Friday, August 10, 2007

REFLEXÃO ENCAMINHADA A UM SEMANÁRIO DA PRAÇA HÁ EXACTAMENTE 11 MESES

Diante da situação periclitante que se vive na Capital em matéria de acesso à energia eléctrica, trago para o cyberespaço esta reflexão produzida há 11 meses e que por vicissitudes diversas nunca chegou a ser publicada, apesar de ter sido encaminhada para a redacção de um semanário local, não me lembrando bem agora se terá sido o A SEMANA ou o HORIZONTE. É que, mau grado as garantias dadas peo exmo. Presidente da Comissão Executiva da empresa, que ainda detém o monopólio, este Verão não está a ser muito diferente do dos três últimos anos. E talvez a questão não tenha a ver apenas com a falência da rede de distribuição.
E mantém-se a inquietante dúvida: PORQUE CONTINUA A COMISSÃO EXECUTIVA EM SANVICENTE, SE O MAIOR CENTRO DE CONSUMO (E DE PROBLEMAS POR RESOLVER, TAMBÉM) É SANTIAGO E A CAPITAL DO PAÍS?
Chegado ao ponto a que as coisas chegaram na Capital, o senhor Ministro da Energia, responsável também pelo crescimento e competitividade da economia, (ou o senhor Primeiro Ministro por ELE), enquanto responsável político por tal estado de coisas, tem que tomar uma atitude: ou muda a Comissão Executiva para a Praia ou cria uma UNIDADE DE CRISE, com poderes executivos, para acompanhar, equacionar e resolver, em tempo real, os problemas de energia da Cidade da Praia, que é, queira-se ou não, a Capital da República de Cabo Verde. E que fique bem claro uma coisa: estou-me nas tintas quem manda (ou desmanda) na Electra, ou onde fica a sede da empresa; o que se quer (e já vão sendo horas de se exigir, meeesmo) é que a Capital tenha um núcleo executivo com poderes de decisão à altura dos problemas e constragimentos existentes.
E cá vai com um atraso de onze meses, mas com muita actualidade, a reflexão produzida em 10.09.06. Boa leitura.
A ELECTRA E A CIDADE DA PRAIA: UMA NOVA ERA
“As consequências de não dizer nada são sempre maiores e piores do que as consequências de dizer alguma coisa.”
Marianne M. Jennings
O novo acordo de accionistas da ELECTRA, SARL, celebrado no passado dia 31 de Agosto, abre novíssimas perspectivas à empresa de electricidade e água e à cidade da Praia e que não podem ser defraudadas, sob que pretexto for.
Desde logo porque o sector é vital para o desenvolvimento; depois porque o consumidor já se conscientizou de que o contrato que tem com a empresa lhe confere o direito a ter, no seu local de consumo, energia e água 24 sobre 24 horas e com boa qualidade e que a interrupção do fornecimento só seria aceite por pequeno período e se for por razões de força maior. E deixou já bem claro que a interrupção de fornecimento baseada no facto de a empresa não ter suficiente potência instalada (entendida como a potência necessária para cobrir as necessidades diárias + uma reserva para situações fortuitas) não é caso de força maior. É incúria, é imprevidência. E como tal, justificação ilegítima e, por isso mesmo, inaceitável.
Para esconjurar de vez a situação a que se chegou neste tristemente célebre Verão de 2006, há, no que concerne à energia eléctrica, três ordens de medidas que devem ser adoptadas, e que têm a ver com:
1. Produção
2. Distribuição
3. Gestão

PRODUÇÃO
Em matéria de produção deve-se assumir como princípio básico (e urgente) o seguinte:
1. Instalação da potência necessária para dar conta da necessidade da cidade da Praia e de uma potência de reserva com capacidade para cobrir, no mínimo e em um primeiro momento, 50% das necessidades da cidade;
2. Alteração da situação de grande variedade de marcas de grupos geradores, pela via da substituição gradual dos mesmos por equipamentos de uma mesma marca (eleita em função da mais valia que puder trazer ao nosso parque de geradores);
3. Rotação no funcionamento dos grupos geradores instalados, de forma a garantir que a dita potência de reserva esteja sempre operacional e não constitua peso morto para a empresa, nem encargos adicionais para o consumidor.

DISTRIBUIÇÃO
No que à distribuição diz respeito, há que adoptar, de entre outros, os compromissos seguintes:
1. Upgrade da rede de distribuição de energia, com estratégias claras em matéria de localização de PT e produção de planta (ou plantas) localizando a malha dos circuitos no tecido da cidade;
2. Vigilância permanente da rede com vista a obstar as ineficiências tradicionais da empresa e permitindo:
a) Combate cerrado ao furto de energia na rede de distribuição;
b) Redução das perdas fortuitas de potência durante o transporte;
c) Evitar acidentes que possam perigar a segurança de utentes e transeuntes;
d) Salvaguardar a integridade de equipamentos eléctricos e electrónicos instalados nos locais de consumo.
GESTÃO
No concernente à gestão, esta terá que ser encarada com o máximo de profissionalismo, ética e muito respeito para com os consumidores que são, ao cabo e ao resto, a razão de ser da existência de qualquer fornecedor de bem ou serviço.
Ousaríamos avançar algumas recomendações:
1. Contratação de uma equipa capaz, com provas dadas e com conhecimento do sector;
2. Autonomização da gestão das centrais de Santiago ou a deslocalização da sede da empresa para a capital do país, enquanto pólo mais problemático e maior consumidor do país;
3. Definição de políticas coerentes de aquisição de Grupos Geradores e de Gestão de Stocks de peças de reposição;
4. Adopção de uma política laboral e de RH que permita:
a) A motivação dos agentes;
b) A redução dos conflitos laborais;
c) O recrutamento baseado no mérito e no potencial do candidato;
d) A célere desvinculação dos elementos perniciosos;
e) A fixação dos bons profissionais;

Neste momento ímpar nas relações da empresa com a banca, esta minha primeira intervenção não poderia deixar de chamar a atenção dos responsáveis para a necessidade de as novas dívidas a serem contraídas, venham a ser dívidas inteligentes, que é como quem diz, não para pagamento de salários ou outras operações de tesouraria, mas, e sobretudo, para investimentos.

POR UMA PRAIA (E UM CABO VERDE) MELHOR, SEMPRE!
10.09.06 António Ludgero Correia

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