Monday, January 27, 2014

QUEM TEM MEDO DE VIRGÍNIA WOLF? (2)

A NÃO INTELIGÊNCIA DE JMN
Acusaram-me um dia, em um post no Binókulu Pulitiku, de prestar péssima assessoria ao Presidente da República, por, em um post - respondendo, creio que a José Luís Neves - ter dito que JCF e JMN eram pessoas inteligentes e civilizadas e que não se deixariam levar por incendiários/tchustchucidores.

O nec plus ultra nessas coisas inócuas e anónimas insurgiu-se violentamente contra a qualidade de assessoria que o PR vinha recebendo, tomando como amostra o facto de ter referido que JMN seria um cara inteligente.

Um cara que se tem por inteligente como eu, mormente em uma função de assessoria de uma entidade que deve agir como árbitro e moderador de um sistema político, não deve deitar achas à fogueira; antes, deve deitar água na fervura. Daí que poderia ter postado que JMN era inteligente sem que o fosse, desde que isso contribuísse para acalmar os ânimos.

Mas JMN é inteligente ou não?

Se não for inteligente, como ficam Gualberto do Rosário (engambelado por JMN em 2001); Agostinho Lopes (derrotado em 2006); Carlos Wahnon Veiga (ultrapassado em 2011)?
Como pode um "não inteligente", como pretende o sapiente do BP, engambelar gente inequivocamente inteligente como Gualberto, Veiga e comandita?

Não pretendendo que JMN seja uma inteligência de outro mundo, ao nível de um Kissinger, de uma Hillary Clinton ou de um Marcelo Rebello de Sousa, não terá sido desmedido considerar inepta a assessoria de JCF por um Conselheiro seu ter considerado JMN suficientemente inteligente e civilizado para não entrar em briga empurrado por um qualquer, mesmo que esse seja um filhote seu?

A verdade é que, mesmo sem contar com a "inteligência pura" que assinou (?) o post, o mandato de JCF, enquanto chefe de Estado, tem sido objecto das melhores avaliações possíveis. A assessoria inepta não terá dado alguma contribuição para isso? Os posicionamentos de JCF, enaltecidos por um insuspeito João Branco e por gente dos mais variados quadrantes, políticos e geográficos, não terão contado com alguma contribuição dos ineptos assessores? A condução sublime das relações com os demais poderes, maximé com o Governo, não será resultado de uma assessoria madura e inteligente?

Não é chamando burro a JMN que ele passa a ser burro. E se ele não for inteligente, como pensa o nosso sabe-tudo, não é o facto de dizer que ele é inteligente que fará com que ele passe a ser... inteligente. Não foi por isso que ganhou 3 eleições Legislativas consecutivas. Nem isso desqualifica a assessoria do Presidente JCF.

Será que Virgínia WOLF ainda incomoda?
De todo o modo, que as inteligências puras do Facebook continuem a achar que o Zé é burro e que o Zona está mal assessorado. Em 2016 veremos quem está laborando em erro.

