“Não haja medo que a sociedade se desmorone sob um excesso de altruísmo. Não há perigo desse excesso.”
Fernando Pessoa
Os militantes chamaram e Veiga respondeu. Muito bem. E vai ser interessante ver, em 2001, em sede de eleições legislativas, dois pesos pesados da política nacional digladiando-se para conquistar a maioria dos mandatos em disputa.
Veiga, primeiro Chefe de Governo da II República, inaugurou um período de presidencialismo de Primeiro-ministro, assumindo-se, indubitavelmente, como o homem forte do país. Ganhou duas eleições legislativas e ambas por folgadas maiorias, baptizadas de “qualificada”.
Cumpriu a sua primeira legislatura com um brilho tal, que lhe viria a valer a recondução. No segundo mandato, quiçá ofuscado pelo tal brilho, abriu flanco para a instalação de uma era de arrogância, de desrespeito pela diferença e de um certo quero, posso e mando. Sabe-se que tentou travar a onda, mas piou tarde. Tão tarde que permitiu que a fidelidade medíocre ganhasse foros de cidadania no movimento, pondo em marcha esquemas de desligação de militantes e amigos que tivessem ideias próprias.
Depois do cisma de 1993 Veiga acreditou que o partido tinha ficado mais forte. Pudera! Tinha-se livrado dos mais indisciplinados. Com o cisma de 2000, ainda acreditou que o que restara do movimento ficara mais forte. Mas o eleitorado não acreditou. Nenhum movimento (ou partido), em Cabo Verde, pode ficar mais forte depois de perder personalidades como Jorge Carlos Fonseca, Eurico Correia Monteiro, Jorge, Domingos e António Maurício Santos, Germano Almeida, Alfredo Teixeira, Luís Leite (primeira cisão), Jacinto Santos, António Espírito Santo, José António Reis, José Luís Livramento, Simão Monteiro (segunda cisão). E a verdade é que Gualberto do Rosário, que substituiria Veiga nos derradeiros dias do ano 2000, não conseguiu vislumbrar a força que Veiga lhe garantira que o movimento ainda detinha. E saído Gualberto… a fraqueza ficou tão exposta que, hoje, passados quase 09 anos e após algumas penitências, muitas mea culpa e uma tremenda catarse, Veiga se vê forçado a regressar à liderança do movimento.
Pessoalmente, já sugerira ao pessoal que uma das soluções possíveis para os problemas que o MpD tem em relação às legislativas seria CHAMAR O VEIGA. Assim como o PAI se viu forçado a APELAR AO ZÉ MARIA para ficar mais uma temporada no comando do team. Pelas mesmíssimas razões: depois do JMN, no PAI, instalar-se-ia uma crise em tudo parecida com a que vitima o MpD.
Afinal, sabe-se agora, não era coisa boa o líder do partido ser mais popular do que o partido (ou movimento) que lidera. Quem disso se ufanava é agora obrigado a pôr as barbas de molho. Veiga e JMN, para além da incumbência de ganhar as eleições legislativas de 2011, vão ter que aprender que, afinal, um bom líder não é aquele que pode meter todos os concorrentes putativos no bolso. O bom líder é aquele capaz de desenvolver um bom corpo de dirigentes, qualquer deles à altura de o substituir, em qualquer eventualidade. Não canibalizar os ambiciosos, nem apadrinhar delfins, mas dando espaços e oportunidades para que os colaboradores cresçam enquanto políticos e enquanto seres humanos - eis a receita, prosaica e elementar qb, mas que pode funcionar.
Quando um país pode ter frente-a-frente dois monstros sagrados da política, disputando o direito de conduzir a terra amada a bom porto, que atitude se pode esperar dos cidadãos? Os militantes vão se reunir à volta das siglas dos respectivos partidos. E os não-militantes?
A questão é interessante (e por isso exige resposta) porque dados empíricos nos dizem que os eleitores militantes, de todos os partidos, somados, não chegarão aos 40%. Isso quer dizer que as vitórias nas urnas são ditadas pelos não-militantes, hoje cada vez mais conscientes e, pour cause, mais exigentes. Uma sigla, muita música, cartazes e camisolas de montão, vão chegar para convencê-los? A resposta é um redondo e contundente NÃO.
Por isso, CV e JMN vão ter que se esmerar nas respectivas plataformas eleitorais; vão ter que demonstrar que respeitam o eleitorado; vão ter de poupar em cartazes e camisolas e investir forte na preparação e na apresentação do projecto que têm para a sociedade; e, principalmente, vão ter de levar para os palanques, pelo menos, os seus propostos para a chefia da equipa económica, para a pasta das relações exteriores e para a pasta do interior (eu seria capaz de exigir que me exibissem também o futuro Ministro da Educação). Ah! E vão ter que participar em quantos debates forem necessários para convencer o grosso do eleitorado, que está-se nas tintas para as siglas partidárias e que votam em plataformas, programas, projectos e… gente capaz.
