O LIVRO - UM AMIGO DE PALAVRA
É um mundo muito especial esse que envolve escritores, editores, gráficas, revisores e leitores. E, sem dúvida, o exemplo mais eloquente de "INTERDEPENDÊNCIA".
Imagine-se se, de repente, esse mundo ficasse sem escritores. O que acontece? A vida continuaria a existir. Seria um bom momento para por as leituras em dia, fazer "revisões da matéria dada", vegetar. Até que editores, gráficos, revisores e leitores, um deles se decidisse a correr o risco de ser escritor. Afinal, tudo tem solução. O escritor, o editor, o gráfico e o revisor são, ao cabo e ao resto, profissões mais ou menos assumidas. Com a crise de emprego que o mundo atravessa, rapidamente alguém se travesteria numa dessas profissões. Por gosto ou pela necessidade de não deixar faltar o pão na mesa dos putos que, nessa matéria, são surdos a qualquer explicação.
Imagine-se agora esse nosso mundinho sem leitores!
A quem se dirigiria o escritor? Em quem centraria o seu pensamento quando constrói as personagens, as situações, o enredo, o desenlace?
Alguém se atraveria a assumir a edição de obras literárias sem leitores? O que faria o editor? Fecharia as portas?
E o livreiro, esse indispensável intermediário entre o editor/escritor e o leitor, o que faria sem leitores?
As gráficas e os revisores terão sempre muita coisa a fazer. Impressos, formulários e bulas sempre manterão esse pessoal ocupado. E treinados. Para dias melhores, quando os leitores retornarem. Que retornariam, não haja dúvidas. Nem esse mundinho imaginário, nem este nosso mundão real se aguentariam sem o bom amigo das horas tranquilas: o livro, esse amigo de palavra.
Haverá uma possiblidade real de um dia desaparecerem os leitores? Sei não. O certo, porém, é que é preciso ampliar o acesso aos livros, a modos de cada vez haver mais leitores. Assim, diante de um agudizar da crise, os leitores não desapareceriam. Estar-se-ia apenas diante de um universo menor, mas longe da extinção.
Mas falar de conquistar mais leitores, ampliar o acesso aos livros, etc., está-se tornando conversa enfadonha. É preciso passar da palavra aos actos.
Falava outro dia da necessidade do Estado subvencionar os livros. Talvez não uma subvenção generalizada como o meu discurso poderia fazer crer, mas uma subvenção selectiva, muito bem direccionada. Por exemplo, dirigida aos estudantes e cidadãos de baixa renda. Era só outorgar cartões especiais aos beneficiários e orçamentar os montantes necessários para cobrir a subvenção de... digamos 30% sobre o preço de capa.
Assim fazendo, um livro com o preço e capa de 1500$00, ficaria por 1050$00 (1500-450). Se o esforço para a ampliação dos caminhos de acesso aos livros não for suportado apenas pelo Estado, o desembolso do leitor pode baixar ainda mais. Se, por exemplo, o editor/escritor abrir mão de 20% do preço de capa, o livro de 1500$00 chegaria ao leitor pela módica quantia de 750$00 (1500-450-300).
Será isso factível? Poderia o tesouro público suportar isso? A mim parece-me que sim. AoTesouro público caberá definir o que vale a pena subvencionar: se a gasolina (como sucedeu num passado não muito longínquo, 136-79=57$00 o litro) ou se o livro, o tal amigo de palavra.
Por mim, e enquanto escritor/editor, abri já mão de 20% do preço de capa do livro SAPATOS DE DEFUNTO (1500-300=1200). E fica o desafio ao PODER (e ao tesouro público): DÁ-SE TANTA IMPORTÂNCIA AO LIVRO QUANTO SE PROPAGA POR AÍ? Dá-se? Então que sigam as minhas pisadas e avancem com uma subvenção, se não de 30% como sugerido, ao menos ao meu nível - 20%.
Isto já não é apenas uma ideia a abraçar. É uma inicitiva sem volta. Pelo menos no que a mim diz respeito. Quererá o Tesouro abraçar esta iniciativa?
Quem viver verá!
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