LA ROCHEFOUCAULD, FRANÇOIS
Esperei ver reacções à pouco menos que apoteótica escolha de Felisberto Vieira para Coordenador político do Sector Autónomo de Santiago-Sul do PAI, mas, até ao momento, não captei nenhuma leitura política aos resultados do pleito que opôs o delfim putativo de Pires ao homem de mão de José Maria Neves e do politburo do PAI, de seu nome Rui Semedo. A coisa talvez não tenha tido ressonância suficiente para atingir a África Austral, por onde andava a trabalho. Por isso, sugiro um pouco da história recente de Filú, do Rui e dos apoiantes de ambos.
1995
Na lista do PAI para o círculo eleitoral do Concelho da Praia, nas eleições legislativas de 17 de Dezembro desse ano, enquanto Rui Semedo era APENAS o segundo da lista de candidatos suplentes (abaixo de João Papá – hoje eleito Municipal na Ribeira Grande de Santiago na lista do MpD – e imediatamente acima de Marcos Fortunato Oliveira), Felisberto Vieira era SIMPLESMENTE o segundo homem da lista de candidatos efectivos (atrás, apenas, do Secretário-Geral do partido - Aristides Lima). Na ocasião, Filú só não chega à Segunda Vice-Presidência da Mesa da Assembleia Nacional porque Veiga, Gualberto e comandita se encarregaram de o vetar (que não tinha o perfil requerido, etc. e tal). José Maria Neves (JMN), que em tempos fora Líder da Juventude do PAI (a JAAC-CV), é proposto e aprovado para o cargo que estava destinado a Vieira – 2º Vice-Presidente da Mesa da AN.
E a história do PAI começa a mudar por essa altura. Do PAI e de figuras como JMN, Manuel Inocêncio, Basílio Ramos e Rui Semedo. Acontecerá, mais tarde, a projecção de figuras, de outro campeonato, (p.e. Cristina Fontes, Eduardo Monteiro, José Maria de Pina, etc.), mas isso são contas de outro rosário.
Neves tinha já dado indicações da sua ambição de vir a liderar e renovar o partido (vem-me agora ao consciente uma sugestão dele – muito comentada na altura - no sentido da mudança do nome do partido de PAI para PSD). Nada, no entanto, que fizesse acreditar que ousaria desafiar Pires. Eleito 2º Vice-Presidente da Mesa da AN, aproveita a oportunidade que o MpD lhe oferece e se torna a face visível dos renovadores do PAI, vindo a liderar a famosa lista J.
Vieira, sempre fiel a Pires, seu mentor político, assume a liderança do Grupo Parlamentar até à sua eleição, no ano 2000, para o cargo de Presidente da Câmara Municipal da Praia.
Esperei ver reacções à pouco menos que apoteótica escolha de Felisberto Vieira para Coordenador político do Sector Autónomo de Santiago-Sul do PAI, mas, até ao momento, não captei nenhuma leitura política aos resultados do pleito que opôs o delfim putativo de Pires ao homem de mão de José Maria Neves e do politburo do PAI, de seu nome Rui Semedo. A coisa talvez não tenha tido ressonância suficiente para atingir a África Austral, por onde andava a trabalho. Por isso, sugiro um pouco da história recente de Filú, do Rui e dos apoiantes de ambos.
1995
Na lista do PAI para o círculo eleitoral do Concelho da Praia, nas eleições legislativas de 17 de Dezembro desse ano, enquanto Rui Semedo era APENAS o segundo da lista de candidatos suplentes (abaixo de João Papá – hoje eleito Municipal na Ribeira Grande de Santiago na lista do MpD – e imediatamente acima de Marcos Fortunato Oliveira), Felisberto Vieira era SIMPLESMENTE o segundo homem da lista de candidatos efectivos (atrás, apenas, do Secretário-Geral do partido - Aristides Lima). Na ocasião, Filú só não chega à Segunda Vice-Presidência da Mesa da Assembleia Nacional porque Veiga, Gualberto e comandita se encarregaram de o vetar (que não tinha o perfil requerido, etc. e tal). José Maria Neves (JMN), que em tempos fora Líder da Juventude do PAI (a JAAC-CV), é proposto e aprovado para o cargo que estava destinado a Vieira – 2º Vice-Presidente da Mesa da AN.