Cabo Verde já teve 03 Primeiros-ministros (Gualberto não entra nesta contabilidade, por razões mais do que óbvias), todos eles muito fortes politicamente, todos propensos a fazer do Executivo o centro do poder, todos muito convictos de que eram, eles próprios, o centro do poder. Todos eles fizeram jus ao que alguém já chamou de presidencialismo do Primeiro-ministro.
Pedro Pires, Presidente do Conselho Nacional do PAIGC (apesar de Aristides Pereira ser seu superior hierárquico na estrutura supra-nacional do PAIGC) é, sem dúvida, o homem forte do regime e o artífice da viabilização de Cabo Verde, enquanto país independente. Os louros e o odioso de uma tal assumpção, ele merece-os por inteiro.
Carlos Veiga, Presidente do MpD, foi, indubitavelmente, o protagonista da abertura política e líder absoluto das primeiras legislaturas da II República. Reinou enquanto quis, desfazendo-se de quantos levantavam ondas. Não raras vezes deixou Mascarenhas Monteiro de fora de cimeiras de Chefes de Estado de organizações de que Cabo Verde era membro.
José Maria Neves, Presidente do PAI, parece ter-se inspirado em Veiga, com um único senão: não se desfaz dos seus imediatos, antes partilha com eles o poder. Partilha, mas deixa claro que quem manda é ele. Há quem interprete uma tal forma de partilha como uma estratégia de controlo dos potenciais opositores, um pouco como naquela máxima «OS TEUS INIMIGOS MANTENHA-OS POR PERTO». Enquanto Veiga se desfaz das ameaças, Neves controla-as. Diferença de nada.
Tinha razão a jornalista Lionela Borges, quando, por ocasião de uma entrevista de rua, disse para um velhote, apontando para JMN: «Nhu odja li. É quel homi lá qui ta manda na Cabo Verde». E teria razão quem quer que fosse que apontasse para PP ou para CV e fizesse a mesma asserção. Todos eles mandavam, tinham gosto em mandar e não faziam por escamotear o seu poder e a sua pretensão de ser o centro do poder político. E não é por acaso que PP e CV acabaram candidatos a Presidente da República. E JMN só não é candidato à suprema magistratura da Nação pelas razões que fizeram com que Veiga deixasse agora de o ser: não acredita que nenhum dos seus Imediatos seja capaz de levar o barco a bom-porto.
Assim como assim, vamos ter em 2011 umas eleições legislativas com sabor a eleições presidenciais, em ambiente presidencialista. Vamos eleger um homem que, mais do que certo, vai confirmar a tendência nacional para a prática presidencialista, ainda que em regime parlamentar. Veiga ou JMN, seja qual deles for o vencedor do pleito, vai manter de pé o presidencialismo do Primeiro-ministro. A questão que fica no ar é esta: PORQUE NÃO FAZER, ENTÃO, A OPÇÃO PELO SISTEMA PRESIDENCIAL DE GOVERNO?
Veiga, primeiro Chefe de Governo da II República, inaugurou um período de presidencialismo de Primeiro-ministro, assumindo-se, indubitavelmente, como o homem forte do país. Ganhou duas eleições legislativas e ambas por folgadas maiorias, baptizadas de “qualificada”.
Cumpriu a sua primeira legislatura com um brilho tal, que lhe viria a valer a recondução. No segundo mandato, quiçá ofuscado pelo tal brilho, abriu flanco para a instalação de uma era de arrogância, de desrespeito pela diferença e de um certo quero, posso e mando. Sabe-se que tentou travar a onda, mas piou tarde. Tão tarde que permitiu que a fidelidade medíocre ganhasse foros de cidadania no movimento, pondo em marcha esquemas de desligação de militantes e amigos que tivessem ideias próprias.
Depois do cisma de 1993 Veiga acreditou que o partido tinha ficado mais forte. Pudera! Tinha-se livrado dos mais indisciplinados. Com o cisma de 2000, ainda acreditou que o que restara do movimento ficara mais forte. Mas o eleitorado não acreditou. Nenhum movimento (ou partido), em Cabo Verde, pode ficar mais forte depois de perder personalidades como Jorge Carlos Fonseca, Eurico Correia Monteiro, Jorge, Domingos e António Maurício Santos, Germano Almeida, Alfredo Teixeira, Luís Leite (primeira cisão), Jacinto Santos, António Espírito Santo, José António Reis, José Luís Livramento, Simão Monteiro (segunda cisão). E a verdade é que Gualberto do Rosário, que substituiria Veiga nos derradeiros dias do ano 2000, não conseguiu vislumbrar a força que Veiga lhe garantira que o movimento ainda detinha. E saído Gualberto… a fraqueza ficou tão exposta que, hoje, passados quase 09 anos e após algumas penitências, muitas mea culpa e uma tremenda catarse, Veiga se vê forçado a regressar à liderança do movimento.
Pessoalmente, já sugerira ao pessoal que uma das soluções possíveis para os problemas que o MpD tem em relação às legislativas seria CHAMAR O VEIGA. Assim como o PAI se viu forçado a APELAR AO ZÉ MARIA para ficar mais uma temporada no comando do team. Pelas mesmíssimas razões: depois do JMN, no PAI, instalar-se-ia uma crise em tudo parecida com a que vitima o MpD.