Thursday, November 28, 2013

FAMÍLIA, DOENÇAS CRÓNICAS E CLEPTOCRACIA INTELIGENTE
Pensar a família cabo-verdiana pelos parâmetros europeus conduz, inexoravelmente, a erros de planeamento, mormente quando o foco é a protecção social.
Nas famílias ocidentais, de que as famílias arianas da Europa do Oeste e dos Estados Unidos da América constituem o paradigma, os filhos são desligados da família com a maioridade e os idosos são encaminhados para asilos ao primeiro sinal de senilidade. Os primeiros têm mais sorte porque continuam sendo apoiados de alguma forma; os últimos levam apenas um cobertor e a garantia do pagamento das mensalidades do asilo. Tios são parentes meio afastados. Aliás, o termo tio tornou-se mais forma de tratamento de pessoas mais ou menos próximas da família e cada vez menos a referência a um laço de parentesco.
Quando sociedades como a nossa operam a importação acrítica de modelos, acaba-se por se chegar a situações esquisitas. Legislações preparadas nessas bases não raras vezes constituem letra morta, tal a força das nossas tradições e do nosso modo de relacionar e o anacronismo das situações importadas.
Uma lei que diga a um digno foguense, santantonense ou santiaguense que não tem direito a licença de nojo por morte de um primo, constituirá letra morta. Qual o foguense que não guarda "nodjado" por um primo falecido? Que santiaguense não remove montanhas para socorrer um tio em dificuldades? Que santantonense se sentiria feliz sabendo que comeu e atirou sobras aos porcos, enquanto parentes seus padecem algures?
A importação acrítica de formas de organização social está se constituindo em verdadeira ameaça à efectividade da protecção social devida pelo Estado aos seus cidadãos, mormente aos mais vulneráveis.
As famílias ocidentais sabem que podem contar com o Estado para certas e determinadas coberturas sociais com que as famílias cabo-verdianas ainda não podem contar. Mesmo hoje quando se fala da falência do Estado social nalgumas latitudes, a verdade é que as famílias, ainda assim, contam com apoios que traduziriam o sonho de consumo da larga maioria das famílias cabo-verdianas. Subsídios de inserção social, acesso gratuito a medicamentos para doenças crónicas, habitação social, subsídio de desemprego,  etc., sonho de consumo para muito boa gente entre nós, constituem regalias corriqueiras nas ditas sociedades ocidentais.
Entre nós, um tio, um primo ou um sobrinho que não tenha sido bafejado pela boa-sorte vê-se em palpos de aranha para conseguir tratamento para uma doença crónica que o acometa, seja ela a diabetes, a hipertensão e outras doenças coronárias, a aids, ou uma doença mental. Como não perceber que um sobrinho se sinta na obrigação de aviar uma receita passada em seu nome e passar os medicamentos ao tio ou tia que sofre de um mal crónico mas não tem cobertura médica e medicamentosa?
No confronto entre a sustentabilidade e a efectividade do sistema nacional de protecção social, há que torcer pela efectividade.