E a história do PAI começa a mudar por essa altura. Do PAI e de figuras como JMN, Manuel Inocêncio, Basílio Ramos e Rui Semedo. Acontecerá, mais tarde, a projecção de figuras, de outro campeonato, (p.e. Cristina Fontes, Eduardo Monteiro, José Maria de Pina, etc.), mas isso são contas de outro rosário.
Neves tinha já dado indicações da sua ambição de vir a liderar e renovar o partido (vem-me agora ao consciente uma sugestão dele – muito comentada na altura - no sentido da mudança do nome do partido de PAI para PSD). Nada, no entanto, que fizesse acreditar que ousaria desafiar Pires. Eleito 2º Vice-Presidente da Mesa da AN, aproveita a oportunidade que o MpD lhe oferece e se torna a face visível dos renovadores do PAI, vindo a liderar a famosa lista J.
Vieira, sempre fiel a Pires, seu mentor político, assume a liderança do Grupo Parlamentar até à sua eleição, no ano 2000, para o cargo de Presidente da Câmara Municipal da Praia.
Ano 2000
Nessas eleições, para além de Vieira, também Neves e Ramos se elegeriam Presidentes de Câmara (de Santa Catarina de Santiago, aquele, e do Sal, este último). Semedo notabiliza-se com o programa que preenchia o tempo de antena do PAI – VOZ DA OPOSIÇÃO. Inocêncio fica na sombra: é a eminência parda da vaga reformadora do PAI, uma espécie de Olívio Pires dos tempos hodiernos. Pedro Pires está cumprindo os últimos meses da presidência do PAI. Por vontade própria. Porque se quer alcandorar à suprema Magistratura da Nação.
Este é o retrato do PAI no Ano de graça de 2000. Afinal, contra as previsões mais pessimistas, a Humanidade chegou e ultrapassou a barreira mítica que seria o último ano do século XX.
JMN, Filú e Basílio (os grandes vencedores das autárquicas de 2000) eram os dirigentes da Estrela Negra melhor posicionados para substituir Pires. Estando todos eles presos à promessa de que não abandonariam os cargos para que tinham sido eleitos, restavam Inocêncio e Rui. Este está ainda verde: aguerrido, mas com um deficit considerável de traquejo político; Inocêncio, avaliando a sua (pouca) popularidade, não se aventura. Não se coloca na berlinda, mas incentiva José Maria a dar o salto.
Mas havia, pelo menos, duas questões que clamavam por uma resposta pronta:
1) E a promessa de JMN aos eleitores de Santa Catarina (que, segundo ele, lhe habitavam o lado esquerdo do peito)?
2) E mesmo que os eleitores de Santa Catarina libertassem JMN da promessa, como convencer Pires e Filú a entregarem a JMN, de bandeja, a fortíssima probabilidade de se tornar o próximo Primeiro-ministro de Cabo Verde?
E aí a história do povo das ilhas, e do PAI, dá uma guinada pouco menos que histórica.
Primeiro, começam a chover na comunicação social (falada, escrita e televisionada) apelos à candidatura de JMN à presidência do PAI, numa orquestração perfeita. Depois foi a movimentação interna do PAI, tendo como centro a lista J, que incha até mais não. O apoio de Basílio é quase decisivo. E digo quase, porque o que fez pender a balança, definitivamente, foi a atitude de Pires: quando todo o Mundo (principalmente o Filú) contava com uma tomada de posição a favor de seu delfim, eis que o Comandante olha para os lados e segue assobiando «Sol, suor, o verde e o mar, séculos de dor e esperança». Sem muita esperança, ainda assim, Filú, vai à luta. Mas a lista F chega tarde e baqueia diante da lista J, liderada por um José Maria Neves que seguia se agigantando, crescendo, dominando… até à apoteose final, que foi a vitória, por maioria absoluta, sobre o encolhido MpD de Gualberto do Rosário.
2008
Do homem do aparelho do partido que fora, Felisberto vai-se tornando cada vez mais autarca e uma voz cada vez menos escutada e respeitada no PAI. Não raras vezes, por opção pessoal; muitas vezes, confinado pelos integrantes da tal panelinha que se foi formando, e se reforçando, à sombra do compadre José Maria.