Afinal, sabe-se agora, não era coisa boa o líder do partido ser mais popular do que o partido (ou movimento) que lidera. Quem disso se ufanava é agora obrigado a pôr as barbas de molho. Veiga e JMN, para além da incumbência de ganhar as eleições legislativas de 2011, vão ter que aprender que, afinal, um bom líder não é aquele que pode meter todos os concorrentes putativos no bolso. O bom líder é aquele capaz de desenvolver um bom corpo de dirigentes, qualquer deles à altura de o substituir, em qualquer eventualidade. Não canibalizar os ambiciosos, nem apadrinhar delfins, mas dando espaços e oportunidades para que os colaboradores cresçam enquanto políticos e enquanto seres humanos - eis a receita, prosaica e elementar qb, mas que pode funcionar.
Quando um país pode ter frente-a-frente dois monstros sagrados da política, disputando o direito de conduzir a terra amada a bom porto, que atitude se pode esperar dos cidadãos? Os militantes vão se reunir à volta das siglas dos respectivos partidos. E os não-militantes?
A questão é interessante (e por isso exige resposta) porque dados empíricos nos dizem que os eleitores militantes, de todos os partidos, somados, não chegarão aos 40%. Isso quer dizer que as vitórias nas urnas são ditadas pelos não-militantes, hoje cada vez mais conscientes e, pour cause, mais exigentes. Uma sigla, muita música, cartazes e camisolas de montão, vão chegar para convencê-los? A resposta é um redondo e contundente NÃO.
Por isso, CV e JMN vão ter que se esmerar nas respectivas plataformas eleitorais; vão ter que demonstrar que respeitam o eleitorado; vão ter de poupar em cartazes e camisolas e investir forte na preparação e na apresentação do projecto que têm para a sociedade; e, principalmente, vão ter de levar para os palanques, pelo menos, os seus propostos para a chefia da equipa económica, para a pasta das relações exteriores e para a pasta do interior (eu seria capaz de exigir que me exibissem também o futuro Ministro da Educação). Ah! E vão ter que participar em quantos debates forem necessários para convencer o grosso do eleitorado, que está-se nas tintas para as siglas partidárias e que votam em plataformas, programas, projectos e… gente capaz.
Cabo Verde já teve 03 Primeiros-ministros (Gualberto não entra nesta contabilidade, por razões mais do que óbvias), todos eles muito fortes politicamente, todos propensos a fazer do Executivo o centro do poder, todos muito convictos de que eram, eles próprios, o centro do poder. Todos eles fizeram jus ao que alguém já chamou de presidencialismo do Primeiro-ministro.
Pedro Pires, Presidente do Conselho Nacional do PAIGC (apesar de Aristides Pereira ser seu superior hierárquico na estrutura supra-nacional do PAIGC) é, sem dúvida, o homem forte do regime e o artífice da viabilização de Cabo Verde, enquanto país independente. Os louros e o odioso de uma tal assumpção, ele merece-os por inteiro.
Carlos Veiga, Presidente do MpD, foi, indubitavelmente, o protagonista da abertura política e líder absoluto das primeiras legislaturas da II República. Reinou enquanto quis, desfazendo-se de quantos levantavam ondas. Não raras vezes deixou Mascarenhas Monteiro de fora de cimeiras de Chefes de Estado de organizações de que Cabo Verde era membro.
José Maria Neves, Presidente do PAI, parece ter-se inspirado em Veiga, com um único senão: não se desfaz dos seus imediatos, antes partilha com eles o poder. Partilha, mas deixa claro que quem manda é ele. Há quem interprete uma tal forma de partilha como uma estratégia de controlo dos potenciais opositores, um pouco como naquela máxima «OS TEUS INIMIGOS MANTENHA-OS POR PERTO». Enquanto Veiga se desfaz das ameaças, Neves controla-as. Diferença de nada.
Tinha razão a jornalista Lionela Borges, quando, por ocasião de uma entrevista de rua, disse para um velhote, apontando para JMN: «Nhu odja li. É quel homi lá qui ta manda na Cabo Verde». E teria razão quem quer que fosse que apontasse para PP ou para CV e fizesse a mesma asserção. Todos eles mandavam, tinham gosto em mandar e não faziam por escamotear o seu poder e a sua pretensão de ser o centro do poder político. E não é por acaso que PP e CV acabaram candidatos a Presidente da República. E JMN só não é candidato à suprema magistratura da Nação pelas razões que fizeram com que Veiga deixasse agora de o ser: não acredita que nenhum dos seus Imediatos seja capaz de levar o barco a bom-porto.
Assim como assim, vamos ter em 2011 umas eleições legislativas com sabor a eleições presidenciais, em ambiente presidencialista. Vamos eleger um homem que, mais do que certo, vai confirmar a tendência nacional para a prática presidencialista, ainda que em regime parlamentar. Veiga ou JMN, seja qual deles for o vencedor do pleito, vai manter de pé o presidencialismo do Primeiro-ministro. A questão que fica no ar é esta: PORQUE NÃO FAZER, ENTÃO, A OPÇÃO PELO SISTEMA PRESIDENCIAL DE GOVERNO?