Efectividade significa cobertura para quantos precisem, não havendo lugar a segmentação dos cidadãos. Sustentabilidade significa capacidade de gerar e ou mobilizar recursos na medida das necessidades de financiamento. O casamento da sustentabilidade com a efectividade pode e deve ser realizado em uma sociedade como a cabo-verdiana. O Estado de Direito Democrático cabo-verdiano é, OU DEVE SER, antes de mais, um Estado Social. E em um Estado Social o sistema de protecção social deve integrar sub-sistemas contributivos e de comparticipação do Estado, a modos de se garantir a efectividade da cobertura. Tanto os contribuintes do INPS como os sem cobertura contratada têm direito à saúde, traduzida em tratamentos profilácticos e cobertura médica e medicamentosa. Cabe ao Estado, enquanto provedor da protecção social dos seus nacionais, articular as coisas de modo inclusivo, i.e., de modo a que ninguém morra à míngua de cuidados de saúde, mormente em caso de doenças crónicas e/ou degenerativas. Até lá, e em nome da solidariedade social, cabe a cada um de nós lutar com as armas ao nosso alcance para que funcione entre nós uma cobertura social efectiva e inclusiva.
O sobrinho que tem um plano de saúde que não deixe o tio morrer à míngua porque não pode comprar um medicamento que o ajuda a regular a sua pressão alta, a sua diabetes ou o seu coração com arritmia; que continue pedindo ao seu médico a prescrição dos medicamentos de que o tio precisa, nos estritos limites da sua necessidade.
O médico que continue salvando vidas, atendendo a sobrinhos solidários com o tio desprotegido; que continue a prescrever ao tio medicamentos em nome do sobrinho, nos estritos limites da necessidade do seu tratamento.
O Estado que ponha de pé um mecanismo hábil, ágil e eficaz de cobertura aos desprotegidos atingidos por doenças crónicas (e não só). Em nome de um Estado que persegue um desenvolvimento sustentável e... INCLUSIVO.
O que não está certo é que em nome da sustentabilidade de um sub-sistema - ALIMENTADO PELOS TRABALHADORES E PELOS EMPREGADORES E ADMINISTRADO, UNILATERALMENTE, PELO ESTADO - se façam apelos patéticos para que o sobrinho alinhe com o Estado (que tem a obrigação de prover cuidados de saúde e gere o subsistema contributivo)  para manter o tio excluído do tratamento de que precisa e que, PARA O TIO, faz a diferença entre a vida e a... MORTE.
E até que o Estado aja no sentido da não exclusão de nenhum cidadão cabo-verdiano, necessário se torna que não se perca de vista que a nossa noção de família não tem nada a ver com a ideia que norteia o quadro normativo dos países de onde importamos as ideias. Copiar acriticamente  as praxis dessas latitudes é uma atitude alienante que precisa ser combatida. Sejamos mais selectivos, na senda do que Peter Drucker chama de cleptocracia inteligente e que se traduz, na prática, pela apropriação de ideias inteligentes e pela sua prévia adaptação à nossa realidade cultural.
Negar o acesso a tratamento de doentes crónicos faz dos respectivos médicos meros espectadores, assistindo do consultório, manietados, à morte dos seus pacientes. Porque não têm dinheiro; porque não têm cobertura contratada; porque fica mal a um sobrinho apoiar o tio; porque a inclusão teima em não sair dos discursos para as praxis.
Até que se faça o que precisa ser feito em prol de uma maior inclusão social, estou com a Dra. VANDA AZEVEDO e não abro.

