Monday, June 25, 2007

DA PRAIA, DA PRÓ-PRAIA, DO LEITE, DA NATA E… DO SORO


Quando em meados do segundo semestre de 2001 o meu amigo, compadre e afilhado Luís Cabral Correia (que também responde pelo nome de Cacá Boxêro) me contactou para juntos organizarmos um grupo para pensar a Praia e seus problemas, a primeira questão que lhe pus foi esta: «quem mais pensas envolver?»
Explicou-me que já contactara os manos Bebéto Aguiar, Mário Aguiar e Carlos Alberto «IRAS» Silva, o Mário Semedo, o Adriano de Pina, o Cipriano Fernandes, o Zézé de Nhâ Reinalda, o Gildo Ribeiro, o Cândido Carvalho, o Kiki de Nhâ Chumpinha, Fabião de Sousa... Pedi-lhe que parasse, já que eram todos gente de bem, pessoas que eu conhecia muito bem. E pusemo-nos a pensar em mais pessoas que poderiam incluir o núcleo duro do grupo de reflexão que, no momento, ninguém podia prever no que poderia desembocar.
Foi o grupo começar a se reunir para se ver enriquecido com figuras como José Jorge de Pina, Lito Semedo, Jorge Figueiredo, Tober Lopes da Silva, Filinto Elísio, Manuel «Bucha» Barreto, Luís Carlos Vasconcelos e muitos outros ilustres praienses.
Logo logo, as reflexões obrigaram-nos a ter que decidir que tipo de organização iríamos pôr de pé. Uma associação para defesa e protecção do consumidor (que encontrava em mim um grande defensor) ou uma associação para o desenvolvimento da Praia (apoiado pela maioria). Porque era de uma oficina democrática que se tratava, decidimos optar por uma associação que se preocupasse com o desenvolvimento da Praia.
Como se chamaria? Por sugestão minha (aclamada por todos) acabou por ser PRÓ-PRAIA – Associação para o Desenvolvimento da Praia. Na assembleia constituinte contámos com perto de 500 presenças registadas (nome, telefone, e-mail, profissão e disponibilidades de participação). A nata da sociedade praiense. Quem quiser que confira a pauta na sede da PRÓ-PRAIA (Pracinha da Escola Grande, telefone 2615151, e-mail propraia@cvtelecom.cv). E, caso raro em Cabo Verde, dos corpos gerentes não constavam muitos dos promotores do movimento, enquanto apareciam praienses sintonizados com os problemas da Praia mas que não pertenciam ao dito núcleo duro: Benilde Correia e Silva, Paula Almeida, Lena Ribeiro, Yolanda Monteiro, Águeda Monteiro, Ana Cristina Sousa, Josefa Lopes e muitos ilustres cabo-verdianas e cabo-verdianos.
A associação logo que começou a funcionar pôde contar com contributos inestimáveis de praienses engajados com o equacionamento dos problemas da cidade como Jacinto Santos, Felisberto Vieira, João Gomes (que viria a ser, sucessivamente, Vice-Presidente – sucedendo a Jorge Figueiredo que se elegeu Presidente da Câmara Municipal do Sal – e Presidente da Associação), José Maria Semedo, Carlos Barreto Santos, António Moniz, Ivo José Vera-Cruz, o engenheiro Silvino Lima, os arquitectos Pedro Martins, Luís Silva, Carlos Évora, Francisco Duarte e João Vieira (sem contar que sempre pudemos contar com conselhos e sugestões do mais velho Pedro Gregório Lopes e do Pepey Bettencourt, conquanto deslocado na ilha do Sal), os economistas Claudino Semedo, Alcides Oliveira, Óscar Santos, o sociólogo Domingos Mendes, Júnior, os gestores Orlando Mascarenhas, Júlio Almeida, Alfredo Carvalho, Alfredo Eugénio Barbosa Fernandes, enfim, uma plêiade de praienses que, conhecendo apenas o MANIFESTO, os ESTATUTOS e o carácter dos titulares dos órgãos, confiaram e apoiaram como puderam.
O maior risco que posso correr quando falo dos «MEUS» apoiantes, durante o tempo que fui Presidente da PRÓ-PRAIA, é pecar por defeito, porque sempre escapam nomes de gente que deu contributos decisivos, mas cuja discrição nos pode fazer omiti-los em um momento de homenagens, que não é o caso agora. ALFREDO CARVALHO (da TECNICIL), AQUILINO CAMACHO(INTERTRADE e PAPELARIA ACADÉMICA), CARLOS MOREIRA (da ADEGA, SA), BRÁZ DE ANDRADE, CARLOS FREIRE (da CALÚ & ÂNGELA), JOÃO FILOMENO (da CASA MENO SOARES), ANTÓNIO CORREIA (dos IRMÃOS CORREIA), ANTÓNIO MOURA (da MOURA COMPANY), LUÍSA LOBO (da TIPOGRAFIA SANTOS), FELISBERTO VIEIRA (da CMP) são apenas alguns dos nomes (quiçá os mais sonoros) que suportaram o crescimento da Associação. Mas há mais. Muito mais. E os meus veneráveis conselheiros, Abraão Levy, Anastácio Filinto Correia e Silva, Ruy de Aguiar, Napoleão Bonapartde dos Santos, Pedro Gregório Lopes, então?
Fazia, por isso, todo o sentido esperar que no FÓRUM para a IDENTIFICAÇÃO DE VOCAÇÕES, MEDIDAS DE POLÍTICA, INFRA-ESTRUTURAS E ATITUDES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PRAIA, agendado para 27 de Abril de 2006, se reunisse a fina-flor da sociedade praiense. Veja-se apenas, por agora, a lista de temas, conferencistas e moderadores (onde não consta o nome de nenhum titular de órgãos da PRÓ-PRAIA):