Rui Semedo, Cristina Fontes, Eduardo Monteiro e José Maria de Pina despontam como os novos «homens» fortes do aparelho tambarina. Felisberto vai-se enroscando com os problemas da Capital, para cuja resolução não se havia preparado. Vez por outra, quando as coisas apertavam, lá se chamava o Filú para dar uma mãozinha numa campanha que ameaça descarrilar.
Associando a sua imagem a grupos de baixa extracção política e a oportunistas da política, convencendo-se de que seria para sempre o nec plus ultra do PAI e vencedor inveterado nas lides eleitorais, Vieira chega ao final de 2008 como um homem com o qual o aparelho do PAI já não contava.
2009
É aí que, inebriado pelo aparente descalabro do companheiro de partido, que a tal panelinha que gira à volta, e sob a sombra, de José Maria Neves resolve dar o golpe de misericórdia em Felisberto. O aparelho aposta todas as fichas em Rui Semedo, embandeira-se em arco e espera pelos resultados da urna para enterrar Filú, fundo e definitivamente.
Mas eis que das cinzas, qual Fénix renascida, emerge o Filú autêntico: o menino da Achada de Santo António, o tipógrafo da Imprensa Nacional, o jogador dos Travadores, o carismático e populista rei dos Comités de base do PAI. Fulgurante, sabendo que tinha de apostar o «jocker» nesta jogada - que poderia transformar-se na morte (política) do artista -, já sabendo que numa eleição está sempre presente a hipótese «derrota», Felisberto monta uma bela equipa e leva de vencida todo o aparelho partidário, brindando o Rui com um valente capote.
Moral da estória
Espera-se que desta «directa» se extraiam as devidas ilações: daqui para a frente, nos partidos políticos nativos, a importância relativa de cada militante passa a ser directamente proporcional ao valor que este acrescenta à dinâmica eleitoral do partido. Não mais cabeça de lista por ser um «próximo» do líder; não mais chefe de fila por fazer parte de qualquer panelinha; não mais «tachos» baseados em vassalagem política; também não mais «currais eleitorais», com votos garantidos por se fazer parte da entourage do chefe.
Chegou, pois, a era da MAIS VALIA: aqueles que arrastam multidões, que trazem votos para o partido, que reforçam a implantação do partido, que, enfim, acrescentam valor ao partido, esses ficam nos lugares cimeiros, encabeçam as listas nas eleições, ocupam cargos de destaque.
É também chegada a hora de os «agregados» começarem a arregaçar as mangas e ir à luta, à conquista de um lugar ao Sol; começar a ser equilibrista no arame político sem contar com a rede protectora de nenhum padrinho.
Chegou também a hora de aprender outras lições, como, por exemplo, saber escolher as companhias com quem se anda, pois lá diz o ditado: «DIZ-ME COM QUEM ANDAS, E DIR-TE-EI QUEM ÉS».
Nessas eleições, para além de Vieira, também Neves e Ramos se elegeriam Presidentes de Câmara (de Santa Catarina de Santiago, aquele, e do Sal, este último). Semedo notabiliza-se com o programa que preenchia o tempo de antena do PAI – VOZ DA OPOSIÇÃO. Inocêncio fica na sombra: é a eminência parda da vaga reformadora do PAI, uma espécie de Olívio Pires dos tempos hodiernos. Pedro Pires está cumprindo os últimos meses da presidência do PAI. Por vontade própria. Porque se quer alcandorar à suprema Magistratura da Nação.
Este é o retrato do PAI no Ano de graça de 2000. Afinal, contra as previsões mais pessimistas, a Humanidade chegou e ultrapassou a barreira mítica que seria o último ano do século XX.
JMN, Filú e Basílio (os grandes vencedores das autárquicas de 2000) eram os dirigentes da Estrela Negra melhor posicionados para substituir Pires. Estando todos eles presos à promessa de que não abandonariam os cargos para que tinham sido eleitos, restavam Inocêncio e Rui. Este está ainda verde: aguerrido, mas com um deficit considerável de traquejo político; Inocêncio, avaliando a sua (pouca) popularidade, não se aventura. Não se coloca na berlinda, mas incentiva José Maria a dar o salto.
Mas havia, pelo menos, duas questões que clamavam por uma resposta pronta:
1) E a promessa de JMN aos eleitores de Santa Catarina (que, segundo ele, lhe habitavam o lado esquerdo do peito)?
2) E mesmo que os eleitores de Santa Catarina libertassem JMN da promessa, como convencer Pires e Filú a entregarem a JMN, de bandeja, a fortíssima probabilidade de se tornar o próximo Primeiro-ministro de Cabo Verde?