Tuesday, August 16, 2011

21 de AGOSTO: JCFxMIS e não MpDxPAICV

Nesta segunda volta é preciso que o eleitor cabo-verdiano continue igual a si próprio: esclarecido, que sabe o que quer e que não se deixa enganar sobre o que está em jogo em cada eleição.
Na eleição do próximo Domingo, 21 de Agosto, estará em jogo a escolha do homem que tenha o perfil mais adequado para ser o Chefe de Estado. Para arbitrar o tal jogo que não é entre ao Governo e a Oposição, mas entre o Governo e a tentação de fazer da Constituição letra morta.
O «jogo» a que o Presidente da República é chamado a arbitrar não é entre o Governo e a Oposição, como se pretende fazer crer. É essencialmente entre o Governo e a Constituição (e as demais leis da República).
Os eventuais choques entre a maioria e a oposição ocorrem essencialmente no Parlamento. E lá, a oposição tem um estatuto para a proteger – é o chamado Estatuto da Oposição.
A tentação de, a coberto da maioria, se achar que querer é poder; que se pode fazer o que bem se entender, e quando se entender; a tentação de se colocar acima da lei; ditou a necessidade de se dotar o sistema de um órgão – no caso o Presidente da República – com poderes para intervir em casos de eventuais omissões, excessos ou abusos de poder.
A Constituição confere amplos poderes ao Governo, mas impõe-lhe limites. Quando o Governo, no exercício desses poderes, se esquece dos limites, entra o Presidente da Republica. Para fazer o trem voltar aos trilhos.
Os poderes conferidos ao Governo, pela Constituição, são, na sua essência, para trabalhar no sentido de materializar o Estado, a Sociedade, a Justiça, a Administração Pública, as Liberdades e os Direitos Individuais, o que teria como tradução prática o Bem-estar de todos e a Felicidade geral da Nação.
E onde entra o Presidente da República?
O PR deve intervir sempre que se ponha em causa o Estado, a Sociedade, a Justiça, a Administração Pública, as Liberdades e os Direitos Individuais definidos pela Constituição e, principalmente, o objectivo principal que é o Bem-estar Geral e a Felicidade da Nação.
A escolha de Domingo próximo é entre as duas figuras que se posicionam para ser o próximo Presidente da República. Não é, e nem podia ser, entre o MpD e o PAICV. Estes tiveram o seu protagonismo nas eleições Legislativas de Fevereiro último. Só pela ingente necessidade de salvar o candidato Inocêncio de um embate directo com o seu adversário se pode pretender transformar a eleição de Domingo em mais um PAICV x MpD.
E porquê isso?
Porque sabem que entre escolher uma personalidade forte, um intelectual convicto, um homem que assume a Constituição da República como seu caderno de encargos, um paladino dos mais vulneráveis, de um lado; tendo do outro lado um homem que sempre esteve subordinado a quem seria objecto directo do essencial da função presidencial; a escolha tenderia a recair no primeiro dos dois. Como, aliás, já aconteceu na primeira volta.
Com todo o respeito que o outro candidato nos merece, mas como convencer o eleitor a escolhê-lo para uma função em que teria de exercer alguma influência sobre o seu chefe de sempre; como arbitrar, marcar livres e outras penalidades, contra o seu patrão; cadê a necessária autoridade para chamar a atenção ao líder incontestado; ousaria dizer: CUIDADO, CHEFE; ESTÁ A PISAR O RISCO?! Todos sabemos que não tem condições para travar os eventuais excessos, abusos ou omissões do homem que o tem transportado ao colo.
O engenheiro Manuel Inocêncio foi o vice de José Maria Neves no partido e no Governo; disse-se, alto e bom som, no Parlamento, que beneficiou da protecção do seu chefe para que a sua empresa abocanhasse todos os contratos de fiscalização das infra-estruturas construídas no país de 2002 a esta parte; foi trazido ao colo, pelo Presidente do PAI, para esta segunda volta das presidenciais. Como esperar que, caso o Chefe consiga colocá-lo na Presidência da República, tenha autoridade moral para travar eventuais ímpetos do impetuoso chefe e protector?
E a questão é que a função presidencial não se resume à vigilância contra eventuais violações da Constituição. O Presidente da República tem também o papel de ajudar na identificação dos altos desígnios nacionais, de transformá-los em prioridades nacionais e de mobilizar o poder e os cidadãos para dar conta de tais desígnios. Alguém consegue imaginar o engº Inocêncio trazendo alguma contribuição (para somar ao esforço do Governo) para, por exemplo, colocar como prioridades nacionais a resolução da questão energética; do abastecimento de água com qualidade; da qualidade e da oportunidade na Justiça; dos valores da Juventude e da Família. Fez parte tempo demais de um Governo que não conseguiu assumir a resolução destas questões como prioridade nacional.
Cabo Verde precisa de uma figura que assuma a função presidencial na sua plenitude, sem direito de excussão, com completa liberdade e autonomia e não, como diz o outro, um Ministro travestido de Presidente da República e submisso ao chefe de mais de 10 anos consecutivos e perante quem tem uma dívida impagável: o facto de o ter trazido à segunda volta da eleição presidencial, com métodos de VALE TUDO, em que os fins justificaram os meios adoptados e que mereceram repudio da Nação e dos observadores internacionais.
Cabo Verde é um Estado Constitucional (onde a Constituição é a base e o limite dos poderes) e há-de querer ter na Chefia do Estado uma personalidade que assume, sem hesitação, a Constituição como seu caderno de encargos.

Monday, July 25, 2011

O REAL E O CONSTITUCIONAL

Em uma Democracia Constitucional - como é o caso de Cabo Verde – a Constituição Política da República (CR) é, a um tempo, a base e o limite dos poderes.
Quer isso dizer, que todos os poderes ganham legitimidade na CR; têm os poderes estabelecidos na CR; usam os poderes da forma prescrita na CR. Isso, por um lado. Que, por outro, significa que os poderes não são absolutos, antes existem balizas claras entre as quais se movimentam; que não são válidas as acções dos poderes que forem para lá das balizas estatuídas na CR; que são ilegítimas todas e quaisquer decisões que exorbitem das balizas impostas pela CR.
Isso implica a existência de um órgão – isento, imparcial e vertical – cuja função precípua seja velar pelo estrito e rigoroso cumprimento dos ditames constitucionais, para que todos legitimem os seus poderes nos termos estabelecidos pela CR e para que ninguém extrapole os limites ditados pela CR. Esse órgão, de soberania, é o Presidente da República (PR) – Chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas.
A função principal do PR é velar pelo estrito e rigoroso respeito pela Constituição Política da República. Mas tem outras funções, qualquer delas muitíssimo importantes, definitivas mesmo, para o bem-estar de todos e felicidade geral da Nação.
Para além de velar pelo escrupuloso respeito pela CR, tem mais a função de contribuir para a materialização da CR. Quer isso dizer que, para além de garantir que todos se submetem aos limites impostos pela CR, tem ainda o dever e a obrigação de tudo fazer para que esta seja concretizada.
Por exemplo, a Constituição define o modelo de Estado e o sistema de Governo; o tipo de Sociedade, seus valores e fundamentos; a Administração Pública, seus princípios, suas regras e seu papel; a Justiça, seus actores e seu quadro legal; os direitos e as liberdades individuais e respectivas garantias; para além de um vasto leque de direitos – ao trabalho, à habitação, à educação, à saúde, à protecção do Estado, ao bom nome, etc. Compete ao Presidente da República tudo fazer para que todos os direitos, liberdades, garantias, valores e princípios se concretizem, se tornem realidade; que o Estado real, a Sociedade real, a Justiça e a Administração real sejam a tradução prática do Estado, da Sociedade e da Administração Pública modelados na Constituição.
Mas não se esgotam aí as incumbências do Presidente da República. Por exemplo, a Constituição estabelece os princípios da separação dos poderes (Legislativo, Executivo e Judicial) e da interdependência dos mesmos. Quer dizer, ao mesmo tempo que a CR estabelece que os poderes não se sujeitam uns aos outros, obriga-os a se entenderem a se complementarem para que o Estado possa dar conta da sua obrigação principal que é a criação de condições para que todos cidadãos se realizem, se façam felizes. Compete ao PR vigiar para que nenhum dos poderes invada ou subjugue os outros, ao mesmo tempo que deverá trabalhar no sentido de evitar que trabalhem de costas viradas, antes abrindo canais de comunicação e de cooperação potenciadores das suas capacidades, a modos de conseguirem a realização prática da CR com os menores custos – económicos, políticos, financeiros e sociais.
Quando se fala da crise de valores que grassa na nossa sociedade; quando se fala da crise que abala as famílias; quando se diz que precisamos melhorar a nossa Administração Pública; quando há excessos das autoridades; etc., significa que há muito que fazer para que a nossa realidade seja tão linda como foi sonhada e plasmada na nossa Constituição e significa que o PR tem de fazer alguma coisa para ajudar a remover os eventuais emperramentos. Competirá ao PR trabalhar no sentido do fomento de sinergias, racionalização de normas, patrocínio e consolidação de altos desígnios nacionais, assumidos por todos e em cuja materialização todos se deverão envolver.
Quer isso dizer que o titular do órgão de soberania Presidente da República não pode ser qualquer um. Precisa conhecer muito bem a função (sua base, seus contornos e seus limites); deve ter um muito bom conhecimento da letra, do espírito e da filosofia da Constituição Política da República; deve ser um bom comunicador (escutar bem e fazer-se entender melhor); não ter qualquer tipo relação, com qualquer dos poderes, que, de algum modo, possa enfraquecer a sua posição de árbitro e moderador do sistema; deve ter um perfil sociográfico e uma rede de relações que lhe permitem não só harmonizar o funcionamento dos três poderes, como fazê-los se complementarem e participarem tanto na identificação como na realização dos altos desígnios nacionais.
Na hora de escolher, é mister que o escolhido seja um homem que conheça bem o Estado, a Sociedade, a Justiça e a Administração Pública que temos; que conheça bem os contornos do Estado, da Sociedade, da Justiça e da Administração Pública, plasmados na Constituição; e seja capaz de encontrar as melhores formas e vias a seguir, a modos de fazer com que o real (o que temos) se aproxime do ideal, buscando coincidir com o estatuído na nossa Constituição.
PARA QUE, CADA VEZ MAIS, O PAÍS REAL FIQUE MAIS PRÓXIMO DO SONHADO E PLASMADO NA CONSTITUIÇÃO.

Wednesday, July 20, 2011

A ELECTRA E A LEITEIRA

Tivera, em tempos, um contrato com uma pequena vacaria que se comprometera a me fornecer leite bom, 7/7 dias.

As coisas nunca correram lá muito bem, mas a senhora que geria a vacaria, mui respeitável, lá nos ia mantendo como clientes.

A páginas tantas, as quebras na qualidade do leite e no fornecimento atingiram tal proporção que chamámos a senhora à pedra.

Explicou-nos que (i) tinha problemas de incompetência entre os administradores da unidade; (ii) havia pastores que vendiam leite por fora e embolsavam o dinheiro; (iii) que havia uns marotinhos que, pela calada da noite, ordenhavam as vacas e fugiam com o leite; (iv) que havia uns clientes que recebiam leite e não pagavam; e que, imagine-se! (v) algumas vacas se mamavam durante a noite, reduzindo, por isso, a produção de leite.

Explicámos-lhe que lamentávamos muito a sua desgraça, mas que nenhuma das razões apontadas justificavam deixar de entregar leite aos clientes que cumpriam a sua parte no trato. Que (i) a incompetência dos administradores não podia ser considerada uma fatalidade, porque sempre poderia pô-los com dono (se não serviam como gestores que fossem fazer qualquer outra coisa, plantar batatas, o escambau); que (ii) a traição dos pastores poderia ser sanada com a recolha de provas e subsequente desligação dos mesmos (e que a relação de trabalho com os novos contratados devia ser mais flexível, a modos de, por exemplo, permitir a desligação dos infiéis); que (iii) para o caso do furto do leite, devia arranjar uns cães ferozes, chamar a POP e a Judiciária, e mesmo contratar um corpo de vigilantes; que (iv) em relação aos clientes relapsos devia cortar-lhes o fornecimento do leite e accioná-los na justiça para o pagamento das dívidas; e que (v) para o caso das vacas que se mamavam a saída seria umas “pescoceiras” e uns “barbitches” que as impedissem de se mamarem e de mamarem umas nas outras. Pareceu não gostar muito, mas ficou calada.

Porém, quando as coisas se agudizaram e a clientela se organizou para protestar contra o incumprimento reiterado do contrato por parte da vacaria, um dos administradores achou-se no direito de nos recomendar que em vez de protestar contra a vacaria o melhor que tínhamos a fazer era (i) esquecermos da incompetência dos administradores porque se eram mantidos lá por décadas e mais décadas devíamos presumir que seria por eles serem uns nec plus ultra, uns bambambans da gestão; (ii) vigiar os pastores que remavam contra a vacaria, vendendo leite por fora; (iii) convencer os miúdos que furtavam a leitaria a deixar de fazê-lo; (iv) a fazer uma manifestação contra os clientes que não estavam pagando o leite que consumiam; e que, na medida do possível, (v) devíamos colaborar com a vacaria para ajudar no controlo das vacas que se mamavam e mamavam umas nas outras.

Na altura, não mandei a administradora pastar, chatear à leviana da sua progenitora, ou ir lavar as suas partes, tendo em consideração que já tinha umas repas de cabelo branco e, principalmente, porque sou um cavalheiro.

Mas agora, aparece-me um administrador da empresa de electricidade e água com a mesma lenga-lenga. Que o melhor que os consumidores tinham a fazer era se manifestarem contra aqueles que furtam energia da rede, os que não pagam as suas contas em dia, os que, trabalhando na empresa, remam contra ela.

O administrador em causa tem já cãs e calva na cabeça mas não escapará a que o mandemos chatear à leviana e badalhoca da progenitora. Se se confessa impotente para resolver os problemas da empresa, devia era deixar o cargo para quem saiba e possa, indo trabalhar naquilo que percebe, plantar batatas, em último caso. Endossar as suas responsabilidades para os consumidores é que não. É o cúmulo da falta de vergonha na cara. Que monte armadilhas aos seus técnicos que fazem ligações clandestinas; que compre cão, apele pela PN, pela PJ, contrate um corpo de “Guarda-fios”; que contrate a empresa do Abner de Pina ou a do Mário Silva, ou ambas, para lhe cobrarem as dívidas difíceis; mas que, em relação aos clientes com contas em dia, só tem uma coisa a fazer – FORNECER ÁGUA E ENERGIA ELÉCTRICA DE FORMA INITERRUPTA E EM BOAS CONDIÇÕES DE USO. PONTO FINAL.

A ELECTRA não tem crédito junto dos fornecedores de peças de reposição; não tem crédito na banca; não tem crédito junto da ENACOL e da SHELL; não tem crédito junto da sociedade cabo-verdiana. E já estou a ver o espertalhão, na comunicação social, responsabilizando os clientes, os cidadãos, as associações pela regularização das suas relações com os credores. Haja saco!

Os clientes da ELECTRA deviam era exigir, aos accionistas da empresa, a imediata destituição do administrador ou administradores que, em vez de fazerem o que deve ser feito, passam o tempo empurrando os problemas com a barriga ou – E ESTA PARECE SER UMA NOVA TÁCTICA – endossando as responsabilidades aos clientes da empresa.

Thursday, July 14, 2011

MUITOS SERÃO CHAMADOS, MAS SÓ UM FICARÁ

Reza a Bíblia (Mateus, 22:14) que muitos serão chamados, mas poucos serão escolhidos. E a parábola explica muito bem porque uns são escolhidos e outros não.


Para a eleição presidencial do próximo dia 07 de Agosto (dia de S. Caetano) chamados estavam todos os cabo-verdianos com mais de 35 anos de idade que estivessem no pleno uso dos seus direitos cívicos e políticos. Atenderam ao chamado Jorge Carlos de Almeida Fonseca e o grupo de nacionais que o apoiam; Aristides Raimundo Lima e seus apoiantes; Manuel Inocêncio Sousa e seus apoiantes; David Hopffer de Cordeiro Almada e seus apoiantes; e Joaquim Monteiro e os seus apoiantes.

A redução começou bem cedo.


1. David Almada e seus apoiantes deixaram de ter um projecto próprio. Não tendo conseguido o apoio do seu partido (o PAICV), desiste da corrida, deixando muita gente na corrida para granjear o seu apoio (pessoal e do grupo que o incentivava);

2. Jack Monteiro e o «seu povo» parecem ser os próximos a deixar a corrida. Sem um projecto presidencial, com um deserto de propostas para o Estado, a Sociedade e a Administração Pública, talvez nem garanta os votos dos subscritores da sua candidatura;

3. Manuel Inocêncio Sousa, candidato oficial do PAICV, não tem verbo. Mostra grandes dificuldades no discurso, deixando claro não ter participado da sua montagem. Foge aos despiques, não imaginando que isso é a pior coisa que se pode fazer em uma campanha para a presidência da República. Os debates e a proposição de um estilo de exercício do mandato são as duas grandes «promessas» que se esperam de candidatos que não concorrem para governar, antes se disponibilizam para agilizar o funcionamento integrado e harmonioso das instituições da República, assumindo-se como guardião da Constituição, fautores da coesão nacional e fomentadores da realização dos grandes desígnios nacionais, maximé do Estado e da Sociedade plasmados na Constituição. Quem não convencer nesses aspectos não pode, não deve, chegar lá. E, pelo andar da carruagem – conquanto a afinadíssima máquina de campanha do PAICV ainda não tenha atingido a velocidade de cruzeiro – estou em crer que Inocêncio deixará a corrida no dia 07 de Agosto;

4. Aristides Lima e Jorge Carlos Fonseca disputarão uma renhida segunda volta. Qual das duas candidaturas será um mal menor para José Maria Neves, seu Governo e pessoal da Lista J, alargada? Aristides Lima, QUE SE GANHAR, terá os seus Generais, em pouco tempo, disputando a liderança do partido a JMN? Ou Jorge Carlos Fonseca, que pode permitir a JMN dizer, com propriedade, «MEUS SENHORES, ESTRAGARAM TUDO COM A VOSSA ATITUDE; AGORA VAMOS A CONGRESSO REVERIFICAR A LEGITIMIDADE PARA DIRIGIR O PARTIDO»? Uma eventual e inusitada aposta de JMN em ARL, seria entregar-se de bandeja aos adversários e a confissão de que falhou estrondosamente na frente interna (do partido, leia-se); enquanto que apoiar o amigo JCF, um democrata leal, um fervoroso defensor da ordem constitucional e que não tem contrapartidas a pagar pelos apoios recebidos, significa poder renovar o partido, rectificar a correlação de forças existente internamente, traduzir isso na nova composição dos órgãos nacionais e dos regionais de maior expressão, continuar a governar sem sobressaltos e, sobretudo, encarar o desafio presidencial já em 2016. A minha aposta vai no sentido de que JMN deixará cair ARL. Não com uma declaração aberta de apoio, nem com instruções públicas de sentido de voto, mas com uma eloquente liberdade de voto aos seus indefectíveis e apoiantes da candidatura de MIS.