Painel I
VOCAÇÃO E PRINCIPAIS MEDIDAS/PROJECTOS/ACTIVIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO DA PRAIA.
Conferencistas:
Oscar Santos: Vocações, medidas e atitudes
José Luís Fernandes: Projectos para a materialização das vocações
Moderador: Francisco Tavares
Painel II
URBANIZAÇÃO E SEGURANÇA – IMPACTOS, CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E PERSPECTIVAS
Conferencistas:
João Vieira: Urbanização (fenómeno espacial); ordenamento do território, etc..
Crisanto Barros: “Urbanização (fenómeno social e económico) e seus impactos em matéria de Segurança e Civismo” e “O exercício da autoridade e da Cidadania”.
Moderador: Francisco Duarte
Painel III
EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO – OS PILARES DA OUTRA FACE DO DESENVOLVIMENTO DA PRAIA:
Conferencistas:
António Fernandes: Educação
António Correia e Silva: Cultura
Emmanuel Charles Oliveira: Desporto
Moderador: Abraão Vicente
Painel IV
AMBIENTE, TURISMO E DESENVOLVIMENTO: DESAFIOS PARA UMA PRAIA MODERNA.
Conferencistas:
Luís Rosa: Ambiente e Desenvolvimento
Pedro Barros: Turismo e Desenvolvimento
Moderador: José Filomeno Carvalho

Não é um luxo ter um corpo de conferencistas e debatedores com tal nível? E que dizer da comissão de redacção? Os jornalistas Arminda Barros e Luís Carvalho (estando a escrever de memória, não sei se não haveria mais alguém na comissão) não fazem uma comissão de luxo? E os convites que havíamos enviado? Convites personalizados a todos os praienses (cidadãos, em si, que vivem, trabalham e educam os seus filhos na Cidade da Praia) que acreditávamos tinham muito a dar ao fórum; apelos pelos jornais (obrigados ASEMANA, HORIZONTE e EXPRESSO DAS ILHAS), pelas rádios (PRAIA FM, RCV e RÁDIO COMERCIAL, referindo-me às frequências que escutei na ocasião), pela televisão; tarjetas entregues a transeuntes.
De presunção e água benta, feliz ou infelizmente, cada um tem quanto quer: eu acreditei que conseguiria ter no fórum a nata da sociedade praiense (não fizemos por menos); outros podem ter acreditado que quem não recebesse convite personalizado era «não-nata».
A verdade verdadeira, porém, é que, apesar de mais tarde ter descoberto que alguns convites acabaram não sendo entregues por insuficiência de endereço, no fórum esteve a nata da sociedade praiense. NEM TODA A NATA, MAS A NATA. Fiquei com a impressão de que todos os praienses engajados com a cidade e que tiveram disponibilidade de tempo (nem todos puderam, já se tratava de um dia útil e nem todos são senhores do seu tempo) lá estavam. E quanto aos ausentes a única explicação que nos ocorreu era que, não sendo senhores do seu tempo, não tinham conseguido a competente dispensa para dignificarem o fórum com a sua presença. O que importava era que o fórum tinha sido um estrondoso sucesso!
Para a minha cidade sempre quis o melhor. Não consegui ainda? Que importa? Sou corredor de fundo. Não há pressas.

Tenho plena consciência de que quando se escreve ou se fala, se exterioriza o que nos vai na alma; mas que quando se lê, faz-se a interpretação, de acordo com as vivências, as experiências, a educação. Daí que a «leitura» não seja a captação fiel do que se viu ou ouviu, mas uma interpretação do interlocutor, com uma carga subjectiva muito forte. Pessoalmente, seja na qualidade de filho, de estudante, de jogador de futebol, de servidor público, de marido, pai, dirigente associativo (Sporting Club da Praia, ARFS, PRÓ-PRAIA), cronista, activista cívico ou escritor, acredito que, não raras vezes, as minhas palavras – escritas ou verbalizadas – terão traído o meu pensamento. É normal. Mas de uma coisa tenho a certeza: se alguém inferiu da declaração de que se esperava que no fórum estaria a nata da sociedade praiense, e do facto de não ter recebido um convite personalizado para o fórum, que era tido como personna non grata, é porque sofre de crónica necessidade de estima e reconhecimento, a que seremos, todos, absolutamente alheios. Acho mais crível a hipótese de auto-exclusão seguida de crise de remorso.
Porque considerar que se pretendeu dividir a sociedade praiense entre «nata» e... «soro», não convence ninguém. Desde logo porque nata + soro = leite e não há leite sem soro, o que nos conduz a que nata e soro sejam duas categorias verdadeiramente importantes e indissociáveis. Com mais ou menos natas, só se tem leite (inteiro, meio-gordo ou magro) se estas estiverem associadas ao soro. Por isso, e mesmo que se admitisse, por absurdo, que se pretendeu fazer discriminação, não seria tão grave quanto isso, se se tomasse o «soro» como oposto da «nata».
Bem… a não ser que, como sugeriu um conhecido meu, se tenha considerado que o oposto de «nata» seja «escumalha». Mas tenho a certeza de que não foi isso que aconteceu: quem me conhece sabe que não sou de descriminar ou dispensar braços e mentes, mormente sabendo, como sei, que mesmo se estivéssemos todos na mesma trincheira, ainda assim seríamos poucos para fazer com que as boas práticas ganhem foros de cidadania na gestão da coisa pública na Cidade da Praia.
Vamos deixar os fait-divers? Vamos dar as mãos e juntos pugnar por que a nossa cidade se transforme num lugar bom para viver, trabalhar, amar, educar os filhos e esperar pela morte? Vamos?
António Ludgero

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