E aí a história do povo das ilhas, e do PAI, dá uma guinada pouco menos que histórica.
Primeiro, começam a chover na comunicação social (falada, escrita e televisionada) apelos à candidatura de JMN à presidência do PAI, numa orquestração perfeita. Depois foi a movimentação interna do PAI, tendo como centro a lista J, que incha até mais não. O apoio de Basílio é quase decisivo. E digo quase, porque o que fez pender a balança, definitivamente, foi a atitude de Pires: quando todo o Mundo (principalmente o Filú) contava com uma tomada de posição a favor de seu delfim, eis que o Comandante olha para os lados e segue assobiando «Sol, suor, o verde e o mar, séculos de dor e esperança». Sem muita esperança, ainda assim, Filú, vai à luta. Mas a lista F chega tarde e baqueia diante da lista J, liderada por um José Maria Neves que seguia se agigantando, crescendo, dominando… até à apoteose final, que foi a vitória, por maioria absoluta, sobre o encolhido MpD de Gualberto do Rosário.
2008
Do homem do aparelho do partido que fora, Felisberto vai-se tornando cada vez mais autarca e uma voz cada vez menos escutada e respeitada no PAI. Não raras vezes, por opção pessoal; muitas vezes, confinado pelos integrantes da tal panelinha que se foi formando, e se reforçando, à sombra do compadre José Maria.
Rui Semedo, Cristina Fontes, Eduardo Monteiro e José Maria de Pina despontam como os novos «homens» fortes do aparelho tambarina. Felisberto vai-se enroscando com os problemas da Capital, para cuja resolução não se havia preparado. Vez por outra, quando as coisas apertavam, lá se chamava o Filú para dar uma mãozinha numa campanha que ameaça descarrilar.
Associando a sua imagem a grupos de baixa extracção política e a oportunistas da política, convencendo-se de que seria para sempre o nec plus ultra do PAI e vencedor inveterado nas lides eleitorais, Vieira chega ao final de 2008 como um homem com o qual o aparelho do PAI já não contava.
2009
É aí que, inebriado pelo aparente descalabro do companheiro de partido, que a tal panelinha que gira à volta, e sob a sombra, de José Maria Neves resolve dar o golpe de misericórdia em Felisberto. O aparelho aposta todas as fichas em Rui Semedo, embandeira-se em arco e espera pelos resultados da urna para enterrar Filú, fundo e definitivamente.
Mas eis que das cinzas, qual Fénix renascida, emerge o Filú autêntico: o menino da Achada de Santo António, o tipógrafo da Imprensa Nacional, o jogador dos Travadores, o carismático e populista rei dos Comités de base do PAI. Fulgurante, sabendo que tinha de apostar o «jocker» nesta jogada - que poderia transformar-se na morte (política) do artista -, já sabendo que numa eleição está sempre presente a hipótese «derrota», Felisberto monta uma bela equipa e leva de vencida todo o aparelho partidário, brindando o Rui com um valente capote.
Moral da estória
Espera-se que desta «directa» se extraiam as devidas ilações: daqui para a frente, nos partidos políticos nativos, a importância relativa de cada militante passa a ser directamente proporcional ao valor que este acrescenta à dinâmica eleitoral do partido. Não mais cabeça de lista por ser um «próximo» do líder; não mais chefe de fila por fazer parte de qualquer panelinha; não mais «tachos» baseados em vassalagem política; também não mais «currais eleitorais», com votos garantidos por se fazer parte da entourage do chefe.
Chegou, pois, a era da MAIS VALIA: aqueles que arrastam multidões, que trazem votos para o partido, que reforçam a implantação do partido, que, enfim, acrescentam valor ao partido, esses ficam nos lugares cimeiros, encabeçam as listas nas eleições, ocupam cargos de destaque.
É também chegada a hora de os «agregados» começarem a arregaçar as mangas e ir à luta, à conquista de um lugar ao Sol; começar a ser equilibrista no arame político sem contar com a rede protectora de nenhum padrinho.
Chegou também a hora de aprender outras lições, como, por exemplo, saber escolher as companhias com quem se anda, pois lá diz o ditado: «DIZ-ME COM QUEM ANDAS, E DIR-TE-EI QUEM ÉS».
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