITUCIONAL A ALTERAÇÃO DO SISTEMA DE GOVERNO, DO SEMI-PRESIDENCIALISMO FRACO (apelidado, também, de PARLAMENTARISMO MITIGADO) PARA O PRESIDENCIALISMO (caracterizado, essencialmente, pela eleição directa do Chefe do Governo e pela acumulação das funções de Chefe do Governo e de Chefe de Estado). Tal manifestação de FORÇA E PODER, conquanto possa deixar muita gente amuada, daria aos cabo-verdianos a oportunidade de participar, em 2011, de uma eleição presidencial de tirar o fôlego a qualquer um. E aqui fica o desafio a ambos: são os homens fortes cá da terra? Then, JUST DO IT.

P.S.: Soube-se agora que Veiga amaciou e acabou aceitando duas Vice-Presidências. Pode ser um bom prenúncio.

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