5. E assim, dos muitos chamados, só restará JORGE CARLOS DE ALMEIDA FONSECA, eleito, democraticamente, Presidente da República das ilhas de Cabo Verde (e da sua indissociável Diáspora).

(PARÊNTESE) Pessoalmente - se fosse candidato e estivesse na situação privilegiada em que o ZONA se encontra - daria garantias a Carlos Veiga e a José Maria Neves de que estaria interessado em apenas um mandato, a ser exercido de forma magistral e pedagógica, a modos de servir de referência para o futuro. Assim agindo, contaria, a um tempo, com um apoio mais entusiástico, mais real e mais aguerrido, da máquina de campanha e dos «soldados» do MpD (tem-no já dos Generais); e garantiria o apoio de JMN no segundo turno. Quitação antecipada. Mas eu sou eu, um blogueiro, pouco menos que anónimo, que se atreve a pôr-se na pele de um presidenciável; e ZONA é um político com quilómetros nas pernas e um cérebro de eleição, contando, ainda, com um corpo grande de conselheiros bem batidos nestas andanças.

6. E todos viveriam felizes… até às chamadas para 2016. No atendedor, duas figuras fundamentais: CARLOS ALBERTO WAHNON DE CARVALHO VEIGA e JOSÉ MARIA PEREIRA NEVES. Mesmo que só estes, e respectivos apoiantes, atendam ao chamado, só um restará. Mas isso são contas de outro rosário. Até lá.

Wednesday, July 13, 2011

NOVO MEIO DE PAGAMENTO PARA A ELECTRA

E se decidisse pagar as minhas contas de água e energia eléctrica com vales-combustível? Se, de posse da factura da ELECTRA, me dirigisse aos escritórios da ENACOL e adquirisse o valor da minha conta em Fuel oil e Gasoil e fosse fazer a quitação nos balcões da empresa de electricidade e água? Vales-combustível pelo consumo mensal de água e energia!
E se o pessoal da minha rua decidisse me acompanhar nesse protesto sui generis, entregando nas Tesourarias da ELECTRA vales-combustível pelo consumo mensal de água e energia?
E se a torcida de “Os Travadores” (os Índios da Capital) se juntassem a esse movimento inédito e inusitado?
E se os capitalinos – indubitavelmente, as maiores vítimas das ineficiências, da ineficácia e da inefectividade da ELECTRA – resolvessem pagar o consumo mensal de água e energia eléctrica com vales-combustível?
Seria o bom e o bonito ver a confusão que se geraria na empresa. Cortar o fornecimento a todo o mundo? Impensável! Afinal, os cortes “habituais” não são justificados com a falta de dinheiro para comprar combustível? Como justificar, então, corte de fornecimento a pessoas que decidiram em pagar em espécie, utilizando exactamente aquilo cuja falta vem sendo apontado como razão para os cortes?
Porque cargas d’água pensa um fulano numa saída dessas? É que um fulano, um consumidor - que seja também titular de umas obrigações da ELECTRA – no mês de Junho, quando os cortes eram justificados por falta de dinheiro para comprar combustível, viu cair na sua continha o valor dos cupões das obrigações da ELECTRA, entretanto vencidos. Na hora certa! Quer isso dizer que os compromissos com um fulano, enquanto titular de obrigações, são respeitados religiosamente, o mesmo não se dando em relação ao fulano, enquanto consumidor. Conclusão legítima ou não?
Bem… Se as coisas estão assim por ocasião do pagamento de uns cuponzinhos vagabundos (uns juros à volta dos 6%), o que acontecerá quando chegar a hora de devolver o capital aos credores dos empréstimos obrigacionistas? E isso está aí chegar, depois da curva, em relação aos empréstimos a 5 anos. Haverá, na ocasião, dinheiro para pagar as obrigações e para comprar Fuel oil e Gasoil? Quem será sacrificado, o consumidor ou o credor? Na lógica do que tem acontecido, acontecerá um apagão e tanto. Unless…
A não ser que
… comecemos, desde já, a pagar as contas com vales-combustível. Não vá o diabo tecê